Franquin (argumento e desenho)
Greg (argumento)
ASA (Portugal, Maio de 2012)
215 x 300 mm, 48 p., cor, cartonado
13,90 €
Em busca de Fantásio, raptado por engano, Spirou parte para
Bretzelburgo, um pequeno país que vive sob uma ditadura militar.
Desenvolvimento
Como muitos da minha geração, dei os primeiros passos aos
quadradinhos com as revistas Disney e da Turma da Mônica e também com os álbuns
de Astérix e Lucky Luke. Com estes, de certa forma, a BD franco-belga – minha principal
futura referência - marcava terreno. Tintin, viria mais tarde. Spirou, também,
mas em álbuns de Fournier – longe, portanto, dos seus melhores períodos – pelo
que nunca constituiu para mim uma série de eleição.
Claro que, anos depois, descobri os álbuns escritos e desenhados
pelo genial Franquin - muitos dos quais verdadeiras obras-primas que continuo a
reler com deleite – assentes num humor delicioso, um imaginário fantástico e um
magnífico sentido de aventura – sempre combinados em doses diferentes - mas já
era tarde para que o groom e o seu colérico amigo Fantásio me pudessem marcar emocionalmente,
limitando-se – e não é pouco – a uma forte impressão mais racional.
Este “QRN sobre Bretzelburgo” é uma daquelas jóias. Criado
por Franquin – com uma mãozinha de Greg – logo após o magnífico interlúdio “Bravoles Brothers”,
de certa forma arranca no mesmo tom humorístico, com um longo e irresistível gag
em torno de um mini-rádio.
Este fará a ligação para a trama central, em que (aparentemente)
predomina a aventura, narrada em ritmo acelerado, de cortar a respiração, com o
foco da acção a saltar alternadamente entre os acontecimentos protagonizados em
locais e condições diferentes por Spirou e por Fantásio, com uma assinalável
mestria narrativa.
Mas, a este mote aventuroso - e por isso incluí atrás aquele
“aparentemente” – sobrepõe-se e predomina neste álbum um tom profundamente irónico
pois, a reboque daquele pretexto, Franquin e Greg aproveitam para ridicularizar
não só os regimes totalitários – e na época eles eram muitos… - e as suas bases
– militarismo, tortura, espionagem, delações, opressão… - bem como tudo aquilo
que a eles possa ser de alguma forma associado, nem que isso seja a resistência,
a luta pela liberdade ou as aspirações (legítimas) dos oprimidos, numa
surpreendente subversão de uma banda desenhada grande público que era publicada
numa revista infanto-juvenil…!
A reter
- A ironia, a mordacidade, o sarcasmo e o humor com que a
dupla de autores retrata uma ditadura e os seus efeitos colaterais (como se
diria hoje).
- O dinamismo e a agilidade do traço nervoso e expressivo de
Franquin.
- A oportunidade da edição da ASA, repondo um título que entre
nós tinha tido uma única edição – da Arcádia - há 35 anos.
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