Will Argunas
Casterman/KSTR (França, 11 de Janeiro de 2012)
192 x 279, 112 p., cor, cartonado
16,00 €
Resumo
2015. Houston, nos
Estados Unidos, vive um momento sem precedentes aguardando a chegada do novo
papa, Nélson I, um negro de origem africana. Mas rapidamente o ambiente de
festa se transforma em pesadelo quando ele tomba, vítima de tiros provenientes
da multidão.
O FBI reage
prontamente e prende três homens encontrados com armas telescópicas. Para
descobrir qual deles é o verdadeiro assassino, é chamado o agente Morgan
Jackson, também ele negro.
Desenvolvimento
O que primeiro
chama a atenção, neste livro de traço semi-realista, não especialmente
chamativo, mas elegante e bastante funcional, é a interessante ligação que o
autor consegue estabelecer entre a realidade presente e este futuro (muito
próximo) que ele ficciona, pois entre ambos existem suficientes elos de
ligação, uns reais, outros inventados mas perfeitamente plausíveis: a eleição
de um papa negro na sequência do papado desastroso e repleto de escândalos de
Bento XVI, as dificuldades de reeleição de Obama, as referências à crise
financeira, a utilização de Larry King, o pivot da CNN, para reportar o que vai
acontecendo…
Isto dá ao
argumento, globalmente bem trabalhado e desenvolvido, uma credibilidade
assinalável que o torna bastante estimulante quando conjugado com a
indiscutível força do seu pressuposto base.
Faltou, talvez,
explorar/explanar um pouco melhor os problemas de solidão (e que mais…?) da
agente especial Leslie Forge, designada para acompanhar Jackson, e,
especialmente, os problemas deste último com mulheres e álcool – pois trata-se de
um alcoólico em recuperação… - o que justifica a forma como reage à pressão que
é colocada sobre ele.
Apesar disso, o
leitor é rapidamente agarrado pela história, pois à medida que esta se vai
desenrolando e alguns aspectos vão sendo esclarecidos, outros mais ficam na
sombra, espicaçando a curiosidade de quem lê. Curiosidade que, no entanto, tem
de obedecer à cadência imposta pelo autor que obriga a uma leitura dinâmica mas
de ritmo não muito elevado, para que o leitor se aperceba quer dos elementos
evidentes, quer daqueles presentes nas entrelinhas ou no desenho…
… isto, até ao
golpe de teatro final (ou quase…) que subverte toda a narrativa e deixa
desconcertados quer os protagonistas – que aos poucos se apercebiam de que havia
demasiados elementos que não encaixavam no quadro global – quer os leitores -
que não podem senão ser surpreendidos.
Para Argunas,
depois, em jeito de epílogo, proporcionar a explicação final deste conseguido
policial aos quadradinhos, mais uma vez perfeitamente coerente com a
actualidade e com a história recente (só recente?) da grande multinacional –
que tem de ser lucrativa - em que se transformou a Igreja Católica Apostólica
Romana…
A reter
- A forma como
Argunas guia o leitor.
- O golpe de teatro
que resolve (?) o caso.
Menos conseguido
- O aprofundamento
do carácter de Forge e Jackson e das razões para as suas atitudes actuais,
seria uma mais-valia para o relato.