28/12/2011

Wonder Woman, sem rugas aos 70 anos

Criada por um psicólogo, como símbolo sexual, a Mulher Maravilha tornou-se rapidamente um sucesso, tornando-se um dos símbolos da DC Comics ao lado de Superman e Batman.
Se a Wonder Woman – Mulher Maravilha na versão portuguesa – não foi a primeira super-heroína da BD, é sem dúvida a mais famosa e a única com publicação contínua desde a sua estreia, em Dezembro de 1941. Isto, mesmo tendo em conta períodos de menor popularidade, devido ao contrato que o seu autor assinou com a editora – então ainda National Comics - em que garantiu a recuperação dos direitos sobre a personagem se a sua publicação fosse suspensa por mais de alguns meses.
O criador desta super-mulher, que surgia na esteira do boom de super-heróis iniciado com Superman (1938) e Batman (1939), foi o psicólogo William Moulton Marston (1893-1947), igualmente inventor do aparelho que deu origem ao polígrafo e autor de um artigo sobre o valor educacional dos comics, publicado em 1940, que fez a sua fama e levou a National a contratá-lo como consultor.
Psicólogo pouco convencional – vivia com duas mulheres! - Marston decidiu tornar-se autor de BD e fazer da sua criação de papel uma bandeira das ideias que defendia: a liberdade sexual e a superioridade das mulheres. Por isso, nas suas histórias iniciais da Wonder Woman, multiplicam-se-se as alusões sexuais e cenas de interpretação dúbia, que contrastavam com a ingenuidade que então caracterizava as bandas desenhadas de super-heróis. Isto, apesar de a nova heroína, desenhada por Harry Peter, nascida em plena II Guerra Mundial e apropriadamente vestida com um sumário uniforme que evoca a bandeira dos Estados Unidos, ter começado por combater os nazis.
Após a estreia em “Introducing Wonder Woman”, BD de 8 páginas publicada na revista “All-Star Comics” nº 8, datada de Dezembro de 1941, a Mulher Maravilha regressaria em Janeiro de 1942, protagonizando já a capa de “Sensation Comics” nº1, onde Marston narrava a sua origem: vivia na Ilha Paraíso, situada no Triângulo das Bermudas, que era o lar das amazonas que possuíam o dom da eterna juventude e onde não havia homens. O despenhamento de um avião pilotado pelo coronel Steve Trevor da Força Aérea Americana – com quem a heroína viria a casar anos mais tarde – levou-a a tratar dele e a transportá-lo para os Estados Unidos.
Demonstrando grande à-vontade com armas tradicionais como espadas, arcos e flechas, lanças e escudos, a Wonder Woman possuía igualmente duas pulseiras indestrutíveis com as quais se defendia dos tiros, um laço mágico que se estica indefinidamente e obriga quem é amarrado por ele a dizer a verdade e uma tiara que podia ser usada como bumerangue.
Terminada a Segunda Guerra Mundial, passou por uma fase atípica e pouco estimulante, na qual defrontou todo o tipo de vilões e ameaças extraterrestres, tendo inclusive tido um estranho avião a jacto invisível para se deslocar.
A estreia da Wonder Woman no pequeno ecrã aconteceu em 1973, numa versão animada da Liga da Justiça que duraria até 1986. Já neste século, regressaria de novo ao lado de Batman, Superman e outros super-heróis, numa série que reflectia as novas orientações das bandas desenhadas.
A primeira película com actores de carne e osso teve lugar em 1974 – depois de uma tentativa gorada em 1967 - num filme protagonizado por Cathy Lee Crosby. Um anos depois, iniciava-se uma das mais fiéis e celebradas adaptações que as histórias aos quadradinhos de super-heróis já tiveram na televisão, a Wonder Woman protagonizada por Lynda Carter. Os 59 episódios divididos por três temporadas, exibidos entre 1975 e 1979, tiveram na banda desenhada a sua principal fonte de inspiração, incluindo o improvável avião invisível.
Já este ano falou-se no possível regresso da super-heroína ao pequeno ecrã, desta vez interpretada por Adrianne Palicki, mas o episódio-piloto entretanto produzido por David E. Kelley, foi reprovado pela NBC.
Ao longo dos seus 70 anos, tendo passado pelas talentosas mãos de Dennis O’Neil, George Pérez, Mike Deodato, John Byrne, Greg Rucka, Gail Simone ou Brian Azzarello, a Wonder Woman, teve a sua origem e identidade reformulada várias vezes, foi substituída em diversas ocasiões – numa das quais pela mãe, a rainha Hipólita –, teve a companhia de três Wonder Girl, flirtou com Superman e Batman, viveu em universos paralelos, integrou várias formações da Liga da Justiça, morreu e ressuscitou como a indústria dos comics nos habituou nos últimos anos e chegou mesmo a matar um vilão, algo invulgar nas narrativas de super-heróis. 
















