Seules contre tous
é o relato autobiográfico de Miriam Katin sobre a fuga que ela e a mãe tiveram
que levar a cabo em 1944, na Hungria, por serem judias, com o medo contante de
serem descobertas pelos invasores nazis.
Uma breve reflexão sobre uma obra emotiva e tocante, que
aborda um período negro da história europeia recente que convém não deixar
esquecer, já a seguir.
À data dos acontecimentos, Miriam Katin tinha apenas 3 anos e
este livro é o resultado das suas memórias, reconstruídas à luz daquilo que a
mãe lhe foi contando, embora, assumidamente, mantendo delas a visão idealizada
e inocente de uma menina pequena.
Como resultado, os acontecimentos daquele ano traumático e chocante
- a obrigação de matar o cão, a urgência da fuga (deixando tudo para trás,
inclusive a possibilidade de contactar o marido então incorporado no exército
húngaro), a incerteza do destino, a necessidade de recorrer à ajuda de
desconhecidos, os abusos (literais) dos alemães, o pânico constante de serem
descobertas… – são transmitidos ao leitor deformados por esse olhar infantil e
ingénuo que não compreendeu o horror de grande parte do que viveu, o que, na
prática, acaba por os tornar mais violentos e incómodos.
Para isso contribui também o grafismo adoptado por Katin,
assente num traço realista, a preto e branco, sombrio rude e inacabado, próximo
do esboço até, apenas suavizado pontualmente pela utilização do lápis de cor
para diferenciar momentos do presente.
Seules contre tous
Miriam Katin
Futuropolis
França, Janeiro de 2014
195 x 210, 136 p., cor,
cartonado
20,00 €
Muito bem Pedro. Confesso que o li, em inglês (We are on our own) aí há uns...7 anos, mas o que escreves faz todo o sentido.
ResponderEliminarCaro RC,
EliminarEu li-o agora... bem como o Lâcher prise, a "continuação" deste, que trarei aqui ao blog dentro de dias...
Boas leituras!