Maio 2011
Quarto de Jade
Os Animais Domésticos
Maria João Worm
Sentimos que, para além dos grandes sistemas, existe um sonho por realizar, um equilíbrio instável, volátil e desejadamente transfigurador. Já não é a dúvida desta existência submersa num jogo de espelhos, sem que se adivinhem as direcções mais óbvias; aquelas que as “grandes maiorias” seguem, escravizando os sentidos à sua incapacidade de se relacionarem com os movimentos próprios de uma existência na primeira pessoa. Dessa consciência, que se ergue para além das normas que estipulam a mais vulgar das sobrevivências, conseguimos dar um primeiro passo, traduzindo uma vontade de realização através de uma etiqueta editorial; assumindo-se como extensão da presença virtual do site e do blog. Agora, Quarto de Jade materializa-se, também, numa proposta capaz de se encontrar com os livros de que se enamora.
O primeiro título que publicamos amadureceu no final dos anos 90 e encontrou finalmente o seu espaço de concretização. Os Animais Domésticos, da autoria de Maria João Worm, é um livro objecto, muito dentro da linha de uma publicação anterior – Electrodomésticos Classificados – mas com novas fronteiras por descobrir, já que o universo desta autora se exprime através de uma transcendência irredutível, sobretudo nos tempos que correm, em que a formatização parece ser, estranhamente, a palavra de ordem.
Contudo, nada mais pertinente de que escutarmos aquilo que a Maria João Worm pensa sobre esta primeira edição:
“Este livro foi feito a partir de uma série de gravuras que fiz em 1998. Há muito que tinha pensado reuni-las e fazer uma publicação. Agora, olho para as imagens e para os textos e sei que eles foram feitos com toda a liberdade que parece que ainda é visitada pela Sra. Ingenuidade (aquela que faz limpezas nas cabeças que ainda não têm muito pó).
O que resultou é um livro que quer mostrar esse tempo em que se deixa acontecer, sem querer mais do que fazer do corpo o lugar táctil e sensível que permite construir sem a finalidade artificiosa.
Não é um livro apenas para crianças, não é um livro para quem se deixa cristalizar e não cresce, seja lá o que isso queira exactamente dizer. Este objecto final é uma visita a uma experiência anterior, acumulou tempo, desdobra-se no espaço e tem finalmente um corpo próprio.
Enquanto livro de autor, e por tudo o que me leva a pensar hoje conscientemente, na minha estante ideal, arrumava-o junto aos livros de arte.”
Saiba mais no Quarto de Jade
Libri Impress
Ele Foi Mau Pra Ela - O Grande Romance Americano - Sem Uma Só Palavra - e Também Sem Música
Milt Gross (argumento e desenho)
A primeira edição de He Done Her Wrong foi lançada em 1930 por Doubleday, Doran & Company, que publicaria pelo menos mais duas edições. Nas décadas de 1960 e 1980 a obra voltou a ser reeditada, mas por outras editoras, que resolveram não só mudar-lhe o título mas também suprimir algumas partes. Em 2005, Fantagraphics Books decidiu fazer a "sua" edição, recuperando o título original e as imagens que tinham sido cortadas anteriormente mas, ao mesmo tempo, introduzindo abusivas alterações na obra original.
Esta edição portuguesa é fiel à primeira americana, apesar de num tamanho mais pequeno. Para tal, eliminou-se parte das enormes margens, mas só foi necessário reduzir o tamanho dos desenhos em sete páginas. "a obra de Gross que fez dele uma figura a resgatar nos nossos dias é He Done Her Wrong (1930), a epopeia cómica sem palavras que nos permite vê-lo como um dos mais deslumbrantes precursores do romance gráfico. (...) mal a li convenci-me de que estava perante um dos grandes génios das histórias aos quadradinhos."
Santiago García (argumentista, tradutor e estudioso de banda desenhada, no seu blog Mandorla, em 3 de Maio de 2010)
O preço é de 16 euros, mas pedido directamente ao editor custa apenas 14, com o custo de correio incluído. Caso esteja interessado na edição, faça de imediato o seu pedido, de um ou mais exemplares (para oferecer a alguém que aprecie livros). Pagamento através de cheque ou transferência bancária (NIB 003506660003845690063; não esquecer comunicação por e-mail). Além disso, pode aproveitar para encomendar algum dos outros livros do mesmo editor.
Mais se informa que o 3º volume de "Lance" deverá estar disponível ao público no próximo mês de Julho, coisa que na devida altura a todos será comunicada.
Edições ASA
Tintin - Rumo à Lua
Hergé (argumento e desenho)
Ao regressar do país do Ouro Negro, o capitão Haddock fica a saber que o professor Girassol partira havia três semanas com um estrangeiro desconhecido. Logo em seguida recebe um telegrama do professor, no qual diz que se encontra na Sildávia e pede ao capitão e ao Tintin para lá irem ter com ele. Os dois partem de imediato. No aeroporto da capital da Sildávia, um motorista espera-os e leva-os para o que parece ser uma instalação militar ultra-secreta. Lá encontram o professor a trabalhar num foguetão a bordo do qual partirá rumo à Lua. E ele quer que Tintin e Haddock participem na expedição! Nem é preciso dizer que Dupond e Dupont aparecem desastradamente para tratarem da segurança dos três. Enquanto isso, agentes de uma potência inimiga fazem de tudo para roubar o projecto e sabotar a expedição da Sildávia.
Tintin - Explorando a Lua
Hergé (argumento e desenho)
Os inimigos da Sildávia fracassam, e a expedição liderada pelo professor Girassol finalmente consegue partir. Mas, estranhamente, também agentes estrangeiros, fazem de tudo para que a expedição seja bem sucedida. Porque será que eles desejam tanto que o foguetão chegue à Lua? Os perigos que os nossos astronautas vão enfrentar durante a viagem não serão nada comparados com aquilo que os espera na Lua…
Tintin – O Caso Girassol
Hergé (argumento e desenho)
Nesta aventura, uma série de misteriosos acontecimentos assombra o castelo de Moulinsart. Vidros e espelhos que se partem de repente, copos que se estilhaçam e as preciosas louças da colecção do capitão ficam em pedaços. Para piorar, ouvem-se tiros no parque. Guiados por Milu, o capitão e Tintin encontram um homem ferido, caído numa moita. No meio desta confusão, o professor Girassol viaja para a Suíça e, após a sua partida, verifica-se que os estranhos acontecimentos cessam. Desconfiado, Tintin resolve visitar o laboratório do professor, onde encontra um mascarado, mas o homem consegue escapar. Pressentindo que Girassol possa estar em perigo, os nossos amigos partem para a Suíça. Mas não conseguem encontrar o professor. Escapam a atentados e ciladas, e na pista do Girassol, chegam à Bordúria, que é dominada por um tirano com planos sinistros em mente.
