Pascal
Rabaté (argumento)
Simon
Hureau (desenho)
Futuropolis
França
(10 de Janeiro de 2013)
195
x 265 mm, 80 p., cor, cartonado
16
€
Resumo
Didier é talhante, fã de banda desenhada e… um
marido enganado pelo seu melhor amigo, desde as últimas férias que os dois
casais passaram juntos.
Por isso, nada mais natural que arquitectar uma
vingança, tendo por inspiração uma das suas bandas desenhadas de referência.
Desenvolvimento
Se há casos em que a ficção (aos quadradinhos)
imita a realidade ou que a realidade imita a ficção (aos quadradinhos), a
existirem, não devem ser muitos os casos como este em que a ficção (aos
quadradinhos) imita (uma outra) ficção aos quadradinhos!
A história parece enganadoramente banal: o marido descobre a
traição, segue a mulher diversas vezes para confirmar, arquitecta um plano para
se vingar e recuperar a companheira,
põe-no em prática e… algo corre mal.
Só que, “Crève Saucisse”, desenhado num traço
solto e dinâmico por Hureau, que se revela bastante expressivo apesar da sua
aparente simplicidade, está escrito de forma consistente e com um humor negro e
ácido por Rabaté, o que o transforma em puro divertimento, bem ritmado e até
com diversos momentos de suspense o relato da progressiva degradação da relação do casal.
Na sua leitura, enquanto (involuntariamente?)
torcemos pelo sucesso do marido enganado, aparentemente um homem pacato e tranquilo que se revelará capaz de grandes horrores, que vai descarregando a sua fúria na
carne que retalha, vamos acompanhando a passo e passo a descoberta da traição e
a preparação do plano para recuperar a sua mulher, Sandrine, e livrar-se do seu
amigo Eric, em novas férias em conjunto, durante as quais porá em prática os
mais variados estratagemas para impedir que os dois consigam estar sós.
Mas, para além de teatro de costumes, “Crève
saucisse”, é também uma bela homenagem ao magnífico “Gil Jourdan – La voiture immergée”, de Maurice Tilieux, bem como a muita da BD franco-belga, mostrada
aqui e ali ao longo do relato. Aquela obra de Tillieux serve de base para
Didier arquitectar o seu plano, levando o seu “concorrente” ao local real que a
inspirou.
No final, no entanto, como esta BD é apenas um
reflexo duma outra ficção (em BD), nem tudo acaba bem para o protagonista, cujo
plano não resulta tão bem quanto pensava… denunciado por um insuspeito herói de
(outra) BD…
O que, aos seus olhos - os olhos de alguém cuja
mente está distorcida pelos quadradinhos que lê! - não se revela tão grave assim,
porque com certeza existirá uma outra banda desenhada a imitar na (sua) vida
real, para reparar o que a primeira acabou por destruir!
A reter
- O humor negro do relato, divertido e
surpreendente.
- A legibilidade do traço de Hureau.
- A bela homenagem a Tillieux, expressa também
nas sequências do álbum original redesenhadas e incluídas no actual relato.
- A conseguida ligação entre as duas narrativas
desenhadas.
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