(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias de 6 de Dezembro de 2011)

27/12/2011

As Figuras do Pedro (XI)

Tintin

Figuras: Tintin, Milu, Haddock, Dupont, Dupond, Cavaleiro de Hadoque, Sackharine, Rackham, Alan segundo o seu visual no filme
Fabricante/Distribuidor: Plastoys
Ano : 2011
Altura : 3 a 6 cm
Material: PVC
Preço: 24,90 €, na FNAC


Uma bela prenda que recebi este Natal...

26/12/2011

Burne Hogarth

O maior desenhador de Tarzan 
O norte-americano Burne Hogarth, considerado por muitos o maior desenhador de Tarzan nos quadradinhos, nasceu a 25 de Dezembro de 1911, fez ontem exactamente 100 anos.
Natural de Chicago, revelou tendência para o desenho desde pequeno, o que levou o seu pai, um simples carpinteiro, a fazer poupanças de modo a inscrevê-lo no Art Institute of Chicago, onde foi admitido aos 12 anos, tendo aprofundado os seus conhecimentos de arte, anatomia e ciências.
Três anos depois, devido ao falecimento do pai, Hogarth teve que começar a trabalhar em publicidade. Em 1929, teve o primeiro contacto com os quadradinhos, como desenhador da tira diária Ivy Hemmanhaw, de pouco sucesso.
Como consequência da Grande Depressão, mudou-se para Nova Iorque, tendo começado a trabalhar como assistente para o King Features Syndicate em 1934, onde, após ter desenhado uma série de piratas, Pieces of Height (1935), sucederia a Hal Foster (futuro criador do Príncipe Valente) na prancha dominical de Tarzan, onde se estreou a 9 de Maio de 1937.
A mudança de artista trouxe progressivamente alterações gráficas à série, na qual Hogarth empregou os seus conhecimentos de anatomia e de arte, combinando classicismo e expressionismo, para obter pranchas de uma grande plasticidade, extremamente dinâmicas e de um esplendor barroco, com um retrato realista e selvagem do herói e dos indígenas e animais com quem se cruzava e que Portugal viu pela primeira vez no Diabrete #101, de 5 de Dezembro de 1942.
A sua ligação ao rei da selva, que revolucionou a forma de narrar aos quadradinhos e lhe valeu o epíteto de “Miguel Ângelo da BD”, prosseguiria até 1950, com um ligeiro interregno (1945-1947) durante o qual se dedicou ao desenho de Drago, uma obra pessoal.
Paralelamente, Hogarth começou também a ensinar desenho na School of Visual Arts, que ajudou a fundar, tendo passado a dedicar-se inteiramente ao ensino após abandonar Tarzan, devido a desentendimentos sobre questões financeiras e de direitos de autor, leccionando disciplinas práticas e de história das artes e escrevendo e desenhando manuais de anatomia que se tornaram uma referência para gerações de artistas.
O apelo da selva e de Tarzan far-se-ia ouvir de novo já na década de 1970, quando recriou em BD dois livros baseados na personagem de Edgar Rice Burroughs que, pela sua qualidade e inovação – duas autênticas graphic novels antes do tempo - lhe valeram diversos prémios.
A morte encontrou-o em Paris, França, a 28 de Janeiro de 1996, um dia após ter sido justamente homenageado no Festival Internacional de BD de Angoulême.








(Texto publicado no Jornal de Notícias de 25 de Dezembro de 2011)

25/12/2011

Feliz Natal


A todos os meus leitores, desejo um
Feliz Natal
com muitas leituras
e tudo o mais que cada um possa desejar!

