Este mundo será sempre dele
Duke de Yves H. e Hermann, de que a Arte de Autor acaba de editar o sétimo e último volume, Este mundo não é o meu, completando assim mais uma série em português, é um western crepuscular, ambientado na transição entre os grandes tempos do Oeste selvagem e a caminhada atribulada mas inexorável para a chegada da civilização aos lugares onde a lei e a ordem durante anos foram impostas à força da bala.
É também uma história de perseguição, de várias perseguições, aliás, motivadas pelo desejo de vingança ou pela busca do sempre desejado dinheiro, perseguições essas gizadas pelos acasos do destino, vincando a forma maldosa e cruel como ele joga com as vidas dos seres humanos. Seres humanos que Hermann, bem secundado pelo seu filho e argumentista Yves H., continua a encarar com pessimismo e descrença, realçando sempre o pior de cada um e de todos eles.
Entre os vários perseguidores e perseguidos, cujo número vai variando consoante os momentos da acção e os tiros certeiros que vão sendo disparados, emerge um homem, o Duke que dá título à série, atormentado pelo seu passado, martirizado pelas escolhas que fez ou foi obrigado a fazer, perseguido pela maldição do seu feitio e da sua postura e acossado por sombras que tornam a sua existência penosa e fazem dele constantemente um alvo.
Mas Duke, acerca do qual fui aqui escrevendo com regularidade, é também, claramente, uma obra crepuscular na carreira de Herman que, aos 84 anos, continua a tentar resistir à passagem do tempo, criando, como se disso dependesse a sua vida, novas obras ao ritmo frenético de 2 álbuns por ano.
É evidente que o seu traço já não é o mesmo - e as capas são a melhor prova disso - mas Hermann mantém-se mestre na planificação de base tradicional que utiliza e, em especial, no modo como continua a iluminar os seus desenhos com cores intensas ou os carrega de sombras opressivas, da mesma forma que se esmera em contrastes de claro/escuro únicos.
Dispensava-o deste afã o seu passado, plasmado em séries notáveis como Comanche, Bernard Prince, Jeremiah ou As Torres de Bois-Maury, que afirmam claramente que o mundo da BD será sempre dele e que todos os leitores, de sucessivas gerações, terão de se render à sua mestria e ao seu traço inigualável, que constituem uma herança que a qualquer momento permite continuar a embarcar na grande aventura.
Hermann (desenho)
Arte de Autor
Portugal, Março de 2023
230 x 300 mm, 56 p. (cada), cor, capa dura
18,00 € (cada)
Yves H. (argumento)
Ainda bem que a Arte de Autor insistiu em concluir a série, isso revela um novo e louvável paradigma da edição de BD em Portugal. Quanto à série, penso que pecou mais o filho que o pai isto é, o argumento veio decaindo à medida que se caminhava para o final. Não sendo uma série excelente não é dispensável mais que não seja pelo enorme respeito que devemos ao Hermann que será sempre um dos inesquecíveis eleitos
ResponderEliminarDesde muito novo, que tenho um lema, "Compro tudo o que for do Hermman".
ResponderEliminarÉ pena não haver outro Greg!...
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