17/10/2018

Watchers

 
Branca ou vermelha?

Mantenham as janelas fechadas e as portas trancadas.”
In Watchers

Álbum que assinala o regresso de Luís Louro às obras a solo, Watchers é um relato futurista que espelha a realidade actual e que o autor propõe com dois finais diferentes.
Comecemos pelo local: uma Lisboa reconhecível, futurista mas de toque retro, pejada de mini-clones de animais selvagens - um belo achado por parte de Louro! - com árvores (absurdamente) a invadirem o interior das casas e uma miríade de carros (contemporâneos) voadores - e o problema do estacionamento resolvido, pois são raros os veículos que se vêem aparcados!
Por esta Lisboa - por todas as pranchas - Louro espalhou uma série de referências - da música, do desporto, da TV, especialmente da BD - que obrigam a leitura (muito) atenta ou a um regresso às páginas apenas com o intuito de as encontrar.
Mas, nesta Lisboa que (nos) toca tanto, se não se pode dizer que houve exactamente grandes mudanças, a verdade é que os sinais dos tempos actuais evoluíram - ou regrediram? - tendo-se exacerbado a tendência para a sobre-exposição de tudo e de todos nas redes sociais.
É nessa Lisboa que circula um certo Sentinel, o mais conhecido - no seu anonimato do lado de lá dos ecrãs - e seguido watcher, que é como quem diz vigilante. Alguém - haveremos de descobrir quem - que se destaca pela invulgar capacidade de estar nos locais antes dos outros, de descobrir o que mais ninguém vê, de revelar o que todos desconhecem. Em nome das (sagradas) visualizações e dos (adorados) likes, por vezes com prejuízo da sua integridade física, outras forçando o que vai mostrar, o Sentinel vai avançando perigosamente, numa dependência da popularidade fugaz que as suas publicações online proporcionam, até passar a fronteira do que é legal, do que é moralmente aceitável, do que é razoável e começar a forçar as situações que mostra.
Conhecidos, amigos, familiares - a os agentes da autoridade que a partir de certo momento o (per)seguem - ninguém está ao abrigo da sua câmara reveladora. Até ao momento em que ele próprio é atingido, e se expõe (involuntariamente).
Narrativa crítica da superficialidade e da dependência das redes sociais que já é patente hoje em dia - e que Louro exacerba exponencialmente - Watchers é uma projecção de um futuro assustador e incómodo, que poderá nem ser tão absurdo quanto isso.
Desenvolvida em ritmo lento, provocado pela leitura dos muitos comentários que cada nova postagem recebe - e também pela necessidade de observação já referida - Watchers apresenta-se com dois finais díspares, que se distinguem pela cor do título: o branco, mais próximo do humor brejeiro que Louro tantas vezes cultivou, ou o vermelho, que confere um tom trágico a uma história que por si só já carrega uma grande carga dramática.

Watchers
Luís Louro
ASA
Portugal, 16 de Outubro de 2018
225 x 295 mm, 48 p., cor, capa dura
14,95 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda sua extensão)

10 comentários:

  1. Estou na dúvida... qual dos dois finais recomendas?

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    1. Pessoalmente gostei mais da vermelha, mais dura, que acho que está mais de acordo com o tom geral do livro.
      Boas leituras!

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  2. Acho que é pra ter os dois...

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  3. E quem comprasse os dois devia ter desconto...

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  4. Comprei e li a versão branca. E percebi a razão da outra versão ser "vermelha".

    Num país (futebolisticamente falando) tripartido, é talvez um pouco exagerado o apoio subliminar(?)/descarado(?) a um determinado clube.

    Passando por cima desse pormenor, adoro o surrealismo aplicado à cidade de Lisboa. Já visível noutras oubras do mesmo autor, mas não tão.. acentuado(?).

    Também gosto imenso do algum erotismo aplicado à história. Não estou a referir o sexo em si, mas o exibicionismo e voyeurismo de bastante das personagens de terceiro plano, como seja o constante surgir de raparigas a mostrar os seios. Para além de ser visualemnte agradável, faz também parte da vida actual de excesso de sobre-exposição das redes xoxiais.

    Agora é esperar dar um salto a uma livraria e folhear a versão vermelha para ler/ver o final diferente. (já agora, quantas páginas são?). O meu dinheiro não estica para comparar os dois livros. Pelo menos até começarem a surgir em vendas de 2ªa mão :-)


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    1. Olá Xico, obrigado pelo comentário! Em relação às cores Vermelho e Branco pois neste caso foi uma decisão da ASA que é do Porto!!! :) Não há nada de subliminar aqui, foi coincidência... Até porque lá por dentro podes ver o apoio bem obvio ao clube vermelho...
      Abraço, e boa leitura...

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    2. A diferença entre os álbuns é o último capítulo...
      Boas leituras!

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  5. O ideal seria album duplo de capa invertida? A um preço mais simpático?

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    1. A diferença é curta para justificar uma opção dessas. E a ideia do Luís Louro era mesmo dois livros 'diferentes'...
      Boas leituras!

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