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19/08/2013

Gatos aos quadradinhos









Os 35 anos de Garfield, que se cumpriram há dois meses, foram o pretexto para evocar no Jornal de Notícias de 19 de Junho alguns dos outros gatos dos quadradinhos, cujo texto – revisto e aumentado – vem já a seguir. É uma relação não exaustiva, que desafio os meus leitores a completar com outros bichanos desenhados.

Criação de Jim Davis, Garfield, possivelmente o mais famoso gato da banda desenhada, estreou-se em 1938 em 40 jornais; hoje é publicado por cerca de dois milhares de periódicos de todo o mundo.
Laranja com riscas pretas, gordo, preguiçoso, devorador de lasanha, esmagador de aranhas e implicativo com o seu dono, Jon, e com Oddie, o cão (parvo) da casa, Garfield terá nascido inspirado nas duas dúzias de gatos com que o seu criador conviveu na adolescência, numa quinta em Indiana.
O início modesto rapidamente deu origem a um sucesso raramente igualado nos quadradinhos, baseado na capacidade de observação de Davis, no reciclar contínuo de situações e desfechos e na facilidade com que o leitor se pode identificar com Garfield, nas suas características mais humanas - cinismo, maldade, preguiça, ódio a segundas-feiras, despertadores e dietas…
Dos quadradinhos, o êxito saltou – espreguiçou-se será mais adequado… - para a animação, o merchandising e o cinema, transformando o autor num homem rico e o gato num ícone a nível mundial.

Garfield não é, no entanto, o único felino que protagoniza tiras de imprensa e, neste contexto, é de salientar uma honrosa criação nacional, Hórus, que viveu em mais de uma centena de tiras diárias, publicadas entre 1996 e 1998, chegando mesmo a interagir com o seu autor, José Abrantes.
Editados em português há pelo menos mais três casos: Mutts (Devir), de Patrick McDonnel, uma abordagem bem diferente, terna e poética, centrada no comportamento dos animais e na sua interacção – curioso e dinâmica – com a natureza, os seres humanos e os outros animais; O Gato do Simon (Objectiva), de Simon Tofield, felino de dupla personalidade, tão capaz de ser preguiçoso, pachorrento, mimado como de destruir a casa em que vive; Aqui há gato (Bizâncio), de Darby Conley, que opõe Satchel, o cão, pacato, preguiçoso, comilão e estúpido até dizer chega a Bucky, o gato, cruel, violento, sádico e abusador.


Mas existem outros exemplos da secular inimizade entre gatos e cães, ratos ou pássaros… Na revista “Tintin” portuguesa, encontrávamos Cubitus recorrentemente às voltas com o irascível Sénéchal, Clorifila que defrontava a cruel Celimene ou Milu que não perdia uma oportunidade de perseguir o gato do castelo de Moulinsart; importados de outros meios, mas vivendo também aventuras aos quadradinhos, vemos Silvester e Tweety, Tom e Jerry ou Geronimo Stilton face aos malvados gatos Piratas.


Mas, já bem antes de Garfield, a BD explorava os felinos (ou será o contrário?). Um dos exemplos mais antigos é “Cicero’s Cat”, criação de Bud Fisher estreada no final de 1933, que o “Mundo de Aventuras” rebaptizou como “A gata do Tobias”. Na mesma época, os quadradinhos herdavam “Felix, the cat”, nascido na animação muda em 1919, onde chegou a contracenar com a sensual BettyBoop.


“Fritz the cat”, de Robert Crumb, versão satírica, mordaz e politicamente incorrecta deste último, explodiu em meados da década de 1960, quando o movimento underground levou os quadradinhos norte-americanos a descobrirem que todas as temáticas eram possíveis, que fez uma breve aparição em Portugal, no jornal "Lobo mau" (1979). Igualmente de abordagem (bem) adulta é “Omaha, the cat dancer”, BD erótica criada nos anos 70 por Reed Waller e Kate Worley.


De temática mais fantástica são “Billy the cat” (ASA), de Desberg e Colman, que narra as aventuras de um menino malvado transformado em gato ou “Chats”, que revela uma terra pós-apocalítica sem seres humanos, em que lobos e gatos se confrontam pelo domínio das (ruínas) do planeta.


De tom filosófico podemos citar “Sua excelência o gato”, de Géluck, com um desconcertante humor nonsense repleto de trocadilhos e segundos sentidos, ou O gato do Rabino (ASA), de Joann Sfar, que fala e discute religião com o seu dono, enquanto que Catherine Labey se lembrou de reiterpretar, com algum humor, ditos e provérbios populares, à luz da sua aplicação ao quotidiano dos gato nos seus "Provérbios com gatos".


Mas, claro está, na banda desenhada também existem gatos que são apenas isso, gatos: Mingau, que pertence à Magali da Turma da Mônica, Toni, a gata de Julia Kendall, a criminóloga da Bonelli, ou, a um nível mais assustador, o terrível gato sem nome, parceiro de disparates de Gaston Lagaffe são exemplos populares.


Para o final, ficou uma gata muito especial, a lânguida e sensual Catwoman, supervilã da DC Comics que nos quadradinhos ou no cinema, já deu certamente a volta a muitas cabeças, mesmo daqueles que não gostam de animais… 
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