A banda desenhada pode ser de aventuras, adaptar livros ou filmes, ser de autor ou de humor... Pode ser policial, western, dramática, de terror ou ficção-científica... Pode, é verdade, assumir muitas destas inúmeras faces e roupagens e pode, também, ser comprometida. Em termos ideológicos, sociais, ecológicos...
Este último, é o caso de Kharmeg, com alguns equilíbrios curiosos, necessários para cumprir os pressupostos que a justificam.
Salvar el océano é o segundo tomo deste projecto em BD - face mais visível (?) de um todo mais amplo que pode ser melhor conhecido seguindo este link - mas a sua leitura pode ser feita isoladamente, porque o pouco necessário para saber do volume antecedente é-nos apresentado agora.
Na sua base, está uma equipa de três pessoas: a bióloga Elise Gray, o ex-ranger John Verin e o experiente marinheiro Max Hart. A seu lado - primeira concessão à ficção - está Kharmeg - ou K - um monstruoso megalodonte - um tubarão pré-histórico de 30 metros e 200 toneladas - que Gray salvou em pequeno e com quem tem uma espécie de ligação psíquica.
Neste tomo, este quarteto - com o auxílio de alguns amigos da sua causa, entre eles o jornalista chinês Wei - luta contra o tráfico de barbatanas de tubarão - utilizadas em sopa em restaurantes de luxo - que anualmente é causador da morte de 100 milhões de espécimes. E é esta a causa com que esta obra se encontra comprometida.
E é aqui que entra a procura de equilíbrio entre uma banda desenhada de aventuras e a denúncia de (mais) uma situação que coloca em causa a sobrevivência dos ecossistemas marinhos e - por arrastamento - de todos os seres vivos.
A primeira constatação a fazer, é que Santi Casas, o argumentista, merece nota positiva pela forma como desempenhou a tarefa, a partir da ideia base de Agus Vera. A informação é transmitida sem excessos de texto nem demasiado peso 'institucional' e o lado ficcional da obra aguenta-se bem, entre mergulhos no mar, um pouco de espionagem, acções de sensibilização pública, utilização dos meios de comunicação e das redes sociais, um sequestro, um toque romântico e outro dramático, algumas surpresas e um violento combate marinho no final. Porque, se os 'bons' defendem os seus valores, tem que haver um vilão - no caso um magnata chinês que lembra o Kingpin - apostado em provocar o mal.
Menos conseguido, indubitavelmente, é o tratamento da figura humana, a que mais que uma vez falta definição de proporções, representação anatómica credível e expressividade. Curiosamente - ou talvez não... - Mariano de la Torre, o desenhador, mostra maior à-vontade na ilustração das cenas marinhas, das diferentes embarcações utilizadas no decorrer da narrativa e mesmo dos edifícios.
Publicada com o apoio da Ocean Blue Tree, organização cujos propósitos e principais membros são apresentados numa mini-relato de 4 páginas no final do álbum, Kharmeg: Salvar el océano é uma outra forma de entender - e utilizar - a banda desenhada.
Kharmeg: Salvar el Océano
Agus Vera e Santi Casas (argumento)
Mariano de la Torre (desenho)
Fran Vásquez (cor)
Panini Comics
Selo Evolution Comics
Espanha, Setembro 2020
210 x 297 mm, 64 p., cor, capa dura
ISBN: 9788413344836
15,00 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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