Nas Origens do Z
Morvan e Yann (argumento)
Munuera (desenho)
ASA (Portugal, Julho de 2012)
218 x 300 mm, 56 p., cor, cartonado
Resumo
Para salvar Miss Flanner, condenada à morte devido a uma
dose excessiva de radiação sofrida na sua juventude, Zorglub tenta convencer
Spirou a efectuar diversos saltos temporais com o intuito de estar presente naquele
momento trágico e evitá-lo.
Desenvolvimento
Este é o álbum “maldito” (no mercado francófono) – que a ASA,
por outros motivos, acredito, tinha saltado na sua cronologia – que levou ao
afastamento de Morvan e Munuera dos destinos do antigo groom de hotel.
A razão para isso foi, sem dúvida, o seu tom demasiado
adulto para o contexto da série – com um cancro terminal como centro da trama…
- demasiado taciturno mesmo, com um final de todo inadequado (de novo no
contexto global da série…) e que permitiria mudar radicalmente a personagem –
ou pelo menos – o seu futuro.
A Morvan e Munuera aconteceu o mesmo que tinham
experimentado Tome e Janry quando criaram o também muito estimulante (e adulto…) Máquina que sonha.
E, tal como neste último título, é pena que este álbum seja
o fechar de um ciclo (que “Paris submersa” de algum modo já antecipava, embora
não certamente com tanta amplitude) pois poderia abrir um futuro bem diferente
para Spirou.
Ou talvez esse fosse um futuro impossível – como na verdade
se revelou, dado o afastamento dos autores – pela impossibilidade de se ir mais
além sem descaracterizar de todo um herói que resistiu à passagem de tantas
gerações.
De qualquer forma – mesmo que detestado pelos “verdadeiros
fãs indefectíveis” – esta é, a vários níveis, uma excelente história, bem
escrita, bem contextualizada na cronologia da série e bem desenvolvida, assente
num traço mais realista do que habitualmente vemos em Spirou, mas muito
agradável e eficaz.
Porquê?
Sem revelar mais do argumento, que merece ser descoberto
progressivamente na leitura atenta das pranchas, porque revisita – com paixão e
(saudável) nostalgia – momentos fulcrais de diversos álbuns anteriores.
Porque dá a Spirou, Zorglub e Pacómio (o conde de
Champignac) uma dimensão humana - que os heróis de aventuras raramente têm e
que lhes era estranha no âmbito da série – assente em sentimentos e emoções
como a amizade e o amor.
Porque – apesar do que atrás fica listado? - mantém
presentes aspectos recorrentes das aventuras de Spirou e Fantásio, como o
humor, a acção, a disponibilidade para ajudar, os triângulos Spirou-Pacómio-Zorglub
e Spirou-Seccotine-Fantásio ou as mirabolantes invenções do conde e de Zorglub.
Conjugando-os, de forma equilibrada, consistente e credível,
com a temática das viagens no tempo, cujos paradoxos são bem utilizdosa para
surpreender e desconcertar o leitor…
Nota final
Parando e relendo o que até aqui escrevi, recordando passagens
marcantes deste belo álbum, dou por mim a pensar se aplaudiaria da mesma
maneira, um álbum que tratasse de forma semelhante Astérix ou Tintin, criações
com as quais cresci e de que tenho maior proximidade, ao contrário do que se
passa com Spirou…
Porque, talvez apenas esse distanciamento torne possível
apreciar – plenamente - aquilo que outros – mais próximos dele – consideram um
crime de lesa-Spirou.
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