“Mantenham as janelas fechadas e as portas trancadas.”
In Watchers
Álbum que assinala o regresso de Luís Louro às obras a solo,
Watchers é um relato futurista que espelha a realidade actual
e que o autor propõe com dois finais diferentes.
Comecemos pelo local: uma Lisboa reconhecível, futurista mas de
toque retro, pejada de mini-clones de animais selvagens - um belo
achado por parte de Louro! - com árvores (absurdamente) a invadirem
o interior das casas e uma miríade de carros (contemporâneos)
voadores - e o problema do estacionamento resolvido, pois são raros
os veículos que se vêem aparcados!
Por esta Lisboa - por todas as pranchas - Louro espalhou uma série
de referências - da música, do desporto, da TV, especialmente da BD
- que obrigam a leitura (muito) atenta ou a um regresso às páginas
apenas com o intuito de as encontrar.
Mas, nesta
Lisboa que (nos) toca tanto, se não se pode dizer que houve
exactamente grandes mudanças, a verdade é que os sinais dos tempos
actuais evoluíram - ou regrediram? - tendo-se exacerbado a tendência
para a sobre-exposição
de tudo e de todos nas redes sociais.
É nessa
Lisboa que circula um certo Sentinel, o mais conhecido - no seu
anonimato do lado de lá dos ecrãs - e seguido watcher,
que é como quem diz vigilante. Alguém - haveremos de descobrir quem
- que se destaca pela invulgar capacidade de estar nos locais antes
dos outros, de descobrir o que mais ninguém vê, de revelar o que
todos desconhecem. Em nome das (sagradas) visualizações e dos
(adorados) likes,
por vezes com prejuízo da sua integridade física, outras forçando
o que vai mostrar, o Sentinel vai avançando perigosamente, numa
dependência da popularidade fugaz que as suas publicações online
proporcionam, até passar a fronteira do que é legal, do que é
moralmente aceitável, do que é razoável e
começar a forçar as situações que mostra.
Conhecidos,
amigos, familiares - a os agentes da autoridade que a partir de certo
momento o (per)seguem - ninguém está ao abrigo da sua câmara
reveladora. Até ao momento em que ele próprio é atingido, e
se
expõe (involuntariamente).
Narrativa
crítica da superficialidade e da dependência das redes sociais que
já é patente
hoje em dia - e que Louro exacerba exponencialmente - Watchers
é uma projecção de um futuro assustador e incómodo, que poderá
nem ser tão absurdo quanto isso.
Desenvolvida
em ritmo lento, provocado pela leitura dos muitos comentários que
cada nova postagem recebe - e também pela necessidade de observação
já referida - Watchers
apresenta-se com dois finais díspares, que se distinguem pela cor do
título: o branco, mais próximo do humor brejeiro que Louro tantas
vezes cultivou, ou o vermelho, que confere um tom trágico a uma
história que por si só já carrega uma grande
carga dramática.
Watchers
Luís Louro
ASA
Portugal, 16 de Outubro de 2018
225
x 295 mm, 48 p., cor, capa dura
14,95
€
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda sua extensão)
Estou na dúvida... qual dos dois finais recomendas?
ResponderEliminarPessoalmente gostei mais da vermelha, mais dura, que acho que está mais de acordo com o tom geral do livro.
EliminarBoas leituras!
Acho que é pra ter os dois...
ResponderEliminarE quem comprasse os dois devia ter desconto...
ResponderEliminarAh ah ah!
EliminarBoas leituras!
Comprei e li a versão branca. E percebi a razão da outra versão ser "vermelha".
ResponderEliminarNum país (futebolisticamente falando) tripartido, é talvez um pouco exagerado o apoio subliminar(?)/descarado(?) a um determinado clube.
Passando por cima desse pormenor, adoro o surrealismo aplicado à cidade de Lisboa. Já visível noutras oubras do mesmo autor, mas não tão.. acentuado(?).
Também gosto imenso do algum erotismo aplicado à história. Não estou a referir o sexo em si, mas o exibicionismo e voyeurismo de bastante das personagens de terceiro plano, como seja o constante surgir de raparigas a mostrar os seios. Para além de ser visualemnte agradável, faz também parte da vida actual de excesso de sobre-exposição das redes xoxiais.
Agora é esperar dar um salto a uma livraria e folhear a versão vermelha para ler/ver o final diferente. (já agora, quantas páginas são?). O meu dinheiro não estica para comparar os dois livros. Pelo menos até começarem a surgir em vendas de 2ªa mão :-)
Olá Xico, obrigado pelo comentário! Em relação às cores Vermelho e Branco pois neste caso foi uma decisão da ASA que é do Porto!!! :) Não há nada de subliminar aqui, foi coincidência... Até porque lá por dentro podes ver o apoio bem obvio ao clube vermelho...
EliminarAbraço, e boa leitura...
A diferença entre os álbuns é o último capítulo...
EliminarBoas leituras!
O ideal seria album duplo de capa invertida? A um preço mais simpático?
ResponderEliminarA diferença é curta para justificar uma opção dessas. E a ideia do Luís Louro era mesmo dois livros 'diferentes'...
EliminarBoas leituras!