Dragon Ball – Baba, a vidente
Akira Toriyama (argumento e desenho)
Após vencer a Red Ribbon, Goku viu-se obrigado a recorrer ao poder da vidente Baba para tentar saber qual o paradeiro da Dragon Ball em falta. Mas, para satisfazer este pedido, a vidente exigiu que Son Goku enfrentasse primeiro temíveis adversários. Será que vai conseguir ultrapassar tais obstáculos?
Yu-Gi-Oh – vol. 4 – Começa o Projecto
Kasuki Takahashi (argumento e desenho)
Yugi reencontra Kaiba, o seu inimigo de estimação, já recuperado do jogo de castigo e pronto para levar a cabo uma diabólica vingança, juntamente com Mokuba, o seu irmão mais novo. Tudo vai decorrer numa viagem à Kaiba Land (um parque de diversões), onde muitos perigos e armadilhas esperam por Yugi e pelos seus amigos…
Murena #5 – A Deusa Negra
Dufaux (argumento)
Delaby (desenho)
A ambiciosa Popeia toma o lugar da bela Acté no coração de Nero. Este prepara-se para participar e ganhar a grande corrida de carros que se vai disputar em Roma, no Circus Maximus. A competição decorre em clima de grande expectativa e contra tudo o que era esperado, a vitória não vai pertencer ao Imperador, mas sim de um misterioso participante que se descobre ser… uma mulher!
As Águias de Roma - Livro 1
Marini (argumento e desenho)
Após um terrível combate, Ermanamer, filho do príncipe Sigmar, fica refém dos romanos. O imperador Augusto confia-o ao seu fiel Tito Valério Falco, que tem um filho da mesma idade, Marco. Os dois jovens recebem uma rigorosa educação romana, submetidos a uma disciplina de ferro. Ao longo das provas, o ódio mais implacável cede lugar à amizade. Mas o que acontece à fraternidade de espírito e de armas quando surge o amor por uma mulher?
Sinais de Fogo
Os Amigos do Luca #3 – Luca decide fugir
Stephan Valentin (argumento)
Laurent Houssin (desenho)
Com a chegada das férias, o Luca apercebe-se de que não poderá ir com o Tim para a praia. O seu pequeno mundo de «cão» abate-se sob as suas patas. Vai ficar sozinho em casa? Que irão fazer com ele? Não espera pela resposta às suas dúvidas. Decide partir. Assim, de repente… Será que o Tim, a Rosinha, a Tina e o Zeca o vão encontrar?
Uma criança que foge está a manifestar o seu mal-estar e a enviar uma mensagem à família. Angustiante para os pais, este duro golpe poderá transformar-se rapidamente numa má aventura para a criança. Esta pequena história visa prevenir as tentações de fuga numa criança, desdramatizando o acto ao colocar aqui o cão nesse papel.
Kingpin Books
Super Pig: Live Hate
Mário Freitas (argumento, arte final e cor
Carlos Pedro e GEvan (desenho)
Gisela Martins (cor)
Agentes do C.A.O.S.: Nova O.R.D.E.M.
Fernando Dórdio (argumento)
Osvaldo Medina (desenho)
Mário Freitas (cor e argumento adicional)
(Textos da responsabilidade das editoras)
20/05/2011
Leituras Novas
19/05/2011
O Filme da Minha Vida
Eu não reino
Pedro Nora (argumento e desenho, a partir do filme “Vai e Vem”, de João César Monteiro)
João Paulo Cotrim (introdução)
Ao Norte (Portugal, 6 de Maio de 2011)
102 x 148 mm, 40 p., pb, brochado com badanas
A AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual, fundada em Dezembro de 1994, tem patente em Viana do Castelo, no Espaço Ao Norte, na Praça D. Maria II, uma exposição dos originais do décimo livro da colecção O Filme da Minha Vida, que ficará patente até 31 de Julho de 2011.
Intitulada “Eu Não Reino”, esta banda desenhada da autoria de Pedro Nora tem como ponto de partida o filme “Vai e Vem”, de João César Monteiro.
Não que este “seja o filme da minha vida, nem sequer o meu filme favorito do João César Monteiro”, diz o autor; “pensar em ‘filme da vida’ é uma falácia”. E esclarece: “para este projecto trabalhei um filme que se prestava a alguns objectivos que defini de antemão. Queria trabalhar um realizador português, um autor polémico e com ligações à literatura. "Vai e Vem" é o último filme de JCM, antes de morrer, e é por isso também um filme-testamento, em que o autor nos dá um derradeiro murro no estômago”.
E acrescenta ainda Nora: o filme “desenvolve-se em torno de temas como a sexualidade, a moral e bons costumes, Portugal, o poder, o cinema, e a morte, temas recorrentes na obra de JCM. É uma apurada mistura de comédia satírica e poema audiovisual”, tendo sido essa a sua opção gráfica, reinterpretando e fixando no papel, em traço negro e duro, praticamente sem texto escrito, alguns dos momentos fortes da narrativa de J.C. Monteiro, deixando ao leitor (relembrá-los e/ou) (re)interpretá-los.
Esta foi a única vez que um filme português serviu de base a um dos mini-álbuns do projecto O Filme da Minha Vida, um desafio lançado pela AO NORTE a uma dezena de autores portugueses para que produzissem uma banda desenhada inspirada num filme que tivesse deixado marcas nas suas vidas.
