Repetente nesta série de entrevistas, depois de ter respondido como argumentista de Farsa de Inês Pereira e de Carta a El-Rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil, André Morgado responde desta vez ao questionário-modelo que As Leituras do Pedro criaram para os autores da colecção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD, da Levoir e da RTP.
As respostas, estão já a seguir.
As Leituras do Pedro - A escolha da obra foi tua ou da editora?
André Morgado - Ora, neste caso em concreto foi a Levoir que me perguntou se estaria interessado em adaptar o Frei Luis de Sousa e eu, claro está, aceitei.
As Leituras do Pedro - E a escolha do desenhador para a ilustrar?
André Morgado - Vou-te dizer que a escolha do artista não foi fácil… Foi uma saga que pareceu deixar claro que o projecto estava enguiçado. Na verdade, houve 4 tentativas de acertar no artista, antes de chegarmos ao Gustavo. E, quando falei do Gustavo à Levoir, foi numa de “bem, a única forma de esclarecer se esta adaptação está amaldiçoada ou não é falar com este artista. Se ele não conseguir, ninguém consegue!”.
As Leituras do Pedro - Já conheciam a obra? O que trouxe adaptá-la?
André Morgado - Eu já a conhecia. É daqueles textos mais ou menos conhecidos pelo pessoal, em certa idade escolar (embora não tivesse tomado contacto com a obra por obrigação académica). O Gustavo não conhecia e teve que se inteirar de tudo (tipo de texto, contexto narrativo, etc) muito apressadamente. E, como referi atrás, como sofreu vários percalços, a dada altura estava mais focado em fazer tudo chegar a bom porto, do que em desfrutar a viagem até lá.
As Leituras do Pedro - Se a escolha fosse livre, sem limitações, que obra gostavam de adaptar?
André Morgado - Eu já deixei aqui alguns títulos, quando me perguntaste isto nas outras adaptações. Mas, para variar, direi que gostaria de adaptar o Memória das Minhas Putas Tristes, de Gabriel García Márquez.
As Leituras do Pedro - Como se adapta uma obras destas a BD? Quais as principais dificuldades?
André Morgado - Olha, eu diria que a maior dificuldade foi deixar minimamente cativante um texto que provém de era particularmente datada, com uma proposta emocional que não nos atinge da mesma forma, porque toda a envolvência religiosa, as forças familiares, posições sociais e contextos históricos nos soam muito distantes. Senti que aqui havia menos pontes com os nossos dias do que nos outros textos que adaptei e que se me desviasse em excesso do original, poderia ser sugado pela vontade de tornar as coisas excessivamente diferentes, roubando identidade ao original.
As Leituras do Pedro - Como foi o vosso processo de trabalho?
André Morgado - Trabalhar com o Gustavo é um descanso. Partilhei o argumento, ele leu, fez perguntas e observações, pediu referências, partilhámos conversas e, em tempo recorde, ia apresentando os rascunhos das páginas e, em caso de um ou outro apontamento, esclarecíamos e ele prontamente avançou para a arte final. Por vicissitudes várias, ele fez tudo em um mês e pouco, sensivelmente, o que dá conta da loucura do ritmo de trabalho, mas também da fácil articulação que houve entre nós.
As Leituras do Pedro - Que expectativas têm?
André Morgado - Muito face ao tempo e exigências do projecto, confesso que não pensámos muito nisso, mas esperamos que possa servir de convite para que quem já conhece a obra a possa recordar, e quem não a conhece... tenha aqui um incentivo para a conhecer melhor. Apesar disso, gostaria que tivesse algum poder de contribuição para a valorização da BD nacional, e que não fosse só um testemunho diferente de algo clássico e já conhecido por todos.
As Leituras do Pedro - Qual a importância de uma colecção como esta?
André Morgado - Remeto a resposta para anteriores, pode ser?, dizendo que me parece uma coleção importante em vários domínios, desde logo o reavivar de obras que ficam, muitas delas, circunscritas a públicos de idade escolar.
E, como tenho dito nos círculos mais próximos, creio que esta será, provavelmente, a colecção de BD portuguesa mais importante dos últimos 20 anos, com um poder de ajudar a trazer um público que se vê “obrigado” a entrar em contacto com a BD, por motivos académicos, mas que descubra que vale muito a pena ficar “por cá”. Pelo menos, assim o espero!
(imagens disponibilizadas pela Levoir; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui apresentadas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Sem comentários:
Enviar um comentário