Há um
quarto de século, o mundo da banda desenhada recebia a notícia da partida de
Edgar P. Jacobs, vítima da doença de Parkinson. O autor belga, nascido em
Bruxelas a 30 de Março de 1904, era o criador de Blake e Mortimer.
Para a BD,
que o tornou famoso, trouxe o dramatismo, a teatralidade e a grandiosidade da
ópera que tanto admirava e onde chegou a participar como cenógrafo e barítono.
A par dela, alimentou o gosto pelo desenho, o que lhe valeu um emprego na
revista Bravo onde, durante a Segunda Guerra Mundial, devido ao embargo alemão
às bandas desenhadas norte-americanas, teve que concluir a história de Flash
Gordon que estava em publicação. Logo de seguida, criaria O Raio U (1943),
primeira experiência a sério nos quadradinhos, onde eram notórias as
influências daquele herói de ficção-científica criado por Alex Raymond.
Durante
esse período, Jacobs pintou os cenários para uma peça teatral chamada Tintin aux Indes, durante a qual Van Melkebeke, o apresentou a Hergé, de quem se tornou próximo, e que posteriormente o convidou a
colaborar na modernização das primeiras aventuras de Tintin, tendo em vista a
sua edição a cores, e com quem chegou mesmo a trabalhar na criação de novas histórias.
Após o fim
da guerra, desentendimentos devido à não inclusão do seu nome nos álbuns levaram-no
a deixar o estúdio de Hergé e a optar por uma carreira a solo, iniciada no
número inaugural da revista Tintin, a 26 de Setembro de 1946, onde assinava O Segredo
do Espadão, primeira aventura da série de ficção-científica protagonizada pela
dupla constituída por Francis Blake, oficial dos serviços secretos britânicos,
e Philip Mortimer, cientista renomado mas também homem de acção.
Segiu-se uma versão ilustrada de A Gurra dos Mundos(1947), de H. G. Wells e, até 1970, mais sete histórias de Blake e Mortimer, traçadas numa linha clara pormenorizada e
realista, que totalizariam 11 álbuns, entre os quais A Marca Amarela,
considerado por muitos um álbum quase perfeito, e O Enigma da Atlântida, em que
Blake e Mortimer descobrem no subsolo dos Açores os sobreviventes da Atlântida,
que fizeram de Jacobs um dos mais apreciados autores franco-belgas de BD.
Quando a
morte o encontrou, a 20 de Fevereiro de 1987, trabalhava no segundo tomo de As
3 Fórmulas do Professor Sato, que deixou esboçado e parcialmente desenhado.
De acordo
com a sua vontade, a sua morte não implicou igual destino para Blake e
Mortimer, tendo sido aquele álbum terminado por Bob de Moor, em 1990. A partir
de 1996, outras equipas criativas, seguindo de perto as bases lançadas por
Jacobs, deram nova vida aos seus heróis que, desde então, já viveram seis novas
aventuras divididas por oito álbuns, estando previsto para Novembro deste ano o
lançamento de Le Serment des
cinq lords, de Yves
Sente e André Juillard.
(Versão expandida do texto
publicado no Jornal de Notícias de 20 de Fevereiro de 2012)