Iniciado em meados de 2008, com direcção de Tiago Manuel, grafismo de Luís Mendonça e introduções de João Paulo Cotrim, do projecto O Filme da Minha Vida resultaram os seguintes títulos:
01 - O PERCUTOR HARMÓNICO, de André Lemos, baseado no filme ACONTECEU NO OESTE, de Sérgio Leone
02 - EPIFANIAS DO INIMIGO INVISÍVEL, de Daniel Lima, inspirado no filme O DESERTO DOS TÁRTAROS, de Valério Zurlini 03 - SÉTIMO SELO, de Jorge Nesbitt, inspirado no filme homónimo de Ingmar Bergman
04 - ÂNGULO MORTO, de João Fazenda, em volta de A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES, de Alfred Hitchcock
05 - FITZ..., de Filipe Abranches, inspirado no filme FITZCARRALDO, de Herner Herzog
06 - REPULSA, de Alice Geirinhas, inspirado no filme REPULSA, de Roman Polanski
07 - O DRAGÃO ATACA, de Tiago Albuquerque, a partir do filme homónimo de Robert Clouse.
08 - A VALQUÍRIA E O INOMINÁVEL, de Miguel Rocha, baseado no filme O ANJO EXTERMINADOR, de Luis Buñuel
09 - O ESPÍRITO DA COLMEIA, de Luís Henriques, inspirado no filme homónimo de Victor Erice 10 – EU NÃO REINO, de Pedro Nora, inspirado no filme VAI E VEM, de João César Monteiro
Pedro Nora (argumento e desenho, a partir do filme “Vai e Vem”, de João César Monteiro)
João Paulo Cotrim (introdução)
Ao Norte (Portugal, 6 de Maio de 2011)
102 x 148 mm, 40 p., pb, brochado com badanas
A AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual, fundada em Dezembro de 1994, tem patente em Viana do Castelo, no Espaço Ao Norte, na Praça D. Maria II, uma exposição dos originais do décimo livro da colecção O Filme da Minha Vida, que ficará patente até 31 de Julho de 2011.
Pedro Nora |
Não que este “seja o filme da minha vida, nem sequer o meu filme favorito do João César Monteiro”, diz o autor; “pensar em ‘filme da vida’ é uma falácia”. E esclarece: “para este projecto trabalhei um filme que se prestava a alguns objectivos que defini de antemão. Queria trabalhar um realizador português, um autor polémico e com ligações à literatura. "Vai e Vem" é o último filme de JCM, antes de morrer, e é por isso também um filme-testamento, em que o autor nos dá um derradeiro murro no estômago”.
E acrescenta ainda Nora: o filme “desenvolve-se em torno de temas como a sexualidade, a moral e bons costumes, Portugal, o poder, o cinema, e a morte, temas recorrentes na obra de JCM. É uma apurada mistura de comédia satírica e poema audiovisual”, tendo sido essa a sua opção gráfica, reinterpretando e fixando no papel, em traço negro e duro, praticamente sem texto escrito, alguns dos momentos fortes da narrativa de J.C. Monteiro, deixando ao leitor (relembrá-los e/ou) (re)interpretá-los.
Pedro Nora |
Esta foi a única vez que um filme português serviu de base a um dos mini-álbuns do projecto O Filme da Minha Vida, um desafio lançado pela AO NORTE a uma dezena de autores portugueses para que produzissem uma banda desenhada inspirada num filme que tivesse deixado marcas nas suas vidas.
Jorge Nesbit |
01 - O PERCUTOR HARMÓNICO, de André Lemos, baseado no filme ACONTECEU NO OESTE, de Sérgio Leone
02 - EPIFANIAS DO INIMIGO INVISÍVEL, de Daniel Lima, inspirado no filme O DESERTO DOS TÁRTAROS, de Valério Zurlini 03 - SÉTIMO SELO, de Jorge Nesbitt, inspirado no filme homónimo de Ingmar Bergman
04 - ÂNGULO MORTO, de João Fazenda, em volta de A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES, de Alfred Hitchcock
05 - FITZ..., de Filipe Abranches, inspirado no filme FITZCARRALDO, de Herner Herzog
João Fazenda |
07 - O DRAGÃO ATACA, de Tiago Albuquerque, a partir do filme homónimo de Robert Clouse.
08 - A VALQUÍRIA E O INOMINÁVEL, de Miguel Rocha, baseado no filme O ANJO EXTERMINADOR, de Luis Buñuel
09 - O ESPÍRITO DA COLMEIA, de Luís Henriques, inspirado no filme homónimo de Victor Erice 10 – EU NÃO REINO, de Pedro Nora, inspirado no filme VAI E VEM, de João César Monteiro
André Lemos |
Filipe Abranches |
Tiago Albuquerque |
18/05/2011
Sale Fric
Collection Dark Night
Brian Azzarello (argumento)
Victor Santos (desenho)
Delcourt (França, 20 de Abril de 2011)
167 x 257 mm, 200 p., pb, brochado com badanas, 14,95 €
Resumo
Este é o segundo volume de uma nova colecção da Delcourt, que publicará bandas desenhadas provenientes do selo Vertigo, pertencente ao catálogo da DC Comics, e que foi iniciada em Março com Le Frisson, de Jason Starr e Mick Bertilorenzi.
O seu protagonista é Richard Junkin, um falhado. Antiga glória do futebol universitário, afastado do desporto por uma lesão, desde então sonha com a fama que a sua prática – em qualquer ocupação – desmente.
Quando o seu patrão lhe pede para deixar o lugar de vendedor de automóveis – em que mais uma vez é uma nulidade – para se tornar o anjo da guarda da sua filha – um chamariz de sarilhos – Junkin está longe de imaginar os sarilhos em que se está a meter.
Desenvolvimento
Este é mais um elo na longa corrente da relação entre a banda desenhada e o policial.
Bem escrita e desenvolvida, a história reúne todos os ingredientes clássicos do género: um protagonista, falhado mas simpático, que parece ter conseguido o seu momento de sorte na vida, um crime que (parece) perfeito, paixão, sexo, violência, traições, surpresas…
Azzarello demonstra a habitual mestria na sua condução. Uma longa introdução para conhecermos Junkin, o seu passado, curto mas glorioso, o presente, longo e decadente, bem como as outras personagens que o acompanharão ao longo da trama.
