A Febre de Urbicanda, que marca o regresso de As Cidades
Obscuras à edição nacional - regresso que se espera não seja
único nem solitário - é uma alegoria sobre as ditaduras e as
revoluções - mais ou menos pacíficas… - que elas sempre
provocam.
Na sua génese está a cidade (ficcional) de Urbicanda, uma metrópole
que um rio divide a meio e funciona como fronteira entre dois mundos,
dois conceitos. De um lado, a ordem, o rigor arquitectónico, a força
das leis - a ditadura. Do outro, a anarquia, o desordenamento
espacial, a liberdade individual.
Duas pontes, convenientemente vigiadas e guardadas, asseguram a
separação dos dois mundo, tão próximos mas distantes. Até que…
Até que, uma estrutura, descoberta numas escavações, começa a
crescer exponencialmente, multiplicando por muitos o cubo inicial e
criando pontes improvisadas, ligações, passagens, que vêm colocar
em causa a ordem vigente.
Rubick, o arquitecto que idealizou Urbicanda,
Sofia, a activista dona de um bordel, Thomas, o político hábil que
(se) aproveita
(d)as
situações, vão à vez assumir algum protagonismo, tentar sugerir
ou impor os seus pontos de vista, embora a verdadeira protagonista -
em A Febre de Urbicanda
como nas outras Cidades Obscuras
- seja a própria cidade que surge como local de acolhimento e guia
daqueles que nela habitam.
Do caos gerado à nova ordem, da sua dissolução - aparentemente
feliz - à sua busca por todos os meios, A Febre de Urbicanda
é um relato forte, consistente, repleto e estimulante, que questiona
o ser humano, as suas opções e a sua (in)capacidade de adaptação.
A Febre de Urbicanda
Benoit Peeters (argumento)
François Schuiten (desenho)
Levoir
Portugal, 17 de Julho de 2019
225 x 295 mm, 112 p., pb, capa dura
10,90 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
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