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05/07/2020
02/12/2018
Jorge Magalhães (1938-2018)
Faleceu
no passado sábado à noite Jorge Magalhães.
Como
coordenador da 5.ª série do “Mundo de Aventuras”, teve um papel
fundamental para a minha formação enquanto leitor de BD, pelo cunho
eclético que imprimiu à revista onde publicou de tudo um pouco:
obras clássicas e modernas, autores europeus e americanos, relatos
de super-heróis, westerns, policiais, fantásticos, de
antecipação..., sempre com um carinho especial para os criadores
portugueses.
08/07/2017
22/06/2016
09/02/2013
A arte de... Franco Caprioli
Franco Caprioli
No centenário do desenhador poeta
Jorge Magalhães
GICAV
5,00 €
DVD com
material inédito que é uma versão expandida da publicação lançada em Moura aquando da exposição dedicada ao mestre italiano.
Inclui os
seguintes capítulos:
1)
Monografia
2)
Histórias do Mar - três histórias completas e inéditas no nosso país (em
substituição de “Olac, o Gladiador”): Capitan Gambedilegno – Il
Giornalino nº 13 (1972); Il mozzo del Sant’Elia – Il Giornalino nº 18
(1972); Balene d’assalto – Il Giornalino nº 22 (1973)
3) As
12 mais belas histórias de Caprioli – segundo as preferências de Fulvia
Caprioli, Luiz Beira, Jorge Magalhães, Carlos Rico e Carlos Almeida
4) Galeria
de Imagens – fotos e desenhos de família (por especial deferência de Fulvia
Caprioli)
5) Con
Franco Caprioli Nell’Aventura del Mare” – páginas antológicas do desenhador que
ficou conhecido como “O Poeta do Mar”
6)
Quadriculografia portuguesa e brasileira de Caprioli
7) Nota
biográfica
8) Os
herdeiros de Caprioli – uma breve referência aos filhos do artista, Fabrizio
(já falecido) e Fulvia (que teve uma colaboração muito importante na realização
de uma boa parte deste trabalho).
12/07/2012
Franco Caprioli
No centenário do
desenhador poeta
Colecção J.M. #4
Jorge Magalhães (texto)
C.M. Moura (Portugal, Junho de 2012)
208 x 290 mm, 56 p., cor, brochado
1.
Num país pouco dado à defesa do seu património
(também aos quadradinhos), não é demais destacar e enaltecer o trabalho que,
paulatinamente, a Câmara Municipal de Moura (através do labor de Carlos Rico)
tem desenvolvido nesta área.
2.
Não só pelo Salão Internacional de Banda
Desenhada, que atingirá a sua 18º edição em 2013…
3.
… mas principalmente pelos valiosos catálogos
que vem editando, dedicados aos autores homenageados em cada salão…
4.
… ou na “Colecção J.M.” (Jorge Magalhães,
entenda-se) onde, depois de “Banda Desenhada e Ficção Científica – As madrugadas
do futuro”, “O ‘Western’ na BD Portuguesa” e “Vítor Péon e o ‘Western’ – De Denver
Bill a “Tomahawk” Tom”…
5.
… surge agora “Franco Caprioli - No centenário
do desenhador poeta”, edição integrada na comemoração do centenário de Franco Caprioli.
6.
Esta recuperação de algum do património nacional
aos quadradinhos, tem tido como sustentáculo o saber e a erudição de um dos
maiores conhecedores da BD nacional, Jorge Magalhães, responsável pela formação
de muitos leitores de quadradinhos – nos quais me incluo - no tempo em que a existência
de revistas periódicas o permitia…
7.
Agora, debruçou-se sobre a obra de Franco
Caprioli, um mestre clássico e um virtuoso do desenho, cuja biografia traça de
forma sóbria, sem ser exaustivo mas destacando os seus principais momentos, a sua técnica apurada e original (baseada num magnífico traço fino e no uso de pontilhado para definir sombras e volumes) asa
suas preferências e motivações, as obras que criou e onde foram publicadas...
8.