Depois, o desenvolvimento, de certa forma paralelo, da sua relação com Vicki, a filha mimada do patrão e Sally. A forma como se aproxima da primeira sem esquecer a segunda, o que o conduzirá a um primeiro homicídio. Avançando, segue-se o adensar da trama, a criação de álibis, culpados improváveis ou falsos e o final surpreendente onde, apesar de alguns ajustes, (quase) tudo - todos – volta(m) ao seu lugar.
Em suma, uma história dinâmica e bem ritmada, com potencialidade para segurar o leitor…
… mas que poderia ser bem mais interessante se o desenhador, o espanhol Victor Santos, tivesse sabido acompanhar o seu argumentista ou, pelo menos, manter um traço estável ao longo do livro. Porque, na verdade, esta obra revela um autor em busca da sua identidade gráfica, oscilando entre vinhetas ao nível de (maus) fanzines, com outras cujos modelos são claramente Eduardo Risso e Frank Miller. A par disso, se por vezes consegue apresentar um traço perfeitamente legível, vinhetas há que são quase incompreensíveis, merecendo também nota negativa o tratamento muitas vezes dado aos rostos, inacabados ou com expressões forçadas.
Por isso, o resultado global, desequilibrado e longe dos modelos gráficos seguidos, não ultrapassa o mediano, desperdiçando os créditos concedidos pelo argumento.
A reter
- O argumento de Azzarello, estruturado, credível, com personagens bem definidas, com tudo para agradar aos apreciadores do género e não só.
Menos conseguido
- O traço de Santos, desigual e poucas vezes inspirado.
Curiosidade
- Filthy Rich é o título original do livro.
Brian Azzarello (argumento)
Victor Santos (desenho)
Delcourt (França, 20 de Abril de 2011)
167 x 257 mm, 200 p., pb, brochado com badanas, 14,95 €
Resumo
Este é o segundo volume de uma nova colecção da Delcourt, que publicará bandas desenhadas provenientes do selo Vertigo, pertencente ao catálogo da DC Comics, e que foi iniciada em Março com Le Frisson, de Jason Starr e Mick Bertilorenzi.
O seu protagonista é Richard Junkin, um falhado. Antiga glória do futebol universitário, afastado do desporto por uma lesão, desde então sonha com a fama que a sua prática – em qualquer ocupação – desmente.
Quando o seu patrão lhe pede para deixar o lugar de vendedor de automóveis – em que mais uma vez é uma nulidade – para se tornar o anjo da guarda da sua filha – um chamariz de sarilhos – Junkin está longe de imaginar os sarilhos em que se está a meter.
Desenvolvimento
Este é mais um elo na longa corrente da relação entre a banda desenhada e o policial.
Bem escrita e desenvolvida, a história reúne todos os ingredientes clássicos do género: um protagonista, falhado mas simpático, que parece ter conseguido o seu momento de sorte na vida, um crime que (parece) perfeito, paixão, sexo, violência, traições, surpresas…
Azzarello demonstra a habitual mestria na sua condução. Uma longa introdução para conhecermos Junkin, o seu passado, curto mas glorioso, o presente, longo e decadente, bem como as outras personagens que o acompanharão ao longo da trama.
Depois, o desenvolvimento, de certa forma paralelo, da sua relação com Vicki, a filha mimada do patrão e Sally. A forma como se aproxima da primeira sem esquecer a segunda, o que o conduzirá a um primeiro homicídio. Avançando, segue-se o adensar da trama, a criação de álibis, culpados improváveis ou falsos e o final surpreendente onde, apesar de alguns ajustes, (quase) tudo - todos – volta(m) ao seu lugar.
Em suma, uma história dinâmica e bem ritmada, com potencialidade para segurar o leitor…
… mas que poderia ser bem mais interessante se o desenhador, o espanhol Victor Santos, tivesse sabido acompanhar o seu argumentista ou, pelo menos, manter um traço estável ao longo do livro. Porque, na verdade, esta obra revela um autor em busca da sua identidade gráfica, oscilando entre vinhetas ao nível de (maus) fanzines, com outras cujos modelos são claramente Eduardo Risso e Frank Miller. A par disso, se por vezes consegue apresentar um traço perfeitamente legível, vinhetas há que são quase incompreensíveis, merecendo também nota negativa o tratamento muitas vezes dado aos rostos, inacabados ou com expressões forçadas.
Por isso, o resultado global, desequilibrado e longe dos modelos gráficos seguidos, não ultrapassa o mediano, desperdiçando os créditos concedidos pelo argumento.
A reter
- O argumento de Azzarello, estruturado, credível, com personagens bem definidas, com tudo para agradar aos apreciadores do género e não só.
Menos conseguido
- O traço de Santos, desigual e poucas vezes inspirado.
Curiosidade
- Filthy Rich é o título original do livro.
17/05/2011
Leituras de Banca
Maio 2011
Títulos que começaram ontem a ser distribuídos nas bancas portuguesas.
Panini
Marvel
Avante Vingadores #44
Homem-Aranha #106
Os Novos Vingadores #81
Wolverine #70
X-Men #104
Universo Marvel #4
DC Comics
Batman #95
Liga da Justiça #95
Superman #95
Universo DC #4
Manga
Vampire Knight #3
Turma da Mónica
Almanaque da Mônica #24
Almanaque do Cascão #24
Almanaque do Cebolinha #24
Cascão #47
Cebolinha #47
Chico Bento #47
Grande Almanaque da Turma da Mônica #8
Magali #47
Maurício Apresenta #11 – Turma da Mônica e O Segredo de Papai Noel
Mônica #47
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #47
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #47
Turma da Mónica – Saiba mais #38 – Dinossauros
Turma da Mônica Jovem #29
Mythos
Para os fãs de Julia Kendall e/ou Mágico Vento, este é um mau mês, pois estes dois títulos não estarão à venda nas bancas portuguesas, devido a um atraso que ocorreu aquando do seu lançamento no mercado brasileiro.
TEX 466 - Expedição ao México
TEX COLEÇÃO 258 - Tortura
OS GRANDES CLÁSSICOS DE TEX 25 - El Gringo
TEX ANUAL 11 - Nas Trilhas do Oeste
ZAGOR 115 - Resgate Desesperado
ZAGOR EXTRA 79 - Homens e Feras
ZAGOR ESPECIAL 28 - Chico na Ilha do Tesouro
Títulos que começaram ontem a ser distribuídos nas bancas portuguesas.
