25/01/2013

Le Beau Voyage







  


Zidrou (argumento)
Benoit Springer (desenho)
Dargaud
(França, 11 de Janeiro de 2013)
240 x 320 mm, 56 p., cor, cartonado
14,99 €



Resumo
Léa é animadora de programas televisivos de gosto duvidoso e leva uma vida vazia preenchida com festas, provocações e relações interesseiras ou de uma só noite.
A morte – inesperada - do pai vai obrigá-la a parar, repensar a sua vida e remexer nas recordações que fizeram dela o que é hoje, nem todas muito agradáveis.

Desenvolvimento
Apesar de todas as diferenças – claramente visíveis a vários níveis – pela forma como a narrativa é introduzida (a morte do pai) e por uma série de pontos comuns que é possível encontrar entre ambas (o pai ausente, a relação lésbica, a reinterpretação das memórias), a leitura de “Le Beau Voyage” evocou a que tinha feito há não muito tempo de “Fun Home –Uma tragicomédia familiar”.
Quero no entanto deixar claro que este livro tem vida própria e uma génese completamente autónoma. Enquanto que “Fun Home” é a autobiografia de Alison Bechdel, “Le Beau Voyage” teve como ponto de partida um desenho de uma casa a chorar, feito por uma criança que Zidrou encontrou quando era animador. 
A ambiguidade e a infelicidade do desenho inspiraram-lhe (est)a história de Léa, jovem adulta nascida para substituir o irmão que nunca conheceu, morto aos 7 anos, afogado na piscina da casa dos pais.
Com o pai, médico, sempre ausente, a quem a mãe trocou por um vendedor de aspiradores, Léa cresceu numa família desagregada, profundamente marcada pela morte do filho que nunca foi ultrapassada e detentora de um terrível segredo que asfixiou toda e qualquer capacidade de exprimir afeição, criando uma visão deformada do mundo, muito própria, onde sentimentos como o amor, a capacidade de entrega, ou a dádiva surgiram quase sempre (apenas) como moeda de troca.
O relato de Zidrou, desenvolvido em pequenos episódios auto-conclusivos e autónomos, estruturados de forma não cronológica, mas com um evidente fio condutor entre si, como quem constrói um puzzle vai-nos desvendando progressivamente a origem das marcas traumáticas que Léa carrega e que a transformaram no que é hoje. Pelo que realmente aconteceu, algumas vezes; pela forma como ela viu ou sentiu acontecer, outras.
O tom sensível e tocante da banda desenhada é acentuado pelo traço delicado de Springer, límpido, suave e despojado de pormenores para que se evidenciem os sentimentos que comandam e definem a história de Léa, narrada com a música de Bobby Lapointe como banda sonora.


2 comentários:

  1. Pedro, consegues sempre surpreender com as tuas leituras!

    E aqui está mais um álbum que gostaria de ver editado em português e se assim for espero que mantenham a capa, que é excelente a todos os níveis.

    Só mas quatro páginas que apresentas vê-se a mestria dos autores, quer na mudança constante e ritmada, mas serena, dos planos, quer no uso acertado de silêncios.

    Muito bem!
    Abraço

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    Respostas
    1. Olá André,
      Infelizmente, é o tipo de álbum que não vejo a ser editado por cá...
      O que me despertou nele inicialmente foram as qualidades gráficas que apontas, nomeadamente o ritmo narrativo pausado e recheado de silêncios muito significativos, que dão ao leitor tempo para interiorizar o que Léa viveu...
      Boas leituras!

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