Londres, 1820.
Quatro personagens pouco recomendáveis – Orwood, Fanny,
Lario e Lucréce – oriundos dos bairros mais mal-afamados da cidade, decidem
juntar-se para criar um novo bando de assaltantes.
Juntos, com lealdade jurada até ao fim, querem sobrepor-se a
todos os que já existem e fazer fortuna à custa dos outros, a todo o custo e a
qualquer preço.
Sobre eles, no entanto, pairam algumas sombras negras: os
rivais Black Birds, liderados pelos gémeos Harlow Twins, canalhas sem
escrúpulos que fizeram a sua fama deixando um rasto de sangue e violência no
ataque a carruagens de ricos, e o juíz Aaron, com quem cada um dos quatro tem
contas (ocultas) a ajustar. E, sabemos nós, leitores, a certeza de que entre os
quatro um é traidor.
O desenvolvimento já a seguir.
São quatro, está escrito na contracapa, o mundo pertence-lhes
e são inseparáveis. Todos de passado duvidoso e presente miserável, mas capazes
de sonhar o futuro.
O líder é Orwood, aventureiro de má fama com as mulheres,
que parece não hesitar perante nada para conseguir os seus fins; Lucréce, é uma
morena condenada ao degredo, recém-fugida da prisão; Lario, hábil com armas
brancas, um pretenso cantor de ópera, castrado (tardiamente) para desempenhar papéis
femininos; finalmente vem Fanny, uma ruiva bela e fogosa, que fugiu do pai
(abusador?) e assassino acabando a prostituir-se num bordel mas sem perder as muitas
ambições.
Esta última é a narradora – e principal protagonista - do tomo
inicial desta nova série, onde, a par da história da sua vida, nos conta como
os quatro se conheceram e decidiram unir esforços para tentarem deixar a vida
miserável que levam.
Com eles, Desberg e Griffo tratam um retrato assustador da sociedade vitoriana – do mais baixo da sociedade vitoriana – aparentemente
casta, justa, respeitosa e respeitada, mas assente em alicerces de violência e
sexo, que explora os miseráveis para ostentar luxo e opulência (num registo com
alguns pontos de contacto com o que Loisel marcou a mesma época no seu Peter
Pan).
A história, nem sempre convincente - tudo parece acontecer com demasiada (?) facilidade - está narrada, de forma viva e intensa, quase sem pausas para
descanso do leitor, embora um pouco solta, com alguns hiatos (que os próximos tomos vão suprir?) e se, por isso, nem sempre consegue prender completamente, tem um trunfo extra: a curiosidade de descobrir o traidor que quebrará este quarteto inseparável...
Se há pistas neste primeiro tomo – aquele que lança a
estrutura base da narrativa – elas estão para já bem escondidas, aguçando assim o
apetite para o segundo, com narrador/protagonista diferente, Orwood, a descobrir dentro
de três meses, pois os quatro tomos que compõem Golden Dogs e garantem a
história completa – mais de 200 pranchas – serão publicados em apenas um ano.
Golden Dogs
#1 Fanny
Desberg (argumento)
Griffo
(desenho)
Le Lombard
Bélgica, 24 de Janeiro de 2014
241 x 318 mm,
56 p., cor,
cartonado,
14,45 €
Apenas uma dúvida: o título é Golden Days ou Golden Dogs?
ResponderEliminarContinuação de boas leituras.
Ricardo Cabrita