Como complementos, são indicadas todas as
publicações nacionais que reproduziram obras do mestre italiano, uma lista
longa e que me surpreendeu pela quantidade de álbuns editados com a sua
assinatura, e é reproduzida, a cores, um episódio da série "Olac, the gladiator", realizado para a "Tiger Annual", em 1962.
9.
A edição, em papel brilhante, de boa gramagem –
que merecia uma capa mais consistente ou no mínimo lombada quadrada – é profusamente
ilustrada, quase sempre a cores – uma agradável surpresa para quem, como eu,
sempre tinha lido Caprioli a preto e branco - constituindo-se assim um
importante elemento, não só de divulgação mas também de consulta.
10. Fica
o lamento – apenas – em relação à sua curta tiragem (500 exemplares) e fraca
(inexistente?) distribuição, que não permite que chegue a todos os leitores que
o texto de Jorge Magalhães e a obra de Caprioli mereciam.
Leituras relacionadas
C.M. Moura,
Caprioli,
Jorge Magalhães
19/07/2011
O Western na BD portuguesa (II)
Depoimentos (I)
A propósito dos 70 anos de “O Cavaleiro Misterioso”, primeiro western realista dos quadradinhos portugueses, eis o depoimento sobre este temática de dois dos maiores conhecedores da BD nacional, Jorge Magalhães e João Paulo Paiva Boléo:
Jorge Magalhães
Quanto à sua intenção de evocar os 70 anos de "O Cavaleiro Misterioso", de outro grande e inesquecível Mestre, o Fernando Bento, felicito-o vivamente pela ideia, mas lembro-lhe que na BD portuguesa há "westerns" mais antigos, ainda que de índole humorística e em estilo caricatural. Portanto, convém frisar que este terá sido o precursor, entre nós, do "western" sério, chamemos-lhe assim, ainda que apresentado num estilo também semi-caricatural, longe da forma sofisticadamente realista que o traço de Bento evidenciaria mais tarde; o seu conteúdo, porém, era nitidamente inspirado no modelo que, pela mesma altura, começava a vigorar nas histórias de "cowboys" europeias, distinguindo-se por completo, nesse aspecto, das criações humorísticas das décadas de 20 e 30.
Verdadeiramente, o "western" realista, tanto no fundo como na forma, só nasceu entre nós em 1943, com a publicação n'O Mosquito da primeira história de Vítor Péon, "Falsa Acusação", esse sim um "western" com todos os condimentos do género e muito inspirado pelo estilo das HQ inglesas, nomeadamente as de Reg Perrott, como "A Flecha de Oiro" e "Red o Vingador".
Péon haveria ainda de realizar mais dois "westerns": "O Juramento de Dick Storm", também n'O Mosquito, e "Três Balas", n'O Pluto, antes de E.T. Coelho se estrear com outra história do género n'O Mosquito: "O Grande Rifle Branco", embora esta tivesse sido realizada inicialmente para a revista espanhola Chicos, onde surgiu em 1944. Coelho foi outro autor importantíssimo na evolução do género entre nós, pela valiosa contribuição artística e temática que lhe conferiu com aventuras como "Falcão Negro, o Filho de Jim West", "Tempestade no Forte Benton", "As Vítimas do Sol", "Terra Turbulenta" e sobretudo "Lobo Cinzento", todas publicadas n'O Mosquito. Só depois disso é que começou a afirmar-se o seu pendor para a BD histórica, género em que se especializou durante a época em que foi colaborador do Vaillant. Neste e no Pif Gadget, ainda realizou alguns "westerns" dignos de nota, como "Davy Crockett" e "Ayak, o Lobo Branco", mas num estilo já bastante distanciado do fulgor inicial, patente também nas numerosas ilustrações que fez para O Mosquito, sobretudo nas capas que dedicou às esfusiantes novelas de José Padinha ou no "Jim West", de Raul Correia, onde nasceu, em sentido literal, a personagem Falcão Negro.
