Tem por título A
Polaroid em branco, foi lançada no Amadora BD que decorre até
dia 30 no Sky Skate Amadora Park e é a primeira banda desenhada
portuguesa ilustrada com recurso a Inteligência Artificial (IA).
Motivos mais do que
suficientes para uma conversa à distância por e-mail com Mário
Freitas, simultaneamente seu autor e editor no novo selo Mário
Breathes Comics, da Kingpin Books.
Fica já a seguir a
versão integral que esteve na base do artigo O trabalho dosdesenhadores não está em perigo, publicado na página online do
Jornal de Notícias a 19 de Outubro de 2022.
As Leituras do Pedro - Faz um breve resumo da história.
Mário Freitas - Ao deparar-se com uma velha polaroid, o protagonista recorda um período da vida em que ostentava com orgulho um bigode, antiquado que fosse. Acabou por ceder a pressões sociais e cortou-o, o que o arrastou para momentos de incerteza e angústia. Em seu auxílio, surgiu então a Fada dos Bigodes, que o conduziu através de um mundo feito de bigodes diversos, em busca de um com o qual se identificasse.
As Leituras do Pedro - A Polaroid em branco foi ilustrado com recurso a IA. Explica como funciona isso.
Mário Freitas - Executo um comando com aquilo que pretendo e a IA cria 4 imagens com base nisso. A partir daí posso gerar variações de cada uma dessas imagens.
Depois de escolher a que pretendo, faço várias alterações e retoques em Photoshop, alterando cores se necessário, e desenhando eu próprio alguns detalhes. Também sou eu , naturalmente, que defino o layout das páginas e monto as imagens em função disso. O que é fundamental perceber é que uma IA não faz BD sozinha, nem sequer ilustra sozinha o resultado final que se vê. Pelos comentários que leio, há quem não perceba isto de todo, e não tenha noção da intervenção humana que é necessária para tornar a experiência numa BD real e, esperamos, de qualidade.
As Leituras do Pedro - Principais prós e contras do processo?
Mário Freitas - O resultado dos comandos é ainda muito imprevisível e raramente se obtém exactamente o que se pretende. Isso abre por outro lado outras possibilidades, e obriga a ser muito criativo na construção da história. A IA é quase um parceiro temperamental que desenha o que lhe apetece e, sobretudo, como lhe apetece. Esta história, aliás, partiu de uma ideia que me surgiu com base nalgumas imagens que estava a gerar como experiência. Diria que a principal vantagem é que alguém como eu, que não domina o desenho mas faz tudo o resto na BD, possa ter uma história completa e pronta num espaço de tempo muito mais curto do que aquilo que leva um ilustrador a desenhar (a não ser que seja o Osvaldo [Medina], claro, que é quase tão rápido com a IA).
As Leituras do Pedro - O trabalho dos desenhadores está em perigo?
Mário Freitas - De forma alguma. Jamais no médio prazo e diria que nunca. A IA sintetiza informação, pelo que incorpora os estilos de todos os ilustradores que já existiram. Para haver arte nova, estilos novos, estaremos sempre dependentes de humanos criativos. Diria que é mais uma vertente criativa que surge, que tanto pode ser aproveitada por argumentistas, como também pelos próprios artistas. A IA ainda é fraca a gerar imagens de pessoas, mas cria cenários espantosos, pelo que isso pode ser perfeitamente incorporado nas ilustrações feitas por humanos.
As Leituras do Pedro - Quais são as características da edição?
Mário Freitas - 16 páginas, cor, agrafos, 16,50 x 23,50 cm. É uma BD curta, mas nem por isso menos ambiciosa.
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nesta ligação para ver mais pranchas; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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