Por acaso...
Adèle
e Julien são dois jovens que vão partir de férias. Por acaso ambos
vão para Bagatelle-sur-mer e por acaso ambos vão ficar alojados no
Boulevard du Océan, em casas que, por acaso, são contíguas.
Antes
disso, por acaso, os dois vão apanhar o mesmo comboio, por acaso na
mesma estação e, na pressa da partida, por acaso vão chocar um com
o outro e, acaso dos acasos, trocar os sacos que igualmente por acaso
são iguais.
É assim que começa Océan express, de François Ayroles, uma crónica mordaz das férias de sonho - ou só das férias, toutcourt... - com que todos sonhamos o ano inteiro.
Na estadia, curta, os acasos vão multiplicar-se, os encontros e desencontros também, tal como o cruzamento com personagens entre o estranho e o inquietante, numa sucessão interminável e surpreendente, mas também divertida, que parece adiar infinitamente aquilo que para o leitor parece inevitável...
Desenhado com traço fino semi-realista, com o preto e branco pincelado com tons de azul que reforçam o tom distante e impessoal de um relato que se desenrola algures nos anos 1970/80, Océan express tem como aliciante extra a estrutura imaginada por Ayroles: as peripécias de Adèle são narradas nas páginas pares e as de Julien nas páginas ímpares, em simultaneidade temporal, funcionando cada par de pranchas ao nível das vinhetas, como espelhos, num conseguido e desafiador exercício de estilo (exemplificado a abixo) que é mais evidente no início e no final da narrativa, mas que é efectivo ao longo de todo o livro.
Océan
express
François
Ayroles
L'Association
França,
2023
220
x 290
m, 152
p., preto,
branco e azul,
capa mole
com badanas
25,00
€
(imagens disponibilizadas por L'Association; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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