Depois de um início prometedor - pela nova abordagem a um herói clássico - mas ainda incerto e com arestas a limar, estes dois volumes de Alix Senator revelam um ganho de consistência e uma solidificação da sua base que justifica uma leitura atenta - e não só por quem em tempos apreciou a série original.
Leitura mais adulta - pelo tom, pela violência explícita, pelo centrar do enredo nas intrigas políticas, pelo próprio crescimento/envelhecimento da personagem central que surge assim com outra postura e interesses - Alix Senator, no entanto, ainda surge preso a alguns dos maniqueísmos do original de Jacques Martin pese embora o facto (relevante) do titular da série ter uma presença menos omnipresente - e omnipotente... E, possivelmente, não poderia ser de outra forma, para que a ponte - necessária em termos mediáticos e, principalmente, de vendas - se possa estabelecer de forma sólida. Não será por acaso, aliás, que mais para a frente na série haja ligações - quase continuações afastadas por décadas - entre os álbuns da juventude e os da idade madura de Alix.
Este último, depois de frustrar o atentado contra Augusto no primeiro volume - As águias de sangue - volta ao Egipto - onde tantas aventuras viveu (e foi feliz?) - para um reencontro inesperado e (pouco?) emotivo com alguém que julgava perdido - são os tais maniqueísmos...
Com Roma a viver uma situação instável, Alix e os seus companheiros têm de lutar pela própria vida, questionando tudo e todos - das relações mais próximas ao que davam por adquirido a vários níveis - para conseguirem sobreviver e fazer gorar os planos dos conspiradores.
A solidificação que referi acima, revela-se também na dupla linha argumental seguida por Valérie Mangin que, se por um lado, desenvolve a intriga política - o que lhe permite fortes cenas de acção - por outro, explora também as relações familiares e de amizade - sempre determinantes no quotidiano de Alix - conferindo ao relato uma outra dimensão emocional que complementa o conjunto.
Graficamente, Thierry Démarrez continua a mostrar-se à altura do (grande) desafio que lhe foi proposto, pese embora algumas dificuldades ao nível dos rostos patentes aqui e ali, mas com uma reconstrução de época credível e convincente a todos os níveis.
Uma nota final para referir que este terceiro tomo o primeiro ciclo da série - algo sempre de saudar, sabendo-se que já em Abril a Gradiva editará o volume #4.
Notas finais
- A primeira é para referir que este terceiro tomo encerra o primeiro ciclo da série - algo sempre de saudar - sabendo-se que já em Abril a Gradiva editará o volume #4.
- A segunda vem alertar para uma disparidade - inócua agora, mas que poderá levantar algumas confusões dentro de alguns anos - devido ao facto de no final do segundo tomo jser anunciado o seguinte como A conjura das aves de rapina, que agora se viu transformado em A conjura das rapaces, o que até retira força ao título - impedindo eventualmente a sua compreensão por alguns dos potenciais leitores. Mais a mais, quando ao longo dos três álbuns, nunca o termo 'rapaces' é utilizado no seu miolo.
Alix
Senator #2 - O último faraó
Alix
Senator #3 - A conjura das rapaces
Baseado
na obra de Jacques Martin
Valérie
Mangin (argumento)
Thierry
Démarez (desenho e cor)
Gradiva
Portugal,
Julho de 2021/Março de 2022
233
x
313 mm, 48
p.,
cor,
capa dura
16,50
€
(imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nesta ligação ou nesta ligação para apreciar mais pranchas ou nas aqui mostradas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Eu que nem era grande apreciador do Alix, neste regresso tornei-me um apreciador, principalmente da arte e dos cenários arquitectónicos, muito bom.
ResponderEliminarConcordo que "as aves de rapina" resultava melhor!
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