Panini
Marvel
Avante Vingadores #44
Homem-Aranha #106
Os Novos Vingadores #81
Wolverine #70
X-Men #104
Universo Marvel #4
DC Comics
Batman #95
Liga da Justiça #95
Superman #95
Universo DC #4
Manga
Vampire Knight #3
Turma da Mónica
Almanaque da Mônica #24
Almanaque do Cascão #24
Almanaque do Cebolinha #24
Cascão #47
Cebolinha #47
Chico Bento #47
Grande Almanaque da Turma da Mônica #8
Magali #47
Maurício Apresenta #11 – Turma da Mônica e O Segredo de Papai Noel
Mônica #47
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #47
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #47
Turma da Mónica – Saiba mais #38 – Dinossauros
Turma da Mônica Jovem #29
Mythos
Para os fãs de Julia Kendall e/ou Mágico Vento, este é um mau mês, pois estes dois títulos não estarão à venda nas bancas portuguesas, devido a um atraso que ocorreu aquando do seu lançamento no mercado brasileiro.
TEX 466 - Expedição ao México
TEX COLEÇÃO 258 - Tortura
OS GRANDES CLÁSSICOS DE TEX 25 - El Gringo
TEX ANUAL 11 - Nas Trilhas do Oeste
ZAGOR 115 - Resgate Desesperado
ZAGOR EXTRA 79 - Homens e Feras
ZAGOR ESPECIAL 28 - Chico na Ilha do Tesouro
Leituras relacionadas
2011,
Maio,
Mythos,
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Turma da Mônica
16/05/2011
Manuel António Pina
Prémio Camões 2011
Cronista lúcido, ácido e mordaz, cuja leitura da sua coluna Por Outras Palavras não dispenso diariamente na última página do “nosso” Jornal de Notícias, criador como há poucos de histórias infantis – adultas na forma como se apresentam aos seus pequenos (em tamanho) leitores, tratando-os como iguais, e como nos agradam a nós, ”grandes” leitores -, poeta de eleição, jornalista reconhecido, Manuel António Pina foi distinguido na passada quinta-feira com um justo e merecido Prémio Camões.
E se dessa obra vasta e diversificada nos últimos dias se encarregaram outros, uns melhor, outros nem tanto, mesmo sabendo que não são a sua área de eleição, quero destacar hoje duas intervenções que teve relacionadas com as histórias aos quadradinhos - nas quais sei que partilha comigo o gosto por obras como The Spirit ou Corto Maltese…
Como autor, em 1996, a convite da Gec Alsthom, uma das empresas concorrentes à adjudicação da construção do (então) futuro Metro do Porto, Manuel António Pina sonhou esse futuro sobre carris na cidade que há décadas adoptou como sua, levando nesse sonho aos quadradinhos os leitores de “Uma viagem fantástica”, desenhada por Rui Azul.
Antes, em 1987, como redactor responsável pela área cultural, quando acreditou em mim e me convidou para escrever no Jornal de Notícias, primeiro de forma irregular, depois assinando a coluna semanal Aos Quadradinhos que durou uma década. Por isso, se esta escrita (aos quadradinhos) é hoje o centro da minha vida, acredito que o devo, em grande parte, a ele.
Obrigado – também por isso – caro Pina.
Nota: Escrito para ser publicado na própria quinta-feira, este texto apenas surge hoje devido aos problemas que afectaram o Blogger e que me impediram de fazer actualizações mais cedo. Porque acredito que esta singela homenagem é justa e devida, ela aqui fica na mesma hoje.
Cronista lúcido, ácido e mordaz, cuja leitura da sua coluna Por Outras Palavras não dispenso diariamente na última página do “nosso” Jornal de Notícias, criador como há poucos de histórias infantis – adultas na forma como se apresentam aos seus pequenos (em tamanho) leitores, tratando-os como iguais, e como nos agradam a nós, ”grandes” leitores -, poeta de eleição, jornalista reconhecido, Manuel António Pina foi distinguido na passada quinta-feira com um justo e merecido Prémio Camões.
E se dessa obra vasta e diversificada nos últimos dias se encarregaram outros, uns melhor, outros nem tanto, mesmo sabendo que não são a sua área de eleição, quero destacar hoje duas intervenções que teve relacionadas com as histórias aos quadradinhos - nas quais sei que partilha comigo o gosto por obras como The Spirit ou Corto Maltese…
Como autor, em 1996, a convite da Gec Alsthom, uma das empresas concorrentes à adjudicação da construção do (então) futuro Metro do Porto, Manuel António Pina sonhou esse futuro sobre carris na cidade que há décadas adoptou como sua, levando nesse sonho aos quadradinhos os leitores de “Uma viagem fantástica”, desenhada por Rui Azul.
Antes, em 1987, como redactor responsável pela área cultural, quando acreditou em mim e me convidou para escrever no Jornal de Notícias, primeiro de forma irregular, depois assinando a coluna semanal Aos Quadradinhos que durou uma década. Por isso, se esta escrita (aos quadradinhos) é hoje o centro da minha vida, acredito que o devo, em grande parte, a ele.
Obrigado – também por isso – caro Pina.
Nota: Escrito para ser publicado na própria quinta-feira, este texto apenas surge hoje devido aos problemas que afectaram o Blogger e que me impediram de fazer actualizações mais cedo. Porque acredito que esta singela homenagem é justa e devida, ela aqui fica na mesma hoje.
