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11/09/2012

Crematorium

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eric Borg (argumento)
P-H Gomont (desenho)
Casterman/KSTR (França, Agosto de 2012)
190 x 277 mm, 128 p., cor, cartonado
16 €
 
 
 
Resumo
Concretizando um reencontro há muito marcado, algures numa vilazinha perdida na França profunda, Théo e Clara evocam recordações e preparam uma vingança que esperou muitos anos.
 
Desenvolvimento
Théo e Clara são as personagens centrais deste romance negro desenhado. Claramente desequilibrados, marcados pela vida e disfuncionais, desde o início deixam o leitor em dúvida sobre os laços que os unem.
O reencontro, após a saída de Théo da prisão, é atípico, parecendo mais forte o seu objectivo do que propriamente o reatar da relação.
Com uma introdução (relativamente) longa e alguns saltos ao passado que nos ajudam a compreender – ou pelo menos a aceitar – os comportamentos errantes e anti-sociais de Théo e Clara e porque regressam a uma terra marcada pelo abandono, que os esqueceu – ou quis esquecer? – a história, apesar de um certo tom depressivo,  acaba por prender o leitor, pelas dúvidas quanto à forma como vai evoluir.
Aos poucos – também com a entrada em cena de um gang local que não hesita em utilizar meios extremos para se impor - o ritmo vai crescendo, os acontecimentos precipitam-se e a violência explode, de forma amoral, explícita mas nem sempre justificada, conduzindo o leitor para um final inesperado, cru e chocante, que obriga a uma segunda leitura à luz das revelações entretanto feitas, mas que não esconde algumas insuficiências no argumento que deixa algumas pontas por atar.
Sem deslumbrar, o traço anguloso e propositadamente pouco preciso de Gomont revela-se de uma grande agilidade e bastante expressivo, o que ajuda a dar consistência ao todo.
 
A reter
- A paleta cromática utilizada, voluntariamente limitada tons frios – mesmo quando impera o vermelho do sangue – que define o tom das cenas.
- A eficácia narrativa do traço de Gomont apesar de algumas limitações.
- O desfecho surpresa e o retrato convincente do casal que protagoniza Crematorium.
 
Menos conseguido
- Algumas oscilações de ritmo e algumas indefinições na narrativa, que complicam um pouco a vida ao leitor.
 
 

20/06/2012

en Silence













Audrey Spiry
Casterman/KSTR (França, Junho de 2012)
190 x 277 mm, 140 p., cor, cartonado
16,00 €




Resumo
Verão, sul de França. Um grupo de amigos – dois casais, um deles com duas filhas – e um guia vão passar o dia a fazer canyoning (um desporto que consiste em explorar e descer um rio, a pé ou a nado, transpondo os diversos obstáculos físicos – rochas, quedas, rápidos – que vão surgindo).
Aquilo que parece vir a ser um dia diferente e bem passado, servirá a Juliette para repensar a sua vida e a sua relação com Luis, muito próxima do ponto de ruptura.

Desenvolvimento
O tema não é novo – é cada vez mais recorrente em muitas obras de BD (dita de autor) recentes – mas vale sobretudo pela abordagem extremamente original utilizada por Audrey Spiry, que aqui  se estreia de forma surpreendente em banda desenhada (e onde se adivinha a sua origem no mundo da animação, onde desenvolve a sua actividade profissional).
Antes de desenvolver aquela ideia, quero dizer apenas que entre Luis e Juliette, mais do que qualquer outra coisa, foi a vida que se interpôs entre eles. A diferença de idades e a vida profissional – ela é recém-formada, em busca de emprego; ele trabalha há alguns anos no cinema e cada novo projecto ocupa-o de forma total durante meses – as ambições e os desejos – a ternura, os filhos, o conceito de família…
Isto é o que vamos apreendendo ao longo do relato – longo e bem mais denso do que a significativa ausência de texto deixa prever e que reforça o silêncio (o isolamento, a solidão) que Juliette experimenta – durante o qual vai havendo um contraponto entre o relacionamento dos dois casais e nos vamos embrenhando nos pensamentos de Juliette, da mesma forma que ela se embrenha nos labirintos do rio.
Porque, toda a narrativa é uma imensa metáfora da vida, com os seus momentos calmos e os de maior pressão e ansiedade, os diferentes caminhos que podemos escolher – ou que nos escolhem – os obstáculos e desafios que surgem, os êxitos (sempre passageiros?), as quedas (bruscas) que damos, os buracos sem fundo, o solo instável no qual nos sentimos a afundar, tudo o que nos puxa para baixo, nos oprime e nos parece tirar o ar.
Uma metáfora acentuada – assente mesmo - no desenho fluído e dinâmico da autora (feito em cor directa), que parece ter vida própria e (se) molda às situações e aos momentos, mas também às emoções e aos sentimentos, ultrapassando os limites físicos do espaço e das personagens, que distorce, molda e dilui, tornando-as esguias ou pequenas, omnipresentes ou poderosas, um ponto no espaço ou uma mancha que tudo cobre, consoante o que pensam, sentem, recordam, experimentam no rio (a vida) em que estão à superfície ou submersas.

