25/10/2024

A Bibliotecária de Auschwitz

A importância da memória


Há momentos da História que convém não deixar cair me esquecimento.
O que os nazis fizeram aos judeus durante a II Guerra Mundial, é um desses casos e livros como esta adaptação em banda desenhada do romance A bibliotecária de Auschwitz, de António Iturbe, são muito importantes para que as gerações mais novas tenham noção de certos acontecimentos - mesmo que incompleta e parcial porque seria impossível descrever numa obra para os mais novos toda a brutalidade, crueldade e bestialidade que foi empregue nos campos de concentração.

Salva Rubio, que já tinha assinado a adaptação de O Fotógrafo de Mauthausen, volta a abordar a questão dos campo de concentração numa dupla perspectiva: por um lado, pelo narrar de casos autênticos de pessoas reais que sentiram na pele o que foi viver meses ou anos em condições inimagináveis, sempre com o medo de serem chamados para as câmaras da morte; por outro lado, pela questão da preservação da memória, porque é disso que trata também nesta obra.

A Bibliotecária de Auschwitz narra a história de Dita Adlerova, uma adolescente apaixonada por livros que em Auschwitz teve a possibilidade de se tornar a bibliotecária do setor privilegiado do campo, aquele em que a famílias eram mantidas juntas de alguma forma, em que os prisioneiros não tinham a cabeça rapada, nem os uniformes dos outros sectores do campo, para que as visitas da Cruz Vermelha fossem lá efetuadas e pudessem ver a boa forma como os prisioneiros supostamente eram tratados.

Mesmo assim, apesar desses 'privilégios', havia limites, regras, imposições e castigos severos para quem não as cumpria, e entre elas estava a proibição de livros, e um dos responsáveis pela repressão era o tristemente célebre Joseph Mengele

No momento em que Dita viveu em Auschwitz, existiam oito disponíveis e foi ela a encarregada de os recolher, juntar, organizar, distribuir e restaurar, permitindo assim que mais um pouco de liberdade - de mente que não de corpo - pudesse ser usufruída pelos prisioneiros daquele campo de concentração. Ao mesmo tempo - e é curioso notá-lo - para além daqueles oito livros em papel, existia uma outra forma de preservação da memória, os chamados 'livros vivos', prisioneiros que narravam, se não integralmente, pelo menos de forma bastante completa, contos ou romances como O Conde de Monte Cristo ou A maravilhosa viagem de Nils Holgersson através da Suécia, e por quem Dita também era responsável.

Se naquele tempo inimaginável, essa preservação da memória era também uma questão de sanidade mental e de fuga a um quotidiano com tudo para destruir, por dentro e por fora, quem o vivia, hoje, a transmissão da história de Dita - como a de Anne Franke, por exemplo - aos mais novos é fundamental para que essas memórias mesmo que horríveis e chocantes não se percam - e haja assim menos hipóteses de se repetirem.


Referências

Os tempos são diferentes. A geração dos meus pais cresceu com o Papagaio e o Mosquito; a geração seguinte devorou o Mundo de Aventuras e o Cavaleiro Andante; seguiram-se as dos que leram o Tintin, os pequenos formatos, os formatinhos brasileiros de super-heróis, Tex... E, sempre omnipresentes, as bandas desenhadas da Disney e da Turma da Mônica.

Estas gerações, que tinham menor oferta de outros tipos de diversão e evasão em relação às de hoje, tiveram também disponíveis dezenas de outros títulos periódicos (ir)regulares.

Hoje, a situação é diferente, a oferta cresceu exponencialmente, o conceito de 'revista juvenil' parece morto e enterrado, mas isso não impede que as novas gerações não possam criar as suas próprias referências [por onde passarão certamente muitos títulos de manga].

Neste particular, a Penguin Random House tem vindo a compor um catálogo diversificado, onde há de forma marcada, mas não exclsuiva, a busca daquele público que (dantes) não lia banda desenhada, ou seja as meninas e adolescentes.

É a elas, principalmente, de forma mais ou menos evidente, que se dirige este A Bibliotecária de Auschwitz, bem como Julieta Pirueta (Nuvem de Letras), de Brian Freschi e Elena Triolo uma história escrita de forma cativante sobre uma menina e o seu sonho de ser bailarina, ou Hooky (Booksmile), um webtoon de sucesso assinado pela catalã Míriam Bonastre Tur, sobre uma adolescente que entra para uma escola de magia e vai descobrir confrontos entre facções rivais no seu âmago. Humor e fantástico combinam-se numa narrativa de ritmo acelerado, tal como vivem os mais novos hoje.

E se leitores 'tradicionais', formados com outras 'referências, poderão ter a tentação de olhar de lado - mais nuns casos do que noutros - para estas propostas, é fundamental que elas existam, para que as novas gerações também façam a indispensável formação na leitura de banda desenhada.


A Bibliotecária de Auschwitz
Salva Rubio (argumento), segundo António Iturbe
Loreto Aroca (desenho)
Iguana
Portugal, Outubro de 2024
170 x 240 mm, 144 p., cor, capa dura
17,45 €

(imagens disponibilizadas pela Penguin Random House; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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