Concordo se me disserem que não é fácil ser
surpreendido com a leitura de Tex – até porque os limites da série estão
rigorosamente balizados pela editora – e surpresa está longe de ser o que eu
procuro nas suas aventuras, mas a verdade é que por vezes ela surge. Como
acontece neste díptico.
Pormenores já a seguir.
Antes de entrarmos na história em si, o primeiro
destaque vai para o desenho. Sentindo já o olhar desaprovador dos admiradores
de Galleppini, Venturi ou Letteri, e sendo apreciador do traço límpido e
detalhado de Civitelli, acho que os desenhadores de eleição para o Tex frio,
impiedoso e determinado, que mais aprecio, são os espanhóis José Ortiz e
Alfonso Font, que partilham um traço fino, duro e agreste, assente num preto e
branco muito bem contrastado e numa planificação diversificada. Neste caso, a arte
– magnífica - é de Font, com as suas personagens esguias e de olhar
determinado.
Mestiço/A
revanche - e raramente nas histórias do ranger o duplo título fez
tanto sentido como neste caso – para lá dos habituais Tex e Kit Carson,
centra-se no percurso do jovem Makua e das consequências – ou falta delas – de
o seu caminho se ter cruzado por duas vezes com o de Tex.
Habituado, enquanto mestiço, a ser desprezado
por índios, mexicanos e brancos, Makua decide tornar-se pistoleiro – a exemplo
de Santos, outro dos intervenientes determinante nesta trama, com quem também
se cruza – como forma de obter o reconhecimento e o respeito dos que lhe são mais
próximos.
Curiosamente – e aqui surge a tal surpresa, que
torna (algo) distinto este western na cronologia texiana – das duas vezes que
se encontra com Tex, é igualmente desprezado por este. Da primeira, ainda jovem
e ‘inocente’, salvo pelo ranger do ódio de um mescalero, ouve dele apenas o
conselho de se manter afastado de problemas.
Da segunda, tempos mais tarde – pois esta
história, com uma estrutura bem delineada com o propósito de conduzir a novo
confronto – decorre em dois momentos (relativamente) separados no tempo –
enfrentando o ranger – no seu papel de anjo vingador - acaba vencido, mais do
que isso, humilhado. Mais ainda, acaba também estropiado, sem uso para sempre
da mão que o tornara um pistoleiro célebre-
E, por isso, reduzido, de novo, à sua condição
de (duplo) marginal - mestiço, mas agora também aleijado - num final bem
diferente – mérito de Ruju – de (vários) outros de tom (estranhamente)
delicodoce que, possivelmente, os habituais seguidores de Tex esperariam.
Tex #521: Mestiço
Tex #522: A revanche
Pascale Ruju (argumento)
Alfonso Font (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Abril/Maio de 2013
135 x 160 mm, 114 p., pb, capa fina
revista mensal
revista mensal
R$ 7,69 / 3,60 €
Eu já acho o Ticci o melhor desenhista
ResponderEliminarEu estou deacordo consigo, apesar de ser fã de vários desenhadores do Tex, entre eles claro também o Civitelli e o Ticci, também me parece que o Tex,ou melhor o Western, ganha com o desenhomenos limpo, mais agreste de Ortis e Font que nso transportam para um Oeste e para um tempo mais verdadeiro, mais sujo, mais cru e muito mais impiedoso, na natureza, na natureza das pessoas, na natureza da vida. Mas se calhar o sucesso indesmentível do Tex, que certa maneira o torna intemporal, resulta também, entre outras coisas, da diversidade dos seus desenhadores, que uns acabam por agradar a outros e outros a uns, a que eu acrescentaria a diversidade dos temas, desde o puro western, até ao policial e mesmo à aventura no tempo seja no passado ou do espaço.
ResponderEliminarTenorio Estúdio,
ResponderEliminarUma das razões para a perenidade de Tex é o facto de haver desenhadores 8e argumentistas) para todos os gostos...
Letré,
Estamos em sintonia, sem dúvida!
Boas leituras!