A reter
- Confesso já ter lido muitos romances desenhados – muitos deles notáveis e marcantes - mas poucas vezes o termo “romance gráfico” fez tanto sentido para mim como no caso deste “en Silence”, no qual o grafismo tem um papel narrativo fundamental e transcendente.
- Pois, neste álbum, cada imagem ou sequência tem pelo menos duas leituras: a imediata, relacionada com a descida física do rio, e uma outra, mais profunda, que nos mostra retratados de forma visível conceitos abstractos como impressões, sensações, emoções, momentos, amor, solidão, ternura, medo, desejo, ansiedade...
- A cor (que é ao mesmo tempo traço) de Spiry, feita de tons fortes e aguados, com uma imensa paleta de tons e matizes, que dilata o autêntico convite aos sentidos que cada prancha já é.


13/06/2012

Rocher Rouge #2

Kwangala Connection











Eric Borg (argumento)
Renart (desenho)
Casterman/KSTR (França, Junho de 2012)
190 x 227 mm, 128 p., cor, cartonado
16,00 €

Resumo
A aguardada continuação de Rocher Rouge, iniciado em 2009 com uma escapada de um grupo de jovens para uma ilha deserta paradisíaca, que se transformou em horror e massacre.
Agora, descobrimos que Eva e JP escaparam ao seu destino e estão apostados em vingar-se de forma cruel e atroz dos seus carrascos de então.

Desenvolvimento
Este livro – melhor, o primeiro tomo desta série – tem para mim um significado especial. Foi devido à sua leitura – à necessidade premente que senti de partilhar essa experiência com outros - que este blog nasceu.
Não terá sido propriamente a primeira pedra de As Leituras do Pedro – porque a ideia então já há germinava há algum tempo - mas antes uma espécie de gota que fez transbordar o copo e deu o impulso de que eu necessitava.

A acção deste segundo tomo – possível mas não obrigatório face ao desfecho do primeiro – começa poucos dias depois do seu trágico final. A ligação estabelecida por Borg – que nasce logo na capa, que retoma uma das imagens fortes do primeiro livro - é credível e consistente. Pistas que aparentemente não o eram revelam o seu significado, sinais espalhados pelas últimas cenas ganham uma nova leitura.
Ao mesmo tempo, o âmbito da acção alarga-se. São reveladas ligações entre o tráfico de órgãos humanos com origem na tal ilha e o governo estabelecido de Kwangala, introduzem-se novas personagens e descobrimos que a terrível experiência vivida pelos seis jovens amigos afinal deixou dois sobreviventes, JP e Eva.
Que, de regresso à ilha, vão encontrar os seus algozes e devolver, com redobrada violência e atrocidade, mais do que aquilo que sofreram, em páginas com sangue a rodos que justificam o epíteto de terror que esta BD pode facilmente ostentar, reforçado pelo clima de tensão e a ansiedade que perpassam por muitas das suas páginas.
Só que, quando pensávamos que tudo tinha já terminado – mais uma vez – Borg tem o condão de nos voltar a surpreender, com um inesperado desenvolvimento que – e esse é o ponto mais fraco deste díptico – culminará de forma elíptica à boa maneira dos filmes de terror série B.
Neste regresso a Rocher Roug,e Borg abandona a parceria com Sanlaville (ou terá sido o contrário?), surgindo Renart como responsável gráfico da obra.
Da inevitável comparação com o primeiro tomo, se em termos de cores pouco ou nada há a dizer – pois continuam vivas, intensas e fortes, embora menos planas, perfeitamente justificadas pelo clima tropical e exótico em que a acção decorre – em termos de desenho senti algumas saudades.
O traço de Sanlaville era sensual, expressivo, preciso, quase uma linha clara um pouco distorcida.
Agora, Renart, se mantém uma planificação dinâmica e ágil – embora lhe faltem as mudanças bruscas de pontos de vista que Salanville impunha com a utilização de ousados picados e contrapicados - e apresenta um grafismo mais solto, também revela um traço menos pormenorizado, menos expressivo (, menos seguro…?), mais próximo do esboço, o que nalgumas cenas acaba por ter o efeito contrário ao desejado, diluindo num todo mais impreciso os pontos fulcrais das cenas que deveriam ter mais impacto.