Leituras relacionadas
Efeméride,
Manuel António Pina,
Prémio Camões
15/05/2011
Selos & Quadradinhos (45)
Stamps & Comics / Timbres & BD (45)
Tema/subject/sujet: Philatelie de la Jeunesse – Spirou
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1988
Tema/subject/sujet: Philatelie de la Jeunesse – Spirou
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1988
Leituras relacionadas
Bélgica,
Philatelie de la Jeunesse,
Selos e Quadradinhos,
Spirou
14/05/2011
Selos & Quadradinhos (44)
Stamps & Comics / Timbres & BD (44)
Tema/subject/sujet: Philatelie de la Jeunesse – Bob et Bobette
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1987
Tema/subject/sujet: Philatelie de la Jeunesse – Bob et Bobette
País/country/pays: Bélgica/Belgium/Belgique
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1987
12/05/2011
Patte de velours
Collection Mirages
Pascal Bertho (argumento)
Korkydu (desenho)
Delcourt (França, Março de 2005)
210 x 260 mm, 96 p., cor, cartonado com sobrecapa, 14,95 €
Em tempos, os contos de fadas tinham um príncipe e uma princesa que tinham de mover céu e terra, vencer bruxas, dragões ou monstros, com a ajuda de fadas ou duendes, para atingirem o almejado final feliz em que casavam, tinham muitos filhos e viviam juntos para sempre, tudo seguindo a boa moral e os melhores costumes, para delícia e (escape) de quem lia.
Em "Patte de velours" a história é diferente: o príncipe e a princesa deram lugar a gente normal, como cada um de nós, mesmo que ela desenhe BD; os inimigos a vencer tomam a forma de ex-namoradas estranhamente possessivas, chefes de escritório anormalmente atiradiças ou amigos bem intencionados mas - por isso - incomodativos; como fada temos um gato-correio feito Cupido involuntário e como moral da história aparece um suposto conto chinês que fala da necessidade de tomarmos decisões e construirmos o nosso próprio futuro, não deixando tudo nas mãos do acaso.
Os seus autores são Pascal Bertho, responsável pelos diálogos realistas e pelo toque de humor, e Korkydu, dono de um desenho que, não sendo brilhante, cativa, é funcional, expressivo e transmite o ritmo certo à narrativa que, não tendo o habitual final feliz, deixa tudo em aberto para que tal aconteça. Ou talvez não, porque - convém não esquecer - esta é uma história de vidas.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 1 de Janeiro de 2006)
Pascal Bertho (argumento)
Korkydu (desenho)
Delcourt (França, Março de 2005)
210 x 260 mm, 96 p., cor, cartonado com sobrecapa, 14,95 €
Em tempos, os contos de fadas tinham um príncipe e uma princesa que tinham de mover céu e terra, vencer bruxas, dragões ou monstros, com a ajuda de fadas ou duendes, para atingirem o almejado final feliz em que casavam, tinham muitos filhos e viviam juntos para sempre, tudo seguindo a boa moral e os melhores costumes, para delícia e (escape) de quem lia.
Em "Patte de velours" a história é diferente: o príncipe e a princesa deram lugar a gente normal, como cada um de nós, mesmo que ela desenhe BD; os inimigos a vencer tomam a forma de ex-namoradas estranhamente possessivas, chefes de escritório anormalmente atiradiças ou amigos bem intencionados mas - por isso - incomodativos; como fada temos um gato-correio feito Cupido involuntário e como moral da história aparece um suposto conto chinês que fala da necessidade de tomarmos decisões e construirmos o nosso próprio futuro, não deixando tudo nas mãos do acaso.
Os seus autores são Pascal Bertho, responsável pelos diálogos realistas e pelo toque de humor, e Korkydu, dono de um desenho que, não sendo brilhante, cativa, é funcional, expressivo e transmite o ritmo certo à narrativa que, não tendo o habitual final feliz, deixa tudo em aberto para que tal aconteça. Ou talvez não, porque - convém não esquecer - esta é uma história de vidas.
(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 1 de Janeiro de 2006)
11/05/2011
Mezek
Collection Signé
Yann (argumento)
André Juillard (desenho)
Le Lombard (França, Abril de 2011)
320 x 240 mm, 72 p., cor, cartonado
15,95 €
Resumo
1948. O jovem estado de Israel, que acaba de proclamar a sua independência, tenta afirmar-se num período conturbado, rodeado de inimigos e intrigas.
Para o conseguir, contrata aviadores mercenários de todas as nacionalidades, o que não deixa de criar tensões e confrontos com os pilotos judeus.
Desenvolvimento
Se há dias referi aqui Jean-Claude Denis como um dos meus desenhadores de eleição, hoje cabe a vez a outro, André Juillard. Que com aquele, pouco (ou nada) tem em comum.
Onde o traço de Denis é grosso, sujo e quase rude, Juillard aposta em traço fino, limpo e delicado; se os tons predominantes de Denis são sombrios, as pranchas de Juillard irradiam cores quentes, alegria, gosto pela vida. Nada os une, portanto – para lá de serem cultores (bem diferentes) da linha clara – mas ambos me agradam. E se Denis tem tido um percurso gráfico mais homogéneo, Juillard tem-se distinguido não tanto nos seus sucessos mais comerciais (”Les sept vies de l’épervier” e respectivas sequelas ou na retoma de “Blake e Mortimer) mas mais em obras que se adivinham mais pessoais: desde logo o magnífico “Le cahier bleu” (seguido de “L’Aprés la pluie”), “Les Voyages de Lena” ou este “Mezek”.
Para concluir esta referência ao grafismo de Juillard, uma nota para o seu rigor e realismo, expresso no tratamento da figura humana, nos cenários, nos veículos – neste caso concreto em especial nos aviões, merecendo destaque a credibilidade e a leveza dos combates aéreos.
Mas, sendo justo, tenho que vincar que o interesse de “Mezek” vai bem além do magnífico traço de Juillard (o que é uma mais valia), começando logo pelo período abordado, rico em contradições, conflitos e dúvidas.
Porque, se bem que inebriado pela independência acabada de declarar unilateralmente, o novo estado de Israel passava por lutas internas de poder, por choques constantes sobre os caminhos a seguir, pela pressão exercida pelos vizinhos muçulmanos, em especial pelos egípcios, responsáveis por constantes bombardeamentos sobre a capital, Telavive, e pelos ex-colonizadores britânicos, com quem as relações eram tensas e periclitantes. Um início que assentou, por exemplo, na contratação de mercenários, nalguns casos ex-inimigos, na compra de aviões Messerschmit) alemães (ex-nazis…), no tráfico e contrabando de peças, armas e até aviões…
Tudo isto, é explanado com mestria por Yann, de forma ao mesmo tempo clara e completa mas leve, não sobrecarregando a história que – assente numa sólida base histórica que perpassa todas as suas pranchas – tem como motor, maioritariamente, os relacionamentos entre os pilotos que lutam nos ares em defesa de Israel. Movidos pelo dinheiro, a ambição, o idealismo e/ou a utopia…
De um lado os pilotos locais, judeus - pertencentes a diferentes facções… - inexperientes e revoltados pelo pagamento principesco dos mercenários contratados. Do outro, estes últimos, muitos deles ases da II Guerra Mundial recém-concluída, com a dupla função de pilotar e formar os judeus. O conjunto resulta num clima de tensão constante e muitos conflitos na base em que todos têm de (con)viver.
