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23/07/2013

Destructor








Coleción 100 % Max
Robert Kirkman e John Arcudi (argumento)
Cory Walker e Steve Ellis (desenho)
Panini Comics
Espanha, Junho de 2013
170 x 260 mm, 144 p., cor, brochada com badanas
13,00 €


Introdução
Destructor foi um super-herói que surgiu em 1941, nas páginas da revista “Mystic Comics”, criado para combater os exércitos de Hitler.
Jornalista americano em acção na Alemanha para investigar os horrores cometidos pelos nazis, acabaria preso num campo de concentração, onde conheceu um cientista que lhe forneceu um soro semelhante ao que transformou Steve Rogers no Capitão América. Recebeu, assim, força, agilidade, velocidade e resistências fora do comum, que, após fugir de onde estava preso, usou para combater os seus antigos captores.

Desenvolvimento
Passe o paradoxo, num “mundo real” (quase) todos os confrontos entre super-heróis e os seus inimigos deveriam ser como os de Destructor, com os vilões (literalmente…) desfeitos.
Mas, como tal raramente acontece – menos ainda na dimensão mostrada neste livro – quando surge uma história como esta, em que a violência não tem limites e o sangue jorra em todas as direcções e cobre – literalmente, outra vez… – o (suposto) herói, a reacção do leitor pode ser de surpresa – é-o quase sempre – de nojo ou de divertimento. Ou uma combinação das três, em doses proporcionais ao estômago de cada um.
Aquele último registo, foi o adoptado por Robert Kirkman – sim, é o criador de “The Walking Dead”, aqui num dos seus últimos trabalhos com super-heróis para a Marvel , antes de se dedicar á criação que o tronou famoso.
Ao recuperar Destructor, num tom apropriado para leitores adultos (nos EUA…), optou por o mostrar já com alguma idade, com problemas cardíacos, numa luta contra o tempo (de vida que lhe resta) decidido a assassinar – literalmente, de novo… – uma série de vilões que não quer deixar para trás (de si).
Os confrontos – breves, mas de inusitada violência – são autênticos banhos de sangue, com o protagonista a arrancar braços para enfiar pela boca abaixo do adversário, perfurar inimigos a murro, esmagar corpos ou explodir cabeças na direcção do leitor (como na vinheta que abre o livro), ou seja, a provocar imensos danos (não colaterais) bem visíveis e incontornáveis.
A par deste fechar de ciclo, Kirkman (já aqui…) trabalha bem as questões dos relacionamentos do Destructor – com a mulher, a filha, o cunhado – enquanto prepara a sua passagem de testemunho, num último contraste entre o tom violento e as limitações que a idade impõe.
Curiosamente, o registo gráfico de Cory Walker, despojado de pormenores, com problemas evidentes ao nível dos rostos, mas tornado agradável pelas cores vivas e planas de Val Staples, se atenua o lado (hiper-)violento do relato, contribui também para fazer sobressair o seu inegável tom paródico.

O livro conclui com uma história curta, de John Arcudi e Steve Ellis, protagonizada pelo Destructor original, em luta contra os nazis, e fecha com um mini-dossier com esboços e capas da série.


