Papel A2
(Brasil, Outubro de 2008)
220 x 300 mm, 48 p., cor, cartonado
Resumo
Aú é um jovem praticante de capoeira que, para
ajudar uma vizinha, acaba por ter de enfrentar um bando de mafiosos, igualmente
responsáveis pelo rapto de uma amiga sua.
Desenvolvimento
Uma das boas descobertas que fiz (que se me impôs!)
em 2012 foi, sem dúvida, Flávio Luiz, um dos mais europeus (?) dos autores de
BD brasileiros.
Europeu no traço, entenda-se, uma linha clara
ágil e dinâmica, de cores planas e fortes, assumidamente inspirada nalguns dos
grandes criadores da revista belga “Spirou”, mas trabalhada e desenvolvida de
forma personalizada.
Europeu no traço, escrevi, mas bem brasileiro
nas temáticas que aborda nas suas bandas desenhadas.
Depois do explosivo “O Cabra” (cronologicamente posterior a este “Aú, o capoeirista”, mas que eu li
primeiro), uma BD de ficção-científica protagonizada por um cangaceiro em luta
com os coronéis do ano 3000, este livro casa uma aventura juvenil, directa e
divertida (e nenhum destes adjectivos é pejorativo…) com aquela arte marcial
tipicamente brasileira.
Sem forçar a nota e sem artificialismos, o
protagonista utiliza a capoeira quer para impressionar a turista que se tornará
sua companheira de aventura - e que se apaixona pelo Brasil, antes de o fazer (?)
pelo herói – quer para enfrentar os bandidos que a raptam depois de tentarem à
força a compra de um imóvel bem situado no centro da cidade de Salvador, na Bahia,
que serve de pano de fundo à acção.
Ao lado de Aú, encontramos (entre amigos e adversários) uma boa galeria de
personagens secundárias (a descobrir no site do protagonista) que, pela sua consistência
acabam por esvaziar e mesmo colocar um pouco em causa aquele que deveria ser o
herói, sendo este um daqueles casos típicos em que são necessárias mais aventuras (a segunda já está a caminho...) para desenvolver o seu carácter e justificar alguns dos laços que se adivinham entre
ele e outros protagonistas.
Tal como em “O Cabra”, Flávio Luiz mostra um perfeito
domínio da técnica narrativa aos quadradinhos com a planificação a conduzir o
leitor ao ritmo desejado e com o traço enganadoramente simples (e aqui ainda
com alguma rigidez pontual, já desaparecida em obras posteriores) a sustentar
algumas boas opções gráficas. E que, refira-se, por tudo isto, merecia uma colorização
mais cuidada.
Nota final
A tudo isto, Flávio Luiz juntou a vontade de
concretizar o seu sonho de ser autor de BD – e tem tudo para se “encaixar” na “Spirou”
que claramente admira – não se importando de avançar para a auto-edição de um
álbum (no formato bem europeu, cartonado, com 48 páginas) com uma tiragem de 2
mil exemplares, capaz de fazer corar de vergonha as editoras portuguesas.
Mas, sendo edição de autor, tem distribuição limitada, sendo mais fácil encomendá-lo directamente ao autor, que promete autografar cada exemplar!