Entre os mercenários destaca-se o sueco Björn, alvo das atenções de três belas mulheres: a norte-americana Jackie e as israelitas Tzipi e Oona. Björn, em quem se centram as atenções, que guarda não um mas dois segredos relacionados com o seu passado – de sentidos opostos, até (!), que é impossível deixar entrever sem estragar o prazer da sua descoberta na leitura - que, uma vez descobertos porão em causa, quer a sua relação com aquelas mulheres, quer a sua posição no seio da esquadrilha israelita, quer as razões que o movem no seu envolvimento na causa israelita.
“Mezek” é, assim, desde os bombar-deamentos das primeiras páginas, que marcam logo o tom algo cru, duro e violento do álbum e definem as condições difíceis em que evoluem as suas personagens, que ostentam cicatrizes (interiores) que custam a sarar, um verdadeiro boião de tensões, de conflitos latentes, de contradições difíceis de explicar e difíceis de aceitar, que ameaçam explodir a qualquer momento e destruir o instável equilíbrio em que, na prática, viveu o estado de Israel nos seus primeiros tempos de vida.
A reter
- A consistência histórica do relato e a sua completa integração no lado ficcional do relato.
- O traço (e a cor) de Juillard, belo, realista, preciso, expressivo, sedutor, dinâmico…
Menos conseguido - A excessiva parecença entre algumas personagens.
A frase
- “O que me agradou foi o simbolismo do Estado de Israel salvo pelos Messerschmitt alemães. É uma alegoria maravilhosa. Foi o meu ponto de partida.” (Yann)
Curiosidades
- “Mezek”, termo checoslovaco para “mula”, era a designação usada para referir os aviões alemães Messerschmitt.
- Surpresa! Descubra na vinheta ao lado, ao fundo, duas personagens bem conhecidas que Juillard também já desenhou!
Yann (argumento)
André Juillard (desenho)
Le Lombard (França, Abril de 2011)
320 x 240 mm, 72 p., cor, cartonado
15,95 €
Resumo
1948. O jovem estado de Israel, que acaba de proclamar a sua independência, tenta afirmar-se num período conturbado, rodeado de inimigos e intrigas.
Para o conseguir, contrata aviadores mercenários de todas as nacionalidades, o que não deixa de criar tensões e confrontos com os pilotos judeus.
Desenvolvimento
Se há dias referi aqui Jean-Claude Denis como um dos meus desenhadores de eleição, hoje cabe a vez a outro, André Juillard. Que com aquele, pouco (ou nada) tem em comum.
Onde o traço de Denis é grosso, sujo e quase rude, Juillard aposta em traço fino, limpo e delicado; se os tons predominantes de Denis são sombrios, as pranchas de Juillard irradiam cores quentes, alegria, gosto pela vida. Nada os une, portanto – para lá de serem cultores (bem diferentes) da linha clara – mas ambos me agradam. E se Denis tem tido um percurso gráfico mais homogéneo, Juillard tem-se distinguido não tanto nos seus sucessos mais comerciais (”Les sept vies de l’épervier” e respectivas sequelas ou na retoma de “Blake e Mortimer) mas mais em obras que se adivinham mais pessoais: desde logo o magnífico “Le cahier bleu” (seguido de “L’Aprés la pluie”), “Les Voyages de Lena” ou este “Mezek”.
Para concluir esta referência ao grafismo de Juillard, uma nota para o seu rigor e realismo, expresso no tratamento da figura humana, nos cenários, nos veículos – neste caso concreto em especial nos aviões, merecendo destaque a credibilidade e a leveza dos combates aéreos.
Mas, sendo justo, tenho que vincar que o interesse de “Mezek” vai bem além do magnífico traço de Juillard (o que é uma mais valia), começando logo pelo período abordado, rico em contradições, conflitos e dúvidas.
Porque, se bem que inebriado pela independência acabada de declarar unilateralmente, o novo estado de Israel passava por lutas internas de poder, por choques constantes sobre os caminhos a seguir, pela pressão exercida pelos vizinhos muçulmanos, em especial pelos egípcios, responsáveis por constantes bombardeamentos sobre a capital, Telavive, e pelos ex-colonizadores britânicos, com quem as relações eram tensas e periclitantes. Um início que assentou, por exemplo, na contratação de mercenários, nalguns casos ex-inimigos, na compra de aviões Messerschmit) alemães (ex-nazis…), no tráfico e contrabando de peças, armas e até aviões…
Tudo isto, é explanado com mestria por Yann, de forma ao mesmo tempo clara e completa mas leve, não sobrecarregando a história que – assente numa sólida base histórica que perpassa todas as suas pranchas – tem como motor, maioritariamente, os relacionamentos entre os pilotos que lutam nos ares em defesa de Israel. Movidos pelo dinheiro, a ambição, o idealismo e/ou a utopia…
De um lado os pilotos locais, judeus - pertencentes a diferentes facções… - inexperientes e revoltados pelo pagamento principesco dos mercenários contratados. Do outro, estes últimos, muitos deles ases da II Guerra Mundial recém-concluída, com a dupla função de pilotar e formar os judeus. O conjunto resulta num clima de tensão constante e muitos conflitos na base em que todos têm de (con)viver.
Entre os mercenários destaca-se o sueco Björn, alvo das atenções de três belas mulheres: a norte-americana Jackie e as israelitas Tzipi e Oona. Björn, em quem se centram as atenções, que guarda não um mas dois segredos relacionados com o seu passado – de sentidos opostos, até (!), que é impossível deixar entrever sem estragar o prazer da sua descoberta na leitura - que, uma vez descobertos porão em causa, quer a sua relação com aquelas mulheres, quer a sua posição no seio da esquadrilha israelita, quer as razões que o movem no seu envolvimento na causa israelita.