Quanto a Péon, o seu contributo para o "western" na BD portuguesa foi tanto ou mais relevante que o de E.T. Coelho, ressalvadas, claro, as diferenças de nível artístico, não só devido ao volume da sua produção como ao impacto que teve junto dos leitores, especialmente com o mais carismático dos seus heróis, Tomahawk Tom, cuja longa carreira durou desde 1950 até 1975, com breves intervalos. A sua influência, tal como a de Coelho, estendeu-se a outros autores mais jovens, como José Garcês, José Ruy e Jayme Cortez, que não resistiram a abordar também este género, mas sem o mesmo relevo nem a mesma assiduidade. Praticamente, todos os desenhadores dessa época, em que a BD popular estava no auge - embora revelassem mais aptidões para outro tipo de aventuras -, renderam homenagem, ainda que esporadicamente, ao "western". O próprio Fernando Bento não foi excepção.
Só nos anos 80, o "western" teve entre nós um breve, mas assinalável revivalismo, com José Pires e Augusto Trigo, ambos desenhadores de veia realista e muito influenciados pelas criações de autores europeus como Giraud, Hermann, Blanc-Dumont ou Derib. Pires, cuja estreia no género data de 1962, no Cavaleiro Andante, teve uma excelente criação no Tintin belga, o Irigo, realizada de parceria com Jean Dufaux, e Trigo revelou-se um desenhador de grandes recursos com Wakantanka, uma série que eu lhe sugeri e que, de início, era para ter só um episódio com 12 páginas, mas acabou por transformar-se numa série com dois álbuns publicados e um terceiro que nunca passou das intenções.
É claro que o "western" atravessou a história da nossa BD, desde os anos 40, como um género maior e extremamente popular, que permitiu aos pioneiros da escola realista como Péon e Coelho criarem um estilo próprio, libertando-se gradualmente da influência, sobretudo estética, da BD inglesa. E sugestionou também, embora de forma esporádica, aqueles autores que hoje consideramos seus discípulos, que ao abordarem um género "difícil" e exigente insuflaram novo vigor ao seu próprio estilo. Até humoristas como Artur Correia e Carlos Roque não escaparam à atracção do género, abordando-o de forma original. A popularidade das aventuras de "cowboys" nunca diminuiu, como prova a sua proliferação no Mundo de Aventuras e noutras revistas, com histórias tanto de origem americana como inglesa, que contribuíram largamente para que uma geração de novos desenhistas surgisse nos anos 70 e 80, continuando a prestar-lhes tributo. Exemplos: Vassalo Miranda, Zenetto, António Ruivo e Joa (Joaquim de Oliveira). Além de Trigo e José Pires, evidentemente. Mas, depois deles, foi o canto de cisne do "western" na BD portuguesa...
A terminar este longo comentário - mais longo do que era meu propósito - gostaria de dar conhecimento de uma classificação que fiz em tempos (obviamente parcial e subjectiva) dos 10 melhores "westerns" da BD portuguesa:
• "Falsa Acusação", de Vitor Péon - O Mosquito, 1943 (por ser verdadeiramente o primeiro e notável como obra de estreia)
• "O Grande Rifle Branco", de E.T. Coelho - Chicos, 1944 e O Mosquito, 1946
• "O Rei da Campina", de António Barata e Orlando Marques - O Faísca, 1944
• "Falcão Negro, o Filho de Jim West", de E.T. Coelho e Raul Correia - O Mosquito, 1946
• "O Segredo das Águas do Rio", de José Garcês - O Mosquito, 1947
• "Lobo Cinzento", de E.T. Coelho - O Mosquito, 1948
• "A Vingança do Jaguar", de Vitor Péon - O Mosquito, 1949
• "Tomahawk Tom, o Aventureiro", de Vitor Péon e Edgar Caygill (Roussado Pinto) - Mundo de Aventuras, 1950 (com destaque para o 1º episódio)
• "Wakantanka, o Povo Serpente", de Augusto Trigo e Jorge Magalhães - Álbum da Meribérica, 1988 (peço desculpa por me incluir também nesta lista, mas o grande "culpado" é o Trigo)
• "Shannon: O Poço da Morte", de José Pires - Álbum da Futura, 1989
João Paulo Paiva Boléo
Pensava ter tempo para uma investigaçãozinha, sob pena de poder não me lembrar de coisas importantes. Assim, vou só alinhavar meia dúzia de notas, mas só autorizo a sua reprodução se for expressamente referido que é um brevíssimo apontamento de memória, com o que isso implica de poderem faltar coisas importantes.
