19/08/2019

Mercurio Loi

Com a loucura em fundo

Ambientadas no primeiro terço do século XIX, em Roma, as aventuras de Mercurio Loi têm como protagonista ‘um professor de História, caprichoso e extravagante’, segundo o seu criador, Alessandro Bilotta, ‘que, por casualidade e por curiosidade, termina envolvido em eventos misteriosos’.
Para alguns uma espécie de Sherlock Holmes antes do tempo, ele tem também algo de Dylan Dog, o detective do impossível.

Nesta sua aventura de estreia, datada de 2015, surgida na (cada vez mais incontornável) colecção Le Storie, antes da sua emancipação, Mercurio Loi apresenta-se como um verdadeiro enigma, quer para os leitores, quer mesmo para aqueles que consigo privam.
Se o assassinato de três homens (aparentemente) por um fantasma é o mote de partida, o rapto de uma criança, a oposição de longa data entre Mercurio e o Tarcisio, a proliferação de seitas secretas, o confronto com adoradores de lobos e a preparação de um atentado político são outras faces de um mesmo prisma que nos vai fornecendo sucessivas imagens deformadas e apontando caminhos e hipóteses que a continuação da leitura haverá ou não de confirmar.
Confiando na sua habilidade para conhecer o ser humano, na sua bagagem cultural e na sua capacidade dedutiva, Mercurio Loi, umas vezes orquestrando na sombra, outras levado pelos acontecimentos, acabará por descobrir o que relaciona - ou pode relacionar - todos os aspectos atrás apontados, numa narrativa envolvente, na qual a época histórica é mais um local de acção e um ponto de partida - e uma fonte de loucura... - do que propriamente uma âncora que prende e limita o relato.

Capa
Num livro de banda desenhada, a capa fornece o primeiro contacto do leitor com aquilo que o espera. Aparentemente - cada vez mais, só aparentemente - dada a profusão de capas alternativas que proliferam nos comics de super-heróis e que se vão reproduzindo aqui e ali noutros géneros e latitudes.
No caso presente, a bela capa de Manuele Fior - esse mesmo, o do delicado e sensível Cinco mil quilómetros por segundo - revela-se um engano, pois nada tem a ver com o interior, de traço bem mais agreste e rude. M(as também m)ais ajustado ao relato. O que não impede o leitor de imaginar (um outro) Mercurio Loi sob o traço de Fior...

Mercurio Loi
Alessandro Bilotta (argumento)
Matteo Mosca (desenho)
Panini
Espanha, Julho de 2018
195 x 259 mm, 128 p., cor, capa dura
ISBN: 9788491679851
16,00 €

(capa disponibilizada pela Panini Comics espanhola; pranchas disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

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