“Mezek” é, assim, desde os bombar-deamentos das primeiras páginas, que marcam logo o tom algo cru, duro e violento do álbum e definem as condições difíceis em que evoluem as suas personagens, que ostentam cicatrizes (interiores) que custam a sarar, um verdadeiro boião de tensões, de conflitos latentes, de contradições difíceis de explicar e difíceis de aceitar, que ameaçam explodir a qualquer momento e destruir o instável equilíbrio em que, na prática, viveu o estado de Israel nos seus primeiros tempos de vida.
A reter
- A consistência histórica do relato e a sua completa integração no lado ficcional do relato.
- O traço (e a cor) de Juillard, belo, realista, preciso, expressivo, sedutor, dinâmico…
Menos conseguido - A excessiva parecença entre algumas personagens.
A frase
- “O que me agradou foi o simbolismo do Estado de Israel salvo pelos Messerschmitt alemães. É uma alegoria maravilhosa. Foi o meu ponto de partida.” (Yann)
Curiosidades
- “Mezek”, termo checoslovaco para “mula”, era a designação usada para referir os aviões alemães Messerschmitt.
- Surpresa! Descubra na vinheta ao lado, ao fundo, duas personagens bem conhecidas que Juillard também já desenhou!
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Ideias Negras
Integral
Franquin (argumento e desenho)
Witloof (Portugal, Agosto de 2001)
175 x 245, 72 p., pb, cartonado
Se Franquin é justamente conhecido pela melhor fase de Spirou e pelas indescritíveis e hilariantes confusões criadas por Gaston Lagaffe, era uma injustiça que a sua obra mais pessoal estivesse perdida no limbo do esquecimento.
Injustiça recentemente reparada pela reedição integral, num único volume, das suas "Ideias negras", a que a Witloof se associou com um mini-álbum cartonado (pb, 72 p., 12,47 euros), permitindo aos leitores portugueses - naquele que é sem qualquer dúvida um dos lançamentos do ano em curso - descobrirem a faceta mais pessimista de um autor que, paradoxalmente, se distinguiu pelo seu notável sentido de humor.
Nascidas, numa parceria com Yvan Delporte, no "Le trombone illustré", suplemento autónomo da revista Spirou, em 1977, e depois transferidas para a revista "Fluide Glacial", as suas "ideias negras" tanto podem ter como tema base aspectos mais ou menos banais do dia-a-dia ou a (recorrente) caça, como temas mais sérios e globais de que são exemplo a pena de morte, a corrida ao nuclear (então na ordem do dia) ou a própria guerra.
Temas tratados de forma mordaz, transformados em alvos de uma crítica feroz, implacável e violenta, que realça o lado mais estúpido e irracional da natureza humana, e culminam sempre em desfechos funestos mas irresistivelmente divertidos, embora deixem a incómoda sensação de que rimos de algo que não devia ser para rir.
Como disse Franquin: "As 'Ideias negras' são pequenas histórias, um pouco sádicas, um pouco cruéis, mas no entanto engraçadas".
E são narradas com uma técnica notável, num preto e branco muito negro, nervoso e bem trabalhado, em que quase sempre os personagens não passam de silhuetas sombrias, recortadas no branco imaculado da prancha, acentuando o tom sinistro das histórias.
Como complemento, a ser visto com atenção, cada prancha tem uma assinatura igualmente "negra", personalizada de acordo com a temática narrada na página, que funciona como corolário da ideia nela exposta.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Novembro de 2001)
Franquin (argumento e desenho)
Witloof (Portugal, Agosto de 2001)
175 x 245, 72 p., pb, cartonado
Se Franquin é justamente conhecido pela melhor fase de Spirou e pelas indescritíveis e hilariantes confusões criadas por Gaston Lagaffe, era uma injustiça que a sua obra mais pessoal estivesse perdida no limbo do esquecimento.
Injustiça recentemente reparada pela reedição integral, num único volume, das suas "Ideias negras", a que a Witloof se associou com um mini-álbum cartonado (pb, 72 p., 12,47 euros), permitindo aos leitores portugueses - naquele que é sem qualquer dúvida um dos lançamentos do ano em curso - descobrirem a faceta mais pessimista de um autor que, paradoxalmente, se distinguiu pelo seu notável sentido de humor.
Nascidas, numa parceria com Yvan Delporte, no "Le trombone illustré", suplemento autónomo da revista Spirou, em 1977, e depois transferidas para a revista "Fluide Glacial", as suas "ideias negras" tanto podem ter como tema base aspectos mais ou menos banais do dia-a-dia ou a (recorrente) caça, como temas mais sérios e globais de que são exemplo a pena de morte, a corrida ao nuclear (então na ordem do dia) ou a própria guerra.
Temas tratados de forma mordaz, transformados em alvos de uma crítica feroz, implacável e violenta, que realça o lado mais estúpido e irracional da natureza humana, e culminam sempre em desfechos funestos mas irresistivelmente divertidos, embora deixem a incómoda sensação de que rimos de algo que não devia ser para rir.
Como disse Franquin: "As 'Ideias negras' são pequenas histórias, um pouco sádicas, um pouco cruéis, mas no entanto engraçadas".
E são narradas com uma técnica notável, num preto e branco muito negro, nervoso e bem trabalhado, em que quase sempre os personagens não passam de silhuetas sombrias, recortadas no branco imaculado da prancha, acentuando o tom sinistro das histórias.
Como complemento, a ser visto com atenção, cada prancha tem uma assinatura igualmente "negra", personalizada de acordo com a temática narrada na página, que funciona como corolário da ideia nela exposta.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 27 de Novembro de 2001)
08/05/2011
Selos & Quadradinhos (43)
Stamps & Comics / Timbres & BD (43)
Tema/subject/sujet: Astérix
País/country/pays: Tajiquistão / Tajikistan / Tadjikistan
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: ?
Tema/subject/sujet: Astérix
País/country/pays: Tajiquistão / Tajikistan / Tadjikistan
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: ?
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