A
melhor expressão para classificar este álbum é a que está acima:
puro Jacobs.

Escrevi
acima que este álbum é ‘puro Jacobs’ para o bem e para o mal, e
passo a explicar.

Falta-lhe,
obviamente - não podia ser de outra maneira, o carácter de
ficção/antecipação-científica que era imagem de marca de Jacobs,
que escrevia e desenhava, tentando antever o futuro, enquanto que a
equipa de O Vale dos Imortais
criou em 2018 uma narrativa ambientada na passagem da década de 1940
para 1950...
Ainda
na peugada do estilo Jacobs, os bons e os maus são facilmente
identificáveis, mesmo quando supostamente estão disfarçados - e
mais não digo sobre isto.
Sente
faz bem a ligação às pranchas finais de O
Segredo do Espadão,
aproveitando algumas vinhetas - e até textos - sobre as quais foi
aplicado - abrindo ou fechando - um zoom.
[E posso estar a ser picuinhas - até porque isto não afecta em nada
a leitura - mas teria ficado bem se a actual tradução tivesse ido
buscar à anterior edição ASA de O
Segredo Espadão - a magnifica
colecção com lombada em tela, editada em parceria com o jornal
Público - os textos que são comuns às duas edições. Mas, já
agora, como no melhor pano cai a nódoa, não posso deixar de referir
como Sente transformou 1 mês em 15 dias...]
Graficamente, Teun Berserik e Peter Van
Dongen, os dois desenhadores holandeses seleccionados para este
desafio, cumpriram na perfeição o que lhes era pedido: a reprodução
tal e qual do estilo gráfico de Jacobs, rigoroso, detalhado, numa
perspectiva até da evolução que ele sofreu após O
Segredo do Espadão e até A
Marca Amarela. Virar as
páginas deste álbum é, desta forma, uma espécie de um regresso a
um passado que para uma geração ou duas foi marcante e teve grande
impacto.
Nem
de propósito, li recentemente uma afirmação de Étienne Davodeau
que - cito de cor - dizia não compreender os autores que se
satisfazem por ‘copiar’ ou ‘clonar’ o estilo de outros. Se
ela se aplica como uma luva ao trabalho desenvolvido em O
Vale dos Imortais por Sente,
Berserik e Van Dongen, a verdade é que isso proporciona que nós,
leitores mais antigos, desfrutemos de uma aventura ‘clássica’
que é - lá está...! - ‘puro Jacobs’. Embora eu questione como
reagirão os leitores mais recentes da dupla britânica, ‘empurrados’
aqui para um estilo e uma forma narrativa que ostenta -
voluntariamente - os sinais da passagem do tempo - embora as
sucessivas retomas de Blake e Mortimer por diversas equipas
criativas, nunca as tenham apagado completamente.
Mas,
na verdade, eu desfrutei da leitura...
O
Vale dos Imortais I - Ameaça sobre Hong Kong
As
aventuras de Blake e Mortimer segundo as personagens de Edgar P.
Jacobs
(edição disponível em duas capas diferentes: uma genérica, no topo, à direita, e outra exclusiva das lojas FNAC, no topo, à esquerda)
Yves
Sente (argumento)
Teun
Berserik e Peter Van Dongen (desenho)
Edições
ASA
Portugal,
20 de Novembro de 2018
235
x 310 mm, 64 p., cor, capa dura
15,90
€
É facílimo saber quem são os vilões nos livros do Jacobs, os mauzões fumam cigarros (além de terem caras de poucos amigos, feições contraídas) e os bonzões fumam cachimbo e têm ar simpático.
ResponderEliminarBom dia, acabei de ler ontem à noite...e fiquei embasbacado... de queixo caído...surpreso...Foi como recuar quase cinquenta anos, uma autêntica maravilha. Uma BD de "saudade". Ler o Vale dos Imortais foi como ouvir o meu pai a chamar para vir comer, enquanto acabava de ler uma prancha do Espadão no velhinho álbum da Ibis que ainda conservo, abraço a todos.
ResponderEliminarSem d~uvida, Paulo!
EliminarBoas leituras... saudosas!