“Porto e Gaia são espectaculares do
ponto de vista cenográfico”
A edição em
Junho próximo, na revista Dampyr #147, da história “Tributo di
sangue”, que traz aquele herói da Sergio Bonelli Editore de novo a terras
portuguesas, foi o pretexto para uma pequena conversa com o seu argumentista, o
italiano Giovanni Eccher.
As Leituras do Pedro - De que trata esta
história de Dampyr?
Giovanni Eccher
- O volume faz parte do
ciclo de histórias dedicadas a Thorke, um demónio da Dimensão Negra que leva os
seus seguidores ao canibalismo. Como é tradição em Dampyr, a trama faz
referência a vários aspectos histórico-geográficos do local em que é
ambientada: o vinho do Porto e os exportadores de Vila Nova, o enclave cultural
de Miranda do Douro, as perseguições aos judeus perpetradas pela população cristã
(o massacre de Lisboa) e pela Inquisição portuguesa no século XVI.
ALP - Porquê situá-la no Porto e em Gaia?
GE
- A história começa no
Porto mas depois desloca-se para todo o vale do Douro: parte das construções de
Vila Nova de Gaia e chega a Miranda do Douro, para depois voltar para os
vinhedos dos produtores do Porto no meio dos quais se imagina que há um
mosteiro que, embora inventado, é graficamente inspirado em vários conventos e
mosteiros portugueses, como o Convento de Cristo em Tomar e o Mosteiro de Santa
Maria em Alcobaça.
O motivo por que a trama é ambientada
nesses lugares é muito simples: eu fiquei impressionado durante uma belíssima
viagem a Portugal. Além disso, como a minha namorada é dona de uma enoteca em
Milão, ela foi a minha guia entre os exportadores de Vila Nova de Gaia, que nos
acolheram com muita cortesia e nos permitiram visitar as suas caves e provar os
seus produtos - rigorosamente fora dos percursos turísticos. Desde então sou
cliente da Quinta de Ervamoira de Ramos Pinto.
Na história também há um fantasma que se
manifesta num trajo típico mirandense, um traje que achei realmente
inquietante: quase tanto quanto os próprios mirandenses! Brincadeiras à parte,
é gente muito hospitaleira. Só um pouco estranha.
ALP – Conhece então as cidades de Porto e
Vila Nova de Gaia?
GE
- Conheço tanto quanto
pode conhecer um turista que passou alguns dias ali. Por não ter um
conhecimento aprofundado, eu contentei-me em usá-las como cenários.
Trata-se de cidades muito espectaculares do ponto de vista cenográfico: por
exemplo, há uma cena de acção que acontece na ponte Luís I, que eu imaginei no
local e depois inseri no roteiro quando regressei a Itália.
ALP - Algum português tem intervenção
relevante na história?
GE
- Há mais de um! À
parte as personagens pertencentes à série (Harlan, Maud Nightingale e Dean Barrymore),
todas as outras são portuguesas. Temos um exportador de vinhos de ascendência
inglesa, uma corajosa estudante de Coimbra, o espírito de uma locandeira marrana do século XVI e outras
personagens coadjuvantes. Quais são os seus papéis específicos, não posso dizer
para não estragar a surpresa.
ALP - Tem planos para novas aventuras de
Dampyr em Portugal?
GE
- Como as aventuras de
Harlan e dos seus parceiros acontecem em todo o mundo, é possível que um dia
eles voltem a Portugal, numa história minha ou de outro autor (e esta também
não é a primeira vez: Harlan já tinha estado em Portugal no número 75, "Lo sposo della vampira", de Boselli e Bocci). Pessoalmente, não tenho programada outra história
portuguesa, mas nunca se sabe.
Esta entrevista não teria sido possível sem
a inestimável colaboração de José Carlos Pereira Francisco, para o contacto com
o autor e a Sergio Bonelli Editore, e de Julio Schneider, para a tradução das
questões e das respectivas respostas. A ambos o meu muito obrigado.