Mas há um ponto prévio fundamental – é um erro (que me abstenho de adjectivar) dizer que a historinha de Bento no PPP é o primeiro western português.
Assim, convém ter presente que o primeiro western português aos quadradinhos não é O Cavaleiro Misterioso de Fernando Bento no Pim Pam Pum!, mas, em princípio, “As estupendas façanhas do Cow-boy façanhudo”, na 2ª série do ABC-zinho em 1926, de António Cristino, um espantoso precursor pouco lembrado e pouco conhecido, isto se não considerarmos western a segunda aventura de Cottinelli Telmo na revista ABC, “A grande fita americana” em 1920-21. E também não podem ser esquecidas, no Senhor Doutor,em 1934-35, as “Aventuras de “Tom Migas”e do seu cavalo “Caralinda” de Oskar Pinto Lobo, notável em termos gráficos e de cor.
A importância do western na BD portuguesa está relacionada com a popularidade do género (cinematográfico) em Portugal desde muito cedo, o que levou à popularidade na própria BD e a fazer parte das influências que marcaram a história da BD portuguesa desde muito cedo. Mesmo sem ir para exemplos mais antigos, como Red Ryder, Cuto nos domínios dos Sioux ou Lance (Flecha, actualmente a ser editado por Manuel Caldas), a popularidade do género está viva em exemplos como Blueberry ou Comanche.
Resumindo, destacaria quatro desenhadores, dois da “idade clássica” e dois herdeiros dela. Vítor Péon teve westerns importante em Portugal e no estrangeiro, com realce para “Tomahawk” Tom, um dos mais populares heróis da BD portuguesa. Eduardo Teixeira Coelho, o mais reputado, com “Falcão Negro” e outros, de que me permito destacar Lobo Cinzento. E mais tarde, José Pires, nomeadamente com “Irigo” na Bélgica, e Augusto Trigo (com o argumentista Jorge Magalhães) com “Wakantanka”.
Mas claro que houve muitos mais, de Carlos Botelho a António Barata, etc. O melhor é recomendar o erudito estudo de Jorge Magalhães, editado pela Câmara Municipal de Moura, O Western na BD portuguesa.
E não se poderá de algum modo considerar um western bem português o excelente “A lei do trabuco e do punhal: Mataram-no duas vezes”, de Pedro Massano” (com Luís Avelar)?
Sobre o mesmo tema ler também:
- O Western na BD portuguesa
- O Western na BD portuguesa: depoimentos de José Ruy e João Amaral (amanhã)
A propósito dos 70 anos de “O Cavaleiro Misterioso”, primeiro western realista dos quadradinhos portugueses, eis o depoimento sobre este temática de dois dos maiores conhecedores da BD nacional, Jorge Magalhães e João Paulo Paiva Boléo:
Jorge Magalhães
Quanto à sua intenção de evocar os 70 anos de "O Cavaleiro Misterioso", de outro grande e inesquecível Mestre, o Fernando Bento, felicito-o vivamente pela ideia, mas lembro-lhe que na BD portuguesa há "westerns" mais antigos, ainda que de índole humorística e em estilo caricatural. Portanto, convém frisar que este terá sido o precursor, entre nós, do "western" sério, chamemos-lhe assim, ainda que apresentado num estilo também semi-caricatural, longe da forma sofisticadamente realista que o traço de Bento evidenciaria mais tarde; o seu conteúdo, porém, era nitidamente inspirado no modelo que, pela mesma altura, começava a vigorar nas histórias de "cowboys" europeias, distinguindo-se por completo, nesse aspecto, das criações humorísticas das décadas de 20 e 30.
Verdadeiramente, o "western" realista, tanto no fundo como na forma, só nasceu entre nós em 1943, com a publicação n'O Mosquito da primeira história de Vítor Péon, "Falsa Acusação", esse sim um "western" com todos os condimentos do género e muito inspirado pelo estilo das HQ inglesas, nomeadamente as de Reg Perrott, como "A Flecha de Oiro" e "Red o Vingador".