24/12/2011

Selos & Quadradinhos (71)

Stamps & Comics / Timbres & BD (71)

Tema/subject/sujet: Natal/Christmas/Noel
País/country/pays: Caicos Islands
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 1984





23/12/2011

J. Kendall #79

Sangue do meu sangue
Giancarlo Berardi e Maurizio Mantero (argumento)
Federico Antinori (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Junho de 2011)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
4,00 €
 

Resumo
O assalto a uma clínica de fertilidade e o “rapto” de alguns embriões congelados, pertencentes a pessoas influentes, leva a polícia de Garden City a recorrer uma vez mais à assessoria da criminóloga Julia Kendall, numa história que coloca questões incómodas sobre temas actuais.

Desenvolvimento
Esta é mais uma história de Julia na qual o factor humano se sobrepõe largamente à intriga base policial.
Para começar, atente-se no modo como a trama esta construída, a dois tempos, e como os seus protagonistas – os criminosos, por um lado, e as autoridades policiais e Júlia, por outro – só se cruzam, tangencialmente, uma única vez ao longo de todo o relato, para além do desfecho a posteriori. E sem que isso, em momento algum, ponha em causa a identidade do culpado primordial ou retire consistência ou interesse à narrativa, bem pelo contrário.
Depois, a forma como o seu desenrolar serve para Berardi e Mantero colocarem várias questões actuais, prementes, de resposta difícil - não única nem absoluta - relativas às escolhas que a vida obriga a fazer – porque não escolher já é optar – sobre profissão, carreira, casamento, filhos, amizades, religião, relações, métodos de fertilidade, momento de início da vida… E como cada uma dessas escolhas, implica novas opções, quase sempre igualmente difíceis e fundamentais.
A história, mais uma vez, é muito bem narrada, com os diferentes momentos dos dois níveis de acção a decorrerem a ritmos diferenciados mas apropriados, maioritariamente de forma lenta, para que o leitor possa absorver as pistas que os autores propõem – sem tomar partido ou fazer campanha - e fazer a sua própria reflexão. E a temática em causa, actual, incómoda, sensível, tem, sem dúvida, muito sobre que reflectir. 

A reter
- Mais uma vez em J. Kendall, a forma original e consistente como a narrativa é construída e desenvolvida.
- A actualidade e relevância das questões - éticas, pessoais… - que a trama base permite aos argumentistas colocar.
- A maior consistência física da edição, devido à utilização de um papel de gramagem superior.

22/12/2011

A Ermida

Rui Lacas (argumento e desenho)
Polvo (Portugal, Julho de 2011)
210 x 148 mm, 56 p., 2 cores, brochado
7,90 € 

Resumo
O roubo de algumas jóias, entregues pelo rei D. Carlos a um padre de Lisboa, em vésperas da implementação da República em Portugal, é o mote para esta história de tom vagamente histórico e policial. 

Desenvolvimento
Resultado de um desafio lançado pelo projecto Travessa da Ermida, esta é uma pequena história à margem da implementação da República em Portugal (embora este facto tenha uma importância decisiva no seu desfecho), protagonizada por um padre e um (travesso) menino Jesus de pedra que tem por base um roubo numa igreja e como local privilegiado da acção a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, em Belém, Lisboa.
Pequena história, já o escrevi, dotada de humor simples e cativante, narrada (com mestria), quase sem palavras, numa combinação de fantástico e realidade que cativa e dispõe bem, é a confirmação – se tal fosse ainda necessário – do talento para a narrativa sequencial gráfica de um dos mais produtivos – e interessantes – jovens autores nacionais.
Porque, apesar de ser uma história simples, na forma como foi concebida, no argumento desenvolvido e na concretização da narrativa, conduz o leitor, curioso e intrigado, ao longo das suas páginas, sem momentos mortos nem lapsos narrativos, fruto especialmente da planificação dinâmica e diversificada - apesar da sua (aparente) simplicidade de apenas uma ou duas vinhetas por página, bem trabalhadas com uma única cor (verde) adicionada ao preto e branco – numa sucessão de grandes planos, vistas de conjunto ou zoom sobre pormenores que têm como único objectivo disponibilizar ao leitor tudo o que é importante para completa compreensão e fruição da história que é contada.
História essa que adopta um tom vagamente policial, com as jóias entregues ao padre a desaparecerem misteriosamente, sem que haja pistas nem suspeitos. Perplexo e desesperado, por de alguma forma ter sido traída a confiança em si depositada, o padre investiga à sua maneira, sendo o desfecho, que tem lugar a dois tempos, duplamente surpreendente, por razões que convido o leitor a descobrir. 

A reter
- A enganadora simplicidade do relato, que esconde a mestria narrativa de Rui Lacas.


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