Se
com o fim da Goody, alguns temiam o que 2019 iria ser, parece-me
que o ano em curso está
a ultrapassar (muit)as
expectativas, com as boas - e muito boas - edições a sucederem-se.
A
mais recente é Comanche,
uma das traves mestras do meu desenvolvimento enquanto leitor de BD,
e esta edição cumpre bem os meus sonhos - utópicos - de ‘quando
um dia for editor...’
Não
sei quando descobri Comanche
- e Red Dust, o verdadeiro protagonista - mas sei que a/o fui lendo
ao sabor dos álbuns portugueses que - à revelia
da sua ordem cronológica - me iam caindo nas mãos. Mais tarde,
completada colecção com as edições originais franco-belgas
inéditas
em português,
a leitura ordenada do conjunto possibilitou uma visão mais completa
e abrangente e a confirmação de que estava perante uma das grandes
séries de BD ambientadas no velho Oeste.
Sendo
eu, desde sempre - ou quase? - amante de western, foi com Comanche
- e Red Dust, friso de novo - que descobri que o género podia
oferecer mais - muito mais - do que grandes cavalgadas, duelos
emocionantes, tiroteios cerrados, perseguições e confrontos entre
brancos e brancos
ou estes e os índios.
Que
estão todos presentes - em doses generosas, embora variáveis - em
Comanche,
mas onde descobri(mos) também que o herói nem sempre vence, que a
rapariga pode
não
ficar
com ele, que o que é certo e a justiça nem sempre caminham de mãos
dadas, que esta última é muitas vezes cega.
E
que o mais selvagem dos animais é sempre o homem - e por vezes a única forma de os tratar é como tal - e que a ganância, a
prepotência, o racismo ou a simples - simples? - sede de sangue
justificam, para muitos, comportamentos arrepiantes e nada
civilizados, de que ninguém está ao abrigo ou livre.
Tudo
isto, está
já
presente
neste volume inicial, que
se noa apresenta centrado
na chegada do cowboy solitário Red Dust ao rancho 666, gerido pela
indomável - jovem, mestiça
- Comanche, e a constituição da sua equipa base, com o velho Ten
Gallons, o negro Toby, o imberbe Clem e o pele-vermelha Raio de Luar.
As
diferenças de pele e temperamento, as ameaças veladas da
civilização que se aproxima sem pedir licença nem respeitar nada
nem ninguém, a fome, a exploração, as vinganças e a ameaça do
bando sanguinário
dos irmãos Dobbs -
de um seu misterioso aliado… - ,
são os ingredientes seguintes destes primeiros quatro álbuns,
reunidos neste integral.
Construído
como ‘falsos’ episódios curtos de 8 páginas, Comanche
apresenta um ritmo próprio, bastante pausado para um western, muitas
vezes introspectivo, com tempo para respirar e olhar os magníficos
cenários desenhados
por Hermann
É
verdade que Greg tem algumas tiradas grandiloquentes, que hoje soam
um pouco forçadas, mas que se desculpam face ao conjunto com que nos
presenteia.
E, para os amantes do western puro e duro, uma chamada de atenção para duas cenas fundamentais presentes neste integral, mais precisamente dois duelos, aqueles em que Dust enfrenta Kentucky - virá mais à frente uma bela história curta que torna (ainda) mais dramático este confronto - e o final, com Russ Dobbs.
E, para os amantes do western puro e duro, uma chamada de atenção para duas cenas fundamentais presentes neste integral, mais precisamente dois duelos, aqueles em que Dust enfrenta Kentucky - virá mais à frente uma bela história curta que torna (ainda) mais dramático este confronto - e o final, com Russ Dobbs.
A
edição
1.
Integral
Comanche
é o primeiro ‘verdadeiro integral franco-belga’ em português.
Já tivemos diversos volumes duplos, já tivemos algumas edições
integrais de comics, mas este - não tivesse tantas mais qualidades -
ficaria com o
mérito de ser o
o primeiro oriundo do mercado francófono, tal
como os entendemos actualmente.
Para
além disso, apresenta uma qualidade (quase) insuperável: tamanho
grande, boa encadernação, excelente papel de gramagem generosa, uma
impressão sem defeitos, com os negros bem negros a contrastarem na
brancura do papel.
2.
Cor ou pb?
Esta
edição de Comanche
é a preto e branco. Muitos já reclamaram por isso. Pessoalmente, no
caso destes quatro álbuns iniciais, prefiro de longe este soberbo
preto e branco de Hermann - apesar
de algyumas personagens atarracadas, aqui e ali em Red
Dust
- do
que as cores originais
datadas
e em que abundam vinhetas de tom quase único. Mais para a frente,
poderei até ter outra opinião, mas a verdade é que Comanche
a preto e branco é uma bela opção. [E desenganem-se os que queriam
apreciar a cores o ‘céu vermelho sobre Laramie’, a versão
original colorida mostra-o de passagem numa prancha, e o resto da
acção decorre de noite...]
Expresso
o meu gosto pessoal, de um ponto de vista comercial a minha opinião
poderá ser outra, pois sob essa óptica parece-me que a edição
colorida - de uma obra criada a cores - será sempre mais vendável
que a versão em preto e branco: para os saudosistas da série, foi
assim que a descobriram; para (muitos d)os jovens leitores, o preto e
branco parece sempre arcaico e ultrapassado; para um leitor eventual,
a cor é sempre mais atractiva que a ausência dela, mais a mais num
volume com o preço deste - que não ponho em causa.
Em
termos de custo a diferença por volume seria assim tão
significativa? As opiniões que recolhi dizem que não...
3.
Dois ou três volumes
Esta
é outra discussão - aos meus olhos estéril - que este volume
levantou. Se já não será fácil vender uma obra de
BD cujo
custo ultrapassa os 30 €, alguém acredita realmente que ela seria
mais facilmente escoada em volumes a 50 €? Há que lembrar que
mesmo edições com o peso nostálgico desta, terão de apontar
sempre além do núcleo duro que cresceu com
Comanche.
Comanche
Inclui
os álbuns Red Dust, Os Guerreiros do Desespero, Os Lobos do Wyomig e
O Céu está vermelho sobre Laramie
Greg
(argumento)
Hermann
(desenho)
Ala
dos Livros
Portugal,
Abril de 2019
235
x 310 mm, 200 p., cor, capa dura
32,90
€
Acho uma iniciativa arrojada, que merece todo o nosso apoio e entusiasmo. Convém dizer que o formato final não respeita as dimensões do original (267*340). Não sei se faz muita diferença, teria de ter os dois na mão para poder dizer, se calhar até se torna mais legível. Tenho as do Thorgal, gosto muito do formato original.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarEstive a folheá-lo, pareceu-me uma boa edição. O formato mais pequeno retira alguma espectacularidade às pranchas (por comparação com o Thorgal, que tenho e li o 1º vol. no formato maior da Niffle), mas torna a leitura, e particularmente o manuseamento, mais fáceis. Boa ideia o partir em 3 vols, 32.90€ parece-me um preço adequado
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