Esta até podia ser uma série oriunda da revista
Spirou belga, mas na verdade é criação brasileira e o seu protagonista, Aú, até
é praticante de capoeira.
Mas se Aú é capoeirista, se o seu criador é brasileiro,
se a história se desenvolve – e se desenvolve bem! – em Salvador, da Bahia, e
se por detrás da narrativa está uma lenda local relacionada com um ataque de
piratas a um galeão na baía de Todos-os-Santos há alguns séculos, nada disso
retira a este álbum a sua universalidade e a possibilidade de ser fruído por
leitores de qualquer latitude ou longitude.
Tal como já havia feito no primeiro volume da
série – Aú, o
capoeirista – Flávio Luiz parte do que conhece, do quotidiano que partilha,
daquilo que o rodeia, para nos levar numa aventura, simples e sem pretensões mas
bem estruturada que, tendo como ponto de partida o tal ataque pirata e um consequente
naufrágio, inclui uma lenda que se embrenhou no imaginário popular ao longo dos
séculos, sonhos com uma bela fantasma, um estranho roubo e a procura de um
tesouro há muito perdido.
Em relação ao álbum de estreia, Aú surge mais
protagonista – e com ele a bem brasileira arte da capoeira – pois a maior parte
dos amigos (bem) presentes no primeiro álbum resumem-se agora praticamente só
ao seu amigo Dó, e, por isso, é em torno dele, das suas decisões e das suas
iniciativas que a história se vai centrar. O que, se o destaca enquanto herói –
na linha de uma certa banda desenhada franco-belga de humor e aventura – e não retira
à história a capacidade de prender e seduzir o leitor, lhe subtrai um pouco do
brilho que o relato de estreia apresentava.
História que, quero frisar, está bem estruturada
e desenvolvida ao longo de todo o álbum, sem tempos mortos nem sequências
desnecessárias, com um ritmo de leitura rápido mas consistente e com um final
que, não sendo inesperado – embora surjam algumas surpresas até esse desenlace –
contribui para a unidade do conjunto.
Flávio Luiz, que continua a apostar na
auto-edição – e que pode ser contactado através do site que dedica a Aú - enquanto
aguarda ser descoberto por um editor atento, justifica que o continue a considerar
“um dos mais europeus (?) dos autores de BD brasileiros”, como escrevi na
análise a Aú, o
capoeirista. Admirador da escola de Marcinelle e de alguns dos seus autores
mais destacados, continua a exibir uma grande dinâmica narrativa, um traço
grosso, ágil e veloz que se adequa ao tipo de história que conta, e uma grande diversidade
na tomada de pontos de vista que são essenciais para uma leitura divertida e agradável
– objectivo claro do livro - ao mesmo tempo que demonstra alguns progressos na
selecção e aplicação da cor, que, em relação ao primeiro álbum - tem um
contributo maior na definição de volumes e distâncias.
Aú o capoeirista e o Fantasma do Farol
Flávio Luiz
Papel A2
Brasil, Julho de 2014
220 x 300 mm, 48 p., cor, cartonado
R$ 55,00
Obrigado pela analise tão respeitosa e apurada,Pedro.Sinto-me motivado a melhorar sempre para os proximos tomos.Abraços
ResponderEliminarDe nada Flavio,
EliminarEu é que agradeço pela agradável leitura que Aú me proporcionou.
Boas leituras... e mais boas histórias!