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11/05/2010

A herança de Bois-Maury - Vassya

Yves H. (argumento) e Hermann (desenho)
Vitamina BD (Portugal, Outubro de 2009)
222 x 300, 48 p., cor, cartonado


O ano é 1604 e o contexto histórico a guerra pelo poder na Rússia entre o Czar Boris Godunov e Grigori Otrepiev, apoiado pelos cossacos polacos, um impostor que se faz passar por herdeiro e que ficou na História como o “falso Dimitri”. Mas a história – para lá da História – é um relato de desejo e vingança.
Vassya, um dos cossacos, dá título ao livro, mas na verdade – como sempre nesta série, aliás, em torno dos descendentes do cavaleiro Aymar de Bois-Maury, protagonista do ciclo inicial “As Torres de Bois- Maury”, parcialmente editado em Portugal - o protagonismo é vivido no feminino, através de Douniachka, uma mulher à frente do seu tempo, por ter (e exercer…) opinião(, desejos) e vontade própria. Porque se é ela o objecto de desejo – de Vassya, o marido demasiado ausente, de Aymar, o descendente do seu homónimo original, e de Kolya e os seus zaporogas – ela também sente e quer. Numa época em que à mulher cabia um papel de subserviência e de pouco mais do que objecto ao serviço dos homens.
E, também por isso, vai ser Douniachka quem está na origem dos desejos de vingança de Kolya e dos seus companheiros, quando Aymar os impede de consumarem a sua violação. Num relato em que as personagens se vão cruzando, aumentando as animosidades e a tensão.
Por isso, esta é, antes de mais, uma história humana, sim – aspecto reforçado até pelo papel (falsamente) secundário do avô de Douniachka – embora menos estimulante do que seria desejável, reconheço, porque algo previsível. E também crua – como têm ultimamente sido quase todos os relatos desenhados por um Hermann desencantado com os seus semelhantes – porque testemunho de onde o ser humano pode chegar quando os (piores) sentimentos se impõem à razão.
Fica, mais uma vez, como principal atractivo, o extraordinário trabalho gráfico de Hermann, com um traço realista assente em soberbas cores directas – a que a impressão não faz inteira justiça –, num notável jogo de luz e sombras, em especial nas cenas nocturnas ou ao entardecer, e numa planificação sóbria mas muito eficiente, de que é bom exemplo a cena muda inicial.

(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 1 de Maio de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
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