Kwangala Connection
Eric Borg (argumento)
Renart (desenho)
Casterman/KSTR (França, Junho de 2012)
190 x 227 mm, 128 p., cor, cartonado
16,00 €
Resumo
A aguardada continuação de Rocher Rouge, iniciado em 2009 com
uma escapada de um grupo de jovens para uma ilha deserta paradisíaca, que se
transformou em horror e massacre.
Agora, descobrimos que Eva e JP escaparam ao seu destino e
estão apostados em vingar-se de forma cruel e atroz dos seus carrascos de então.
Desenvolvimento
Este livro – melhor, o primeiro tomo desta série
– tem para mim um significado especial. Foi devido à sua leitura – à necessidade
premente que senti de partilhar essa experiência com outros - que este blog
nasceu.
Não terá sido propriamente a primeira pedra de As Leituras
do Pedro – porque a ideia então já há germinava há algum tempo - mas antes uma
espécie de gota que fez transbordar o copo e deu o impulso de que eu necessitava.
A acção deste segundo tomo – possível mas não obrigatório face
ao desfecho do primeiro – começa poucos dias depois do seu trágico final. A
ligação estabelecida por Borg – que nasce logo na capa, que retoma uma das
imagens fortes do primeiro livro - é credível e consistente. Pistas que aparentemente
não o eram revelam o seu significado, sinais espalhados pelas últimas cenas
ganham uma nova leitura.
Ao mesmo tempo, o âmbito da acção alarga-se. São reveladas
ligações entre o tráfico de órgãos humanos com origem na tal ilha e o governo
estabelecido de Kwangala, introduzem-se novas personagens e descobrimos que a
terrível experiência vivida pelos seis jovens amigos afinal deixou dois
sobreviventes, JP e Eva.
Que, de regresso à ilha, vão encontrar os seus algozes e
devolver, com redobrada violência e atrocidade, mais do que aquilo que
sofreram, em páginas com sangue a rodos que justificam o epíteto de terror que
esta BD pode facilmente ostentar, reforçado pelo clima de tensão e a ansiedade
que perpassam por muitas das suas páginas.
Só que, quando pensávamos que tudo tinha já terminado – mais
uma vez – Borg tem o condão de nos voltar a surpreender, com um inesperado
desenvolvimento que – e esse é o ponto mais fraco deste díptico – culminará de
forma elíptica à boa maneira dos filmes de terror série B.
Neste regresso a Rocher Roug,e Borg abandona a parceria com
Sanlaville (ou terá sido o contrário?), surgindo Renart como responsável gráfico
da obra.
Da inevitável comparação com o primeiro tomo, se em termos
de cores pouco ou nada há a dizer – pois continuam vivas, intensas e fortes, embora
menos planas, perfeitamente justificadas pelo clima tropical e exótico em que a
acção decorre – em termos de desenho senti algumas saudades.
O traço de Sanlaville era sensual, expressivo, preciso,
quase uma linha clara um pouco distorcida.
Agora, Renart, se mantém uma planificação dinâmica e ágil – embora
lhe faltem as mudanças bruscas de pontos de vista que Salanville impunha com a
utilização de ousados picados e contrapicados - e apresenta um grafismo mais
solto, também revela um traço menos pormenorizado, menos expressivo (, menos
seguro…?), mais próximo do esboço, o que nalgumas cenas acaba por ter o efeito
contrário ao desejado, diluindo num todo mais impreciso os pontos fulcrais das
cenas que deveriam ter mais impacto.
A reter
- As boas recordações que este livro despertou em mim, pelo significado
de Rocher Rouge na génese deste blog.
- A perfeita ligação que Borg estabelece entre a acção dos
dois tomos.
- O ritmo elevado e o alto nível de suspense que se mantêm…
Menos conseguido
- … apesar do final algo simplista, daqueles que se utilizam
quando não se sabe bem o que fazer …
- … e da menor espectacularidade gráfica deste volume, em
perda na inevitável comparação com o tomo original.
Sem comentários:
Enviar um comentário