Depois do volume dedicado a Fernão de Magalhães, uma das surpresas de 2018, a colecção Descobridores, da Gradiva, prossegue com o primeiro de dois volumes sobre Darwin e o estabelecimento da sua Teoria da Evolução.
Dedicado aos primeiros anos do naturalista inglês, revela-nos a sua
vida desde a infância e adolescência, até aos primeiros meses a
bordo do Beagle. Nele, descobrimos um protagonista dividido entre a
falta de ambições para a vida e o respeito e submissão ao pai, um
jovem indeciso entre a vocação eclesiástica (forçada...?) e a
curiosidade do (potencial) naturalista, realçando o dilema crescente
para conseguir encaixar nas suas crenças religiosas as sucessivas
descobertas que a viagem por lugares exóticos e distantes lhe vão
proporcionando, mostrando como cada novo animal, esqueleto ou fóssil
o afastavam cada vez mais do relato bíblico que até então sempre
tivera por infalível. E o tornavam alvo de críticas por parte de
alguns dos que o acompanhavam ou com ele conviviam, pelo choque entre
a (nova) ciência e a religião vigente.
O grande trunfo desta banda desenhada, como habitual em grande parte
das abordagens históricas originárias do mercado franco-belga -
onde o contexto da BD e o seu estatuto na sociedade o permitem e
potenciam - é a forma como os autores conseguem narrar a
História como se fosse ficção, equilibrando a sua
veracidade com um relato vivo e estimulante - que no final deixa o
leitor a ansiar pelo volume #2.
O principal responsável é o argumentista Christian Clot - que já
desempenhava o mesmo papel em Magalhães: Até ao fim do mundo
(o volume com que a Gradiva
inaugurou esta sua colecção), membro da Societé des
Explorateurs Français, que assim combina duas das suas paixões: a
BD e a descoberta do nosso planeta. Com os textos descritivos
reduzidos ao mínimo, utiliza os diálogos para fazer avançar o
relato e para fornecer a informação necessária para o leitor
compreender o protagonista e o situar no contexto da sua época,
tendo por base uma pesquisa histórica rigorosa, documentada no
dossier final, bastante acessível e complementar da narrativa aos
quadradinhos.
O traço de Fabio Bono, podendo não ser especialmente atraente no
tratamento da fisionomia humana, revela-se muito competente na
reconstrução naval, na representação animal e do movimento dos
seres vivos, brilhando mesmo nalgumas páginas em que foge a uma
planificação mais tradicional, optando por vinhetas de grande
dimensão em que insere outras menores.
No conjunto da prestação de Clot e Bono, Darwin
1. A bordo do Beagle apresenta-se como uma leitura fluída
e consistente, fazendo com que o jovem Darwin surja quase como um
herói dos quadradinhos tradicional, por quem o leitor se descobre
interessado e até a torcer pelo seu sucesso.
Darwin 1. A bordo do Beagle
Colecção: Descobridores
Christian Clot (argumento)
Fabio Bono (desenho)
Gradiva
Portugal, Janeiro de 2018
234 x 310 mm, 56 p., cor, capa dura
16,50 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a extensão; versão revista e aumentada do texto
publicado no Jornal de Notícias de 17 de Fevereiro de 2019)
Ainda nâo sei quanto ao resto do livro, mas só esta ultima imagem que aqui apresentas é de uma beleza que muito me agrada!!!
ResponderEliminarEsta colecção foi uma agradável surpresa. Comprei o primeiro logo de seguida, este segundo vol. e fico ansioso pelo seguinte.
ResponderEliminarNão deixa de ser interessante, a Gradiva ter decidido lançar um terceiro volume que não é a continuação do Darwin.
ResponderEliminarSerá que pretende lançar a coleção na totalidade? E será fomos mal habituados com a GFloy, de ser informados do que se vai editar e este "não saber nada" da Gradiva é a norma?
Sim, a G. Floy habituou-nos mal, mas continua a ser um caso à parte.
EliminarMas a Gradiva já tinha anunciado este volume na contracapa do anterior, dedicado ao Darwin... Da mesma forma que anunciara o Darwin na contracapa do Magalhães...
Boas leituras!