Ilíada

Quando o tamanho importa

Parte integrante da colecção A Sabedoria dos MItos que a Gradiva tem lançado com assinalável regularidade, o tríptico Ilíada, a que volto conforme prometido após a leitura do volume inicial, é sem dúvida o mais interessante relato da colecção, até ao momento.

Desde logo, por isso mesmo, por ser um tríptico o que permitiu aos argumentistas, Luc Ferry e Clotilde Bruneau desenvolverem de forma mais consistente a narrativa, explorando melhor momentos determinantes da intriga e incluindo mesmo cenas de combate e/ou batalha em profusão que chegam a ocupar diversas páginas de seguida, o que contribui para um maior dinamismo narrativo.

Por outro lado, arrisco escrever, porque o seu tema, a guerra de Tróia, é mais conhecido e esse conhecimento prévio, mesmo que limitado, dá uma almofada que garante uma maior atenção à narrativa e mesmo o preenchimento de eventuais lacunas. E diga-se de passagem, esta maior extensão era, sem dúvida, necessária no contexto específico do cerco dos gregos a Tróia, pelas diversas movimentações e volte-faces que ele vai sofrendo. E, mesmo assim, senti que faltou contextualizar um pouco melhor o motivo que esteve na sua origem, o rapto de Helena, mulher de Menelau, rei de Esparta, por Páris príncipe troiano.

Motivo real ou simples oportunismo perante a possibilidade de ampliar o seu império, esta é uma das questões a que o relato talvez não responda, para mais tendo em conta a acção determinante, alternadamente, para um e outro dos lados em oposição, dos deuses do Olimpo, apostados em proteger os seus favoritos e em prejudicar os apoiados pelos deuses a que se opõem, aproveitando assim os meros humanos como peões nas suas querelas divinas - mas reles e absurdas como costumam ser também as humanas.

Ou então, simplesmente, aquela guerra, serviu apenas para reduzir o peso dos seres humanos no corpo de Gaia, a mãe do mundo, a nossa pobre Terra, hoje tão mais pisoteada e sobrecarregada por todos nós.

Finalmente, para uma leitura mais sedutora contribui também o traço agradável, realista e eficiente de Pierre Taranzano, que tem o condão de se manter equilibrado e com uma qualidade média assinalável constante ao longo dos três álbuns, o que por vezes não acontece nestas "empreitadas".

Ilíada
#1 O pomo da discórdia
#2 A guerra dos deuses
#3 A queda de Tróia
Luc Ferry (concepção e argumento)
Clotilde Bruneau (guião)
Pierre Taranzano
Gradiva
Portugal, 2024
240 x 320 mm, 56 p. (cada), cor, capa dura
20,99 €

(imagens cedidas pela Gradiva; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui apresentadas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)