O que podem ter em comum Fernando Pessoa, um caçador de vampiros, Cthulhu e o mestre do ocultismo britânico Aleister Crowley?
A
resposta encontra-se em Dampyr:
O suicídio de Aleister Crowley,
uma banda desenhada lançada
no Amadora BD pela
nova editora A Seita, que conta com argumento
de Mauro Boselli e desenho de Michele Cropera, que esteve presente
no festival.
O
dampyr
do título é um termo do folclore eslavo que designa o filho de um
vampiro e de uma humana, o que torna o seu sangue mortal para aquelas
criaturas e faz dele o seu mais perigoso predador. Nesta história,
que abre ao som do fado, os autores captaram muito bem o espírito
saudosista e nostálgico da Lisboa do início do século, mas o
habitual protagonista, Harlan Draka, mantém-se na sombra para que
sejam dois amigos, com quem se desloca a Portugal, a investigarem o
aparente suicídio de Crowley ocorrido décadas antes, em 1930, na
Boca do Inferno, perto de Cascais.
Pessoa
também tem grande destaque numa narrativa densa e consistente, de
contornos fantásticos, em que uma forte base histórica se combina
com pura ficção. Nela, acompanhamos no passado o poeta português,
cujo interesse pelo ocultismo o aproximara do mago britânico, e, no
presente, vamos descobrir como aquele acontecimento,
o Cthulhu dos contos de Lovercraft, o terramoto de 1755 e a relação
de Pessoa com Ofélia Queiroz têm inusitada ligação.
O
dampyr
Harlan Draka é um dos heróis da Sergio Bonelli Editore, mais
conhecida por editar as aventuras de Tex ou Dylan Dog, e esta
não é a primeira vez que vem ao nosso país, pois em O
esposo da vampira
e Tributo
de Sangue, compiladas no volume Aventuras em Portugal (edição Levoir), já
passara pelo
Porto, Gaia e Régua, para investigar acontecimentos paranormais.
Agora,
o protagonismo está entregue a dois dos seus companheiros
recorrentes, o que não retira interesse à narrativa - bem pelo
contrário neste caso - pois permite-lhe assumir um outro tom e
direcciona-a - literalmente… - para uma dimensão diferente.
Outros
Pessoa aos quadradinhos
Este encontro, diferido no tempo, de Pessoa com Dampyr está longe de ser a primeira vez que o poeta surge como personagem de BD. Em A vida oculta de Fernando Pessoa, André Morgado e Alexandre Leoni fizeram dele agente de uma sociedade secreta encarregada de limpar o mundo de zombies, o que explicaria os seus heterónimos, usando muitas citações do poeta no texto. O mesmo tinha feito o cartoonista Laerte em 1987, quando se deu o improvável encontro de Pessoa com os Piratas do Tietê, num divertido episódio carregado de nonsense em que no final vence a... poesia!
Este encontro, diferido no tempo, de Pessoa com Dampyr está longe de ser a primeira vez que o poeta surge como personagem de BD. Em A vida oculta de Fernando Pessoa, André Morgado e Alexandre Leoni fizeram dele agente de uma sociedade secreta encarregada de limpar o mundo de zombies, o que explicaria os seus heterónimos, usando muitas citações do poeta no texto. O mesmo tinha feito o cartoonista Laerte em 1987, quando se deu o improvável encontro de Pessoa com os Piratas do Tietê, num divertido episódio carregado de nonsense em que no final vence a... poesia!
Mais
convencional, é As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal...,
de Miguel Moreira e Catarina Verdier, uma extensa biografia aos
quadradinhos. Já Pessoa & Ciada ilustradora espanhola Laura Pérez Vernetti, junta uma curta
biografia a preto e branco com a ilustração colorida de um punhado
de poemas do escritor português.
Mauro
Boselli (argumento)
Michele
Cropera (desenho)
170
x 230 mm, 104 p.
pb, capa dura
ISBN
978-989-54574-0-3
12,50
€
(versão
revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 12
de Novembro de 2019; imagens da edição disponibilizadas pela
editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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