A reter
- As boas recordações que este livro despertou em mim, pelo significado de Rocher Rouge na génese deste blog.
- A perfeita ligação que Borg estabelece entre a acção dos dois tomos.
- O ritmo elevado e o alto nível de suspense que se mantêm…

Menos conseguido
- … apesar do final algo simplista, daqueles que se utilizam quando não se sabe bem o que fazer …
- … e da menor espectacularidade gráfica deste volume, em perda na inevitável comparação com o tomo original.


18/01/2012

In the name of…












Will Argunas
Casterman/KSTR (França, 11 de Janeiro de 2012)
192 x 279, 112 p., cor, cartonado
16,00 €


Resumo
2015. Houston, nos Estados Unidos, vive um momento sem precedentes aguardando a chegada do novo papa, Nélson I, um negro de origem africana. Mas rapidamente o ambiente de festa se transforma em pesadelo quando ele tomba, vítima de tiros provenientes da multidão.
O FBI reage prontamente e prende três homens encontrados com armas telescópicas. Para descobrir qual deles é o verdadeiro assassino, é chamado o agente Morgan Jackson, também ele negro.

Desenvolvimento
O que primeiro chama a atenção, neste livro de traço semi-realista, não especialmente chamativo, mas elegante e bastante funcional, é a interessante ligação que o autor consegue estabelecer entre a realidade presente e este futuro (muito próximo) que ele ficciona, pois entre ambos existem suficientes elos de ligação, uns reais, outros inventados mas perfeitamente plausíveis: a eleição de um papa negro na sequência do papado desastroso e repleto de escândalos de Bento XVI, as dificuldades de reeleição de Obama, as referências à crise financeira, a utilização de Larry King, o pivot da CNN, para reportar o que vai acontecendo…
Isto dá ao argumento, globalmente bem trabalhado e desenvolvido, uma credibilidade assinalável que o torna bastante estimulante quando conjugado com a indiscutível força do seu pressuposto base.
Faltou, talvez, explorar/explanar um pouco melhor os problemas de solidão (e que mais…?) da agente especial Leslie Forge, designada para acompanhar Jackson, e, especialmente, os problemas deste último com mulheres e álcool – pois trata-se de um alcoólico em recuperação… - o que justifica a forma como reage à pressão que é colocada sobre ele.
Apesar disso, o leitor é rapidamente agarrado pela história, pois à medida que esta se vai desenrolando e alguns aspectos vão sendo esclarecidos, outros mais ficam na sombra, espicaçando a curiosidade de quem lê. Curiosidade que, no entanto, tem de obedecer à cadência imposta pelo autor que obriga a uma leitura dinâmica mas de ritmo não muito elevado, para que o leitor se aperceba quer dos elementos evidentes, quer daqueles presentes nas entrelinhas ou no desenho…
… isto, até ao golpe de teatro final (ou quase…) que subverte toda a narrativa e deixa desconcertados quer os protagonistas – que aos poucos se apercebiam de que havia demasiados elementos que não encaixavam no quadro global – quer os leitores - que não podem senão ser surpreendidos.
Para Argunas, depois, em jeito de epílogo, proporcionar a explicação final deste conseguido policial aos quadradinhos, mais uma vez perfeitamente coerente com a actualidade e com a história recente (só recente?) da grande multinacional – que tem de ser lucrativa - em que se transformou a Igreja Católica Apostólica Romana…

A reter
- A forma como Argunas guia o leitor.
- O golpe de teatro que resolve (?) o caso.

Menos conseguido
- O aprofundamento do carácter de Forge e Jackson e das razões para as suas atitudes actuais, seria uma mais-valia para o relato.

08/03/2010

Dans mes yeux












Bastien Vivés (argumento e desenho)
Casterman + KSTR
(França, Março de 2009)
190 x 276 mm, 136 p., cor, cartonado

Resumo
Dans mes yeux narra uma história de amor. Bela como todas as histórias de amor. Enquanto duram. Triste, como todas as histórias de amor, quando terminam. Porque terminam.
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