Péon haveria ainda de realizar mais dois "westerns": "O Juramento de Dick Storm", também n'O Mosquito, e "Três Balas", n'O Pluto, antes de E.T. Coelho se estrear com outra história do género n'O Mosquito: "O Grande Rifle Branco", embora esta tivesse sido realizada inicialmente para a revista espanhola Chicos, onde surgiu em 1944. Coelho foi outro autor importantíssimo na evolução do género entre nós, pela valiosa contribuição artística e temática que lhe conferiu com aventuras como "Falcão Negro, o Filho de Jim West", "Tempestade no Forte Benton", "As Vítimas do Sol", "Terra Turbulenta" e sobretudo "Lobo Cinzento", todas publicadas n'O Mosquito. Só depois disso é que começou a afirmar-se o seu pendor para a BD histórica, género em que se especializou durante a época em que foi colaborador do Vaillant. Neste e no Pif Gadget, ainda realizou alguns "westerns" dignos de nota, como "Davy Crockett" e "Ayak, o Lobo Branco", mas num estilo já bastante distanciado do fulgor inicial, patente também nas numerosas ilustrações que fez para O Mosquito, sobretudo nas capas que dedicou às esfusiantes novelas de José Padinha ou no "Jim West", de Raul Correia, onde nasceu, em sentido literal, a personagem Falcão Negro.
Quanto a Péon, o seu contributo para o "western" na BD portuguesa foi tanto ou mais relevante que o de E.T. Coelho, ressalvadas, claro, as diferenças de nível artístico, não só devido ao volume da sua produção como ao impacto que teve junto dos leitores, especialmente com o mais carismático dos seus heróis, Tomahawk Tom, cuja longa carreira durou desde 1950 até 1975, com breves intervalos. A sua influência, tal como a de Coelho, estendeu-se a outros autores mais jovens, como José Garcês, José Ruy e Jayme Cortez, que não resistiram a abordar também este género, mas sem o mesmo relevo nem a mesma assiduidade. Praticamente, todos os desenhadores dessa época, em que a BD popular estava no auge - embora revelassem mais aptidões para outro tipo de aventuras -, renderam homenagem, ainda que esporadicamente, ao "western". O próprio Fernando Bento não foi excepção.
Só nos anos 80, o "western" teve entre nós um breve, mas assinalável revivalismo, com José Pires e Augusto Trigo, ambos desenhadores de veia realista e muito influenciados pelas criações de autores europeus como Giraud, Hermann, Blanc-Dumont ou Derib. Pires, cuja estreia no género data de 1962, no Cavaleiro Andante, teve uma excelente criação no Tintin belga, o Irigo, realizada de parceria com Jean Dufaux, e Trigo revelou-se um desenhador de grandes recursos com Wakantanka, uma série que eu lhe sugeri e que, de início, era para ter só um episódio com 12 páginas, mas acabou por transformar-se numa série com dois álbuns publicados e um terceiro que nunca passou das intenções.
É claro que o "western" atravessou a história da nossa BD, desde os anos 40, como um género maior e extremamente popular, que permitiu aos pioneiros da escola realista como Péon e Coelho criarem um estilo próprio, libertando-se gradualmente da influência, sobretudo estética, da BD inglesa. E sugestionou também, embora de forma esporádica, aqueles autores que hoje consideramos seus discípulos, que ao abordarem um género "difícil" e exigente insuflaram novo vigor ao seu próprio estilo. Até humoristas como Artur Correia e Carlos Roque não escaparam à atracção do género, abordando-o de forma original. A popularidade das aventuras de "cowboys" nunca diminuiu, como prova a sua proliferação no Mundo de Aventuras e noutras revistas, com histórias tanto de origem americana como inglesa, que contribuíram largamente para que uma geração de novos desenhistas surgisse nos anos 70 e 80, continuando a prestar-lhes tributo. Exemplos: Vassalo Miranda, Zenetto, António Ruivo e Joa (Joaquim de Oliveira). Além de Trigo e José Pires, evidentemente. Mas, depois deles, foi o canto de cisne do "western" na BD portuguesa...
