Há 50 anos,
o jovem e tímido Peter Parker, após ser mordido por uma aranha radioactiva,
ficou com força sobre-humana, um sexto sentido e a capacidade de escalar
paredes. Rapidamente viria a descobrir que esses grandes poderes lhe traziam
grandes responsabilidades…
Nada, no
entanto, fazia prever o sucesso desta criação de Stan Lee e Steve Ditko (ao que
se sabe hoje com uma importante mãozinha de Jack Kirby).
Na verdade,
esse primeiro episódio de apenas 12 páginas, simplesmente intitulado
“Spider-man!”, foi publicado no 15º número da revista “Amazing Fantasy” (de
Agosto de 1962), condenada a acabar aí. O surpreendente número de vendas desse
número, levou Martin Goodman, então o responsável pela Marvel Comics, que
dissera a Lee que as pessoas detestavam aranhas, a promover o regresso do herói
aracnídeo, em revista própria, “The Amazing Spider Man”, de Março de 1963.
Na aventura
de estreia, o adolescente Peter Parker - tímido, desajeitado, esforçado e pouco
popular; em resumo bem humano, segundo Lee alguém com quem os leitores se
podiam identificar - órfão de pai e mãe, a viver com os seus tios May e
Benjamin, veria este último a morrer às mãos de um assaltante que não quisera
deter.
A sombra da
tragédia que desde o início o perseguiu, viria a adensar-se no início da década
de 1970, quando provocou involuntariamente a morte do Capitão Stacy, quase umpai para ele, e poucos meses depois, da sua filha Gwen, a sua primeira
namorada,
num tempo em que as mortes nas histórias de super-heróis ainda eram
definitivas…
Depois de
uma escaldante relação com a ladra Gata Negra, assumiria a sua longa relação
romântica com a ruiva Mary Jane, futura modelo, com quem se casou em 1987. Com
altos e baixos, o casamento durou até 2006, quando foi apagado da memória de
todos (!) – juntamente com 20 anos de bandas desenhadas marcantes - na
controversa saga “One more day”, na sequência de um acordo com Mefisto para
salvar a vida da sua tia May, assumindo Peter, de novo, a vida de solteirão
desajeitado, mais ajustada à realidade dos seus leitores…
Divulgado
em Portugal durante muitos anos em edições brasileiras, o Homem-Aranha teve a
sua primeira revista lusa, da Agência Portuguesa de Revistas, em 1978, e
regressou já na década de 1990 com o selo da Devir, tendo a tira diária que
Stan Lee e John Romita iniciaram em 1977 sido publicada no Jornal de Notícias.
Ao longo de
50 anos, Peter Parker/Homem-Aranha, um dos primeiros super-heróis fantasiados
de Nova Iorque, foi estudante, fotógrafo no jornal de J.J. Jameson, o seu maior
detractor, professor e cientista, enfrentou uma das mais fantásticas galerias
de vilões da BD - Duende Verde, Abutre, Rhino, Kraven, Dr. Octopus, Electro,
Lagarto, Homem-Areia, Venom… - foi substituído por clones, dominado por um
simbionte extraterrestre, assistiu à morte e ressurreição dos seus entes
queridos e também de adversários, viu a tia quase casada com o Dr. Octopus e
casar mesmo com o pai de JJJ, estreou em desenhos animados em 1967, em série
televisiva live-action dez anos depois e no cinema em 1973 (num filme turco não
autorizado onde era vilão!), teve versões japonesa, indiana e futurista,
revelou a sua identidade secreta ao mundo durante a Guerra Civil que opôs
super-heróis, foi muitas vezes mal compreendido por aqueles que tentou ajudar,
sentiu-se impotente nas ruínas do World Trade Center a 11 de Setembro de 2001 e
chegou mesmo a salvar Barack Obama (!) do vilão Camaleão, sem nunca perder o
sentido de responsabilidade nem as características bem humanas que fizeram dele
um dos mais amados pelos leitores.
A revista
“Amazing Spider Man” #692, deste mês, assinala os 50 anos do seu protagonista e
promete fazer história. Não só por ter várias capas diferentes, mas também por
introduzir Alpha, um adolescente que será em breve o parceiro de um Peter
Parker mais velho.
Para além
disso, este número inclui uma história desenhada pelo português Nuno Plati
Alves, desenhador regular da revista “Ultimate Spider-Man”, que publica este
mês o seu quarto número.
Foi Josh
Fialkov, o argumentista, que já tinha trabalhado com o desenhador português,
quem o escolheu devido ao seu “estilo expressivo, maravilhoso, que capta a
alegria e a emoção das personagens”. Na BD de 22 páginas, sem qualquer
super-vilão, Peter Parker tenta ajudar um adolescente vítima de bullying,
contando-lhe como é um dos seus dias normais.
(Versão
revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 11 de Agosto de 2012)
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