05/07/2017

A Leoa

Como uma (bela) história…



Transformar a vida numa história que apetece ser lida é o segredo das boas biografias.
A Leoa fá-lo.
E consegue mais, transformar a vida de uma quase desconhecida - quantos saberão de Karen Blixen mais para além de ter sido interpretada no filme África Minha por Meryl Streep? - numa personalidade interessante e com vida própria.
Passando maioritariamente ao lado de datas, formação, vida familiar e ocupação profissional - embora elas, as que contam e importam, estejam lá - A Leoa vive assente nos sonhos e anseios desta dinamarquesa e na sua relação estranha mas apelativa com o fantástico.
O ‘baptizado’ inicial por 7 fadas - Shakespeare, Sherazade, um leão, o diabo, uma cegonha, Nietzsche, um rei africano – que em diferentes épocas e de diferentes modos ‘iriam balizar’ a sua vida; a relação forte e próxima com o pai, um sonhador sem o peso das pátrias, viajante, aventureiro e curioso; a rejeição do espartilho da moral e bons costumes vigentes; o desejo de relações igualitárias com os homens que amou; o respeito por todos os outros e pelas suas diferenças; foram as linhas mestras da sua vida e são as linhas mestras deste romance gráfico, traçado também de forma livre, fluída e não confinada às páginas do livro, mas com uma larga margem de interpretação por parte do leitor.
Se tudo na vida de Karen Blixen, a tal Leoa, a conduziu ao seu desígnio final de grande contadora de histórias, a abordagem de Pandolfo e Risbjerg, como já aflorado, apesar de algumas oscilações narrativas, tem sucesso naquilo que geralmente mais falha: prender o leitor à história da vida de uma quase desconhecida e transformar um romance gráfico que à partida pode levantar algumas dúvidas numa leitura compensadora e até surpreendente.
Graficamente a obra apresenta igualmente alguns desequilíbrios - a passagem do conseguido preto e branco de O Astrágalo para a cor não é pacífica - resultantes do alternar de belas pranchas - quase sempre paisagísticas - com aquelas em que predomina a figura humana, às quais o insuficiente tratamento dos olhos retira quase sempre expressividade.

A Leoa
Um Retrato Gráfico de Karen Blixen
Anne-Caroline Pandolfo (argumento)
Terkel Risbjerg (desenho)
205 x 280 mm, 192 p., cor, capa dura
ISBN: 978-84-16510-35-1
17,99 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

5 comentários:

  1. Esta é daquelas obras da g.floy que vou ter de passar, por causa do preço. Tem mais umas páginas mas 17.99 € comparado com os habituais 9.99 € a 11.99 € é ainda uma grande diferença mas isto foi G.Floy que me habitou mal :D De qualquer forma este comentário do Pedro ao livro deu me vontade de ler a obra.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Fico satisfeito, Eduardo!
      Foi uma obra que me surpreendeu.
      Boas leituras!

      Eliminar
  2. atenção que o formato é maior do que o habitual. todos os euros valem BEM a pena!

    ResponderEliminar
  3. Não me tinha chamado a atenção quando foi anunciado mas esta crítica do Pedro deixou-me curioso...acho que vou ter de gastar 20 euritos a mais este mês... :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É para isso que o blog existe, Eskorpiao!
      Como disse acima, fui agradavelmente surpreendido por este livro...
      Boas leituras!

      Eliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...