A terminar este longo comentário - mais longo do que era meu propósito - gostaria de dar conhecimento de uma classificação que fiz em tempos (obviamente parcial e subjectiva) dos 10 melhores "westerns" da BD portuguesa:
• "Falsa Acusação", de Vitor Péon - O Mosquito, 1943 (por ser verdadeiramente o primeiro e notável como obra de estreia)
• "O Grande Rifle Branco", de E.T. Coelho - Chicos, 1944 e O Mosquito, 1946
• "O Rei da Campina", de António Barata e Orlando Marques - O Faísca, 1944
• "Falcão Negro, o Filho de Jim West", de E.T. Coelho e Raul Correia - O Mosquito, 1946
• "O Segredo das Águas do Rio", de José Garcês - O Mosquito, 1947
• "Lobo Cinzento", de E.T. Coelho - O Mosquito, 1948
• "A Vingança do Jaguar", de Vitor Péon - O Mosquito, 1949
• "Tomahawk Tom, o Aventureiro", de Vitor Péon e Edgar Caygill (Roussado Pinto) - Mundo de Aventuras, 1950 (com destaque para o 1º episódio)
• "Wakantanka, o Povo Serpente", de Augusto Trigo e Jorge Magalhães - Álbum da Meribérica, 1988 (peço desculpa por me incluir também nesta lista, mas o grande "culpado" é o Trigo)
• "Shannon: O Poço da Morte", de José Pires - Álbum da Futura, 1989
João Paulo Paiva Boléo
Pensava ter tempo para uma investigaçãozinha, sob pena de poder não me lembrar de coisas importantes. Assim, vou só alinhavar meia dúzia de notas, mas só autorizo a sua reprodução se for expressamente referido que é um brevíssimo apontamento de memória, com o que isso implica de poderem faltar coisas importantes.
Mas há um ponto prévio fundamental – é um erro (que me abstenho de adjectivar) dizer que a historinha de Bento no PPP é o primeiro western português.
Assim, convém ter presente que o primeiro western português aos quadradinhos não é O Cavaleiro Misterioso de Fernando Bento no Pim Pam Pum!, mas, em princípio, “As estupendas façanhas do Cow-boy façanhudo”, na 2ª série do ABC-zinho em 1926, de António Cristino, um espantoso precursor pouco lembrado e pouco conhecido, isto se não considerarmos western a segunda aventura de Cottinelli Telmo na revista ABC, “A grande fita americana” em 1920-21. E também não podem ser esquecidas, no Senhor Doutor,em 1934-35, as “Aventuras de “Tom Migas”e do seu cavalo “Caralinda” de Oskar Pinto Lobo, notável em termos gráficos e de cor.
A importância do western na BD portuguesa está relacionada com a popularidade do género (cinematográfico) em Portugal desde muito cedo, o que levou à popularidade na própria BD e a fazer parte das influências que marcaram a história da BD portuguesa desde muito cedo. Mesmo sem ir para exemplos mais antigos, como Red Ryder, Cuto nos domínios dos Sioux ou Lance (Flecha, actualmente a ser editado por Manuel Caldas), a popularidade do género está viva em exemplos como Blueberry ou Comanche.
Resumindo, destacaria quatro desenhadores, dois da “idade clássica” e dois herdeiros dela. Vítor Péon teve westerns importante em Portugal e no estrangeiro, com realce para “Tomahawk” Tom, um dos mais populares heróis da BD portuguesa. Eduardo Teixeira Coelho, o mais reputado, com “Falcão Negro” e outros, de que me permito destacar Lobo Cinzento. E mais tarde, José Pires, nomeadamente com “Irigo” na Bélgica, e Augusto Trigo (com o argumentista Jorge Magalhães) com “Wakantanka”.
Mas claro que houve muitos mais, de Carlos Botelho a António Barata, etc. O melhor é recomendar o erudito estudo de Jorge Magalhães, editado pela Câmara Municipal de Moura, O Western na BD portuguesa.
E não se poderá de algum modo considerar um western bem português o excelente “A lei do trabuco e do punhal: Mataram-no duas vezes”, de Pedro Massano” (com Luís Avelar)?
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