07/09/2010

Beetle Bailey: 60 anos de inépcia militar

Há 60 anos, Beetle Bailey, eterno recruta, estreava-se numa dúzia de jornais mas o seu criador estava longe de imaginar o seu sucesso e de como este dependeria da sua estreita relação com o exército norte-americano.
Símbolo por excelência da preguiça – “não faças amanhã, o que podes deixar para depois de amanhã”, poderia ser o seu lema tal como “se sentires vontade de trabalhar, deita-te e espera que passe” – e de uma contestação suave e desarmante ao autoritarismo da instituição militar, Bailey (em Portugal mais conhecido como Recruta Zero) sobrevive até hoje, sendo publicado diariamente em centenas de jornais por todo o mundo.
Para o seu progenitor, Mort Walker, nascido a 3 de Setembro de 1923, em El Dorado, no Kansas, desenhar cartoons sempre foi algo tão natural como comer ou beber. Por isso publicou o primeiro desenho no jornal escolar aos 10 anos, vendeu o primeiro cartoon aos 11, criou a primeira série regular – “Limejuicers” – aos 13, tornou-se cartoonista profissional aos 15, dirigiu a primeira revista aos 18 (e criou durante a sua carreira outras séries famosas, como “Hi & Lois”, “Boner’s Ark” ou “Betty Boop and Felix”). Em 1948, após cumprir o serviço militar na II Guerra Mundial (“quatro anos de pesquisa”, dizia ele) e terminar a sua formação universitária, mudou-se para Nova Iorque, onde viu recusados cerca de 200 cartoons, antes de conseguir emprego como editor de quatro títulos na Dell Publishing Company.
Em 1950, cansado do excesso de trabalho e do baixo salário decidiu reciclar Spider, um jovem desengonçado e desleixado, com olhos pequenos e que fumava cachimbo, que era personagem recorrente dos seus gags, tornando-o protagonista de uma tira diária, em meio universitário, entre colegas, miúdas e professores. A King Features aprovou o projecto, embora mudando o título para Beetle Bailey.
A estreia da tira diária foi modesta, apenas numa dúzia de jornais, que tinham aumentado para o dobro ao fim de seis meses, número insuficiente para justificar a sua manutenção, ao fim de um ano de existência, não tivesse a realidade influenciado a ficção. É que a 25 de Junho desse ano, tinha-se iniciado a Guerra da Coreia, o que veio a introduzir um ponto de viragem na vida de Bailey que a 13 de Março de 1951 se alistou para servir no exército norte-americano, vivendo nos quadradinhos da tira de jornal o que experimentavam os seus pares do mundo real.
Destacado para o Camp Swampy (pantanoso), o novo recruta, de quem os quadradinhos nunca mostraram os olhos, sempre sob um chapéu ou boné, viu recrudescer a sua preguiça e demonstrou a maior inépcia para a vida militar, originando as maiores confusões e tornando-se no alvo preferencial do colérico (mas sentimental) Sargento Orville Snorkel. Da sua vida anterior, levou apenas a namorada, destacando-se na nova galeria persona-gens como “Killer” Diller, um mulhe-rengo, Otto, o cão antropo-mórfico de Snorkell, ou o General Amos Halftrack, caquéctico, alcoólico mais interessado no golfe e na (bela) secretária do que nas suas atribuições.
Com eles, demonstrando um enorme sentido de humor, especial predilecção por gags puramente visuais e uma invulgar capacidade de (re)inventar situações, pondo constantemente em causa a autoridade militar, Walker transformou Beetle Bailey num grande sucesso, difundido por centenas de jornais, entre os quais o próprio “Star & Strips”, órgão oficial do exército.
Com o final da guerra, uma tentativa de regresso à vida civil do recruta foi imediatamente rejeitada, provocando inclusive centenas de cartas de protesto por parte dos leitores e condenando Bailey, que também já protagonizava uma prancha dominical colorida desde 14 de Setembro de 1952, a uma eterna vida militar, se é que assim se pode designar o seu desempenho, para gáudio dos seus leitores, que se foram renovando ao longo dos anos.
Com a vida no exército como tema, Beetle Bailey foi sempre uma fonte de polémica. A primeira, significativa, surgiu no final da guerra da Coreia, quando o novo responsável do “Star & Strips”decidiu suspender a sua publicação, considerando-a atentatória da moral (?!) e má para a disciplina do exército, o que incendiou a imprensa em defesa da série.
Quase 20 anos depois, em 1970, a situação repetiu-se quando Walker, apesar da oposição da distribuidora, introduziu um oficial negro, o tenente Flap, sendo acusado pelos negros de os estereotipar e pelos brancos de proselitismo, numa época em que o racismo era uma realidade nos EUA.
Em 1997, as atenções constantes do general Halftrack em relação à sua sedutora secretária, a bela Miss Sheila Buxley, criada em 1982, levaram os movimentos feministas a acusar o autor de promover o assédio sexual.
Em todos estes momentos, após pousar a poeira das críticas, a série saiu sempre reforçada junto do público e incrementou a sua difusão nos jornais.
E a verdade é que o próprio Exército dos EUA, apesar de tudo, se mostrou grato pela sua criação, atribuindo a Mort Walker no ano 2000 a mais alta condecoração com que é possível distinguir um civil.
O sucesso da tira (que em Portugal passou pelo jornal A Capital nos anos 70, bem como por diversas revistas, para além das versões brasileiras que chegavam aos nossos quiosques) originou duas adaptações animadas na televisão, em 1963 e em 1994, inúmeras publicações em revistas e livros, uma homenagem em forma de selo pelos correios norte-americanos, já este ano (o que foi referenciado na própria tira), e rendeu inúmeros prémios a Mort Walker, que desde os anos 80 foi assistido pelo seu filho Greg, actualmente responsável pela série.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 4 de Setembro de 2010)

05/01/2010

Silverfin – As extraordinárias aventuras do jovem James Bond


Charlie Higson (argumento)
Kev Walker (desenho)
Asadelta (Portugal, Novembro 2009)
152 x 226 mm, 162 p., cor, brochada


A exploração da infância/adolescência/juventude de heróis(adultos…) tem sido um filão recorrente quer na literatura, quer no cinema, quer na banda desenhada, por vezes com resultados interessantes que permitem conquistar públicos mais jovens e, por vezes, até dar uma outra vida ao original. Tarzan, Superman, Indiana Jones ou Spirou, são alguns dos exemplos possíveis, a que se junta agora Bond. James Bond.
A quem foi dada uma juventude atribulada com estadia num colégio interno onde a sua condição de órfão (os pais, alpinistas, desapareceram numa escalada) e o estatuto de caloiro, o tornam o alvo preferido das partidas de alunos mais velhos e/ou mais ricos. No entanto, a sua predisposição para investigar mistérios já está latente, e por isso não surpreende encontrá-lo a tentar esclarecer um desaparecimento misterioso ao mesmo tempo que se vê envolvido no dia-a-dia escolar ou numa violenta prova desportiva, através da qual tenta provar o seu valor individual. Sem deslumbrar, a trama, baseada num romance do próprio Higson, num registo entre a aventura e a ficção-científica, de que (ainda) está ausente a componente sexual dos romances e filmes, mas que é condimentada por alguns divertidos piscares de olho ao futuro do protagonista, é narrada em bom ritmo e de leitura agradável. Ou seja, distrai e diverte, tal como o Bond adulto.
Para isso contribui também o desenho de Walker, um autor com um percurso feito nos super-heróis da DC Comics e da Marvel, que opta aqui por um traço um tanto agreste mas bem servido por tons frios e sombrios que ajudam a definir a ambiência do relato.

(Versão revista e aumentada do artigo publicado originalmente a 12 de Dezembro de 2009, na secção de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)


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