Entre conto negro, policial, fantástico e de terror, Fatale reinventa o conceito de mulher
fatal(e) ou, pelo menos, confere-lhe uma nova abordagem que deixa o leitor sempre
à espera de mais.
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26/05/2015
Fatale Volume DOIS – O Negócio do Diabo
Leituras relacionadas
Brubaker,
Fatale,
G. Floy Studio,
Philips
15/05/2015
Leitura Nova: Fatale 2 - O Negócio do Diabo
A mulher mais Fatal dos últimos cem anos regressa, na
segunda parte desta saga de terror policial que vai seguindo os meandros mais
escuros da história secreta da América, misturando thriller e terror
sobrenatural.
06/11/2014
Leitura Nova: Fatale #1: A morte persegue-me
Fatale é uma combinação explosiva e brilhante de policial
noir e pulp com terror sobrenatural, que mistura mulheres fatais, cultos
secretos, detectives empedernidos e monstros lovecraftianos!
Descubra o restante da nota de imprensa já a seguir, de uma obra que As Leituras do Pedro já destacaram aqui.
18/09/2013
Fatale #1
La muerte me persigue
Ed Brubaker (argumento)
Sean Philips (desenho)
Dave Stewart (cor)
Panini Comics
Espanha, Abril de 2013
185 x 260 mm, 136 p., cor,
cartonado
15,00 €
Aclamado (justamente) com um dos melhores argumentistas de
comics (de super-heróis) da actualidade, para mim, Ed Brubaker é – antes de
mais – um excelente argumentista de histórias policiais e/ou espionagem.
Géneros que, aliás, em muitos momentos – e a isso se deve
também o seu sucesso… - tem transposto para o registo de super-heróis com os
resultados conhecidos em histórias do Capitão América ou do Winter Soldier.
“Fatale”, na qual trabalha com o desenhador Sean Philips –
tal como fizera, por exemplo, em “Project Overkill” - é mais uma prova (desnecessária) da qualidade da sua escrita.
Partindo da descoberta de um manuscrito inédito de um
escritor famoso anonimamente falecido, alia ao registo de policial negro
inicial, a pouco e pouco, um (surpreendente) tom fantástico e de terror que,
como o decorrer da narrativa se vai tornando mais e mais presente.
Porque
Brubaker, em vez de avançar de frente para o terror puro com sangue a rodos,
opta por uma versão mais subliminar, psicológica e apenas intuída pelo leitor
com um acrescento de incómodo digno de registo, devido às ameaças desconhecidas,
às sombras omnipresentes e à necessidade de enfrentar algo que se adivinha
terrífico mas que permanece - durante largas páginas – desconhecido, numa linha
narrativa com pontos de contacto com H. P. Lovercraft.
Em contraste com o que atrás descrevi, surge a bela
Josephine, a tal femme fatale que há
décadas desgraça os homens que se deixaram por ela seduzir e arrastar para uma
vida repleta de sexo, terror e morte.
Sean Philips, demonstra mais uma vez como o seu desenho
sóbrio consegue caracterizar ambientes díspares, sejam os encontros quentes com
a bela Josephine, sejam as cenas mais sombrias ou os momentos de puro terror,
numa conseguida simbiose com o texto – escrito ou não – de Brubaker.
20/02/2013
Soldado de Invierno #1
El
Invierno más largo
Colecção
100% Marvel
Ed
Brubaker (argumento)
Butch
Guice e Michael Lark (desenho)
Stefano
Gaudiano, Brian Thies, Tom Palmer (arte-final)
Bettie
Breitwiser, Jordie Bellaire, Mathew Wilson (cor)
Panini
Comics
Espanha,
Janeiro de 2013
170
x 260 mm, 200 p., cor, brochado com badanas
15,00
€
Resumo
A
“descoberta” de que Bucky Barnes não tinha morrido durante a Segunda Guerra
Mundial e tinha adoptado a identidade de Soldado Invernal, acabando mais tarde por
se transformar no novo Capitão América após a “morte” de Steve Rogers no final
da Guerra Civil - como visto em “La muerte del Capitán América”,
“El peso de los sueños” e “El hombre que compró América” - abriu uma ampla janela para novas
histórias em torno do seu passado.
Esta compilação, que reúne os comics originais
norte-americanos “Winter Soldier” #1 a #9 (Abril a Outubro de 2012) é o
primeiro passo nesse sentido. Com Barnes de volta ao uniforme de Soldado
Invernal, ela revela como ocorreu a sua transformação numa máquina assassina ao
mesmo tempo que o mostra, no presente, juntamente com a Viúva Negra, a
enfrentar uma ameaça em solo norte-americano causada pelo despertar de agentes
(ex-soviéticos) adormecidos e que ele próprio treinou.
Desenvolvimento
Desta forma, embora possa soar um pouco
anacrónico, a história assume em grande parte um tom de espionagem mais próprio
do período da Guerra Fria, com os protagonistas, escudados pela SHIELD, a
enfrentarem mercenários que compraram os códigos necessários para despertar
três agentes em animação suspensa, escondidos nos Estados Unidos.
Brubaker, que começou a sua carreira como escritor
de histórias policiais, mais uma vez expõe o seu talento nesta área, com uma
narrativa densa, bem sustentada, onde os períodos de investigação, perseguição
(muitas vezes na sombra) e de suspense, onde a aproximação ao objectivo parece
ficar sempre um pouco aquém do esperado, estão entremeados com aqueles em que a
acção explode, de forma ampla e violenta, num contraste bem doseado.
A par dos desenvolvimentos no presente, que
predominam, Brubaker vai inserindo alguns flashbacks que aos poucos vão
revelando o passado “russo” de Bucky Barnes e da Viúva Negra, ajudando a contextualizar
o relato actual.
As diferentes personagens estão bem
desenvolvidas e caracterizadas, evoluindo de forma natural no contexto em que o
argumentista as colocou.
O traço de Guice, primeiro, e de Lark, nos
quatro capítulos finais, se não tem a capacidade de deslumbrar do desenho hiper-realista
de Steve Epting nos arcos da morte e substituição do Capitão América já
referidos, pelo tom sombrio e menos definido adoptado, cria o ambiente ideal
para o tom da narrativa que, sendo na sua base uma história de super-heróis,
possui mais do que o necessário para cativar os apreciadores de narrativas
policiais e de espionagem.
Como único senão – compreensível – fica o arco
em aberto no final deste tomo, o que leva a desejar que a Panini (espanhola)
edite rapidamente – logo que possível dada a proximidade entre esta edição e a
original norte-americana – o tomo seguinte.
16/10/2012
Capitán América - El hombre que compró América
Colecção Marvel Deluxe - Capitán
América #8
Ed Brubaker (argumento)
Steve Epting, Mike Perkins,
Roberto de la Torre, Rick Magyar, Fabio Laguna (desenho)
Frank D’Armata (cor)
Panini Comics (Espanha, Setembro
de 2012)
175 x 265 mm, 152 p, cor,
cartonado
16,00 €
Resumo
Compilação dos comics Captain America vol. 5, #37 a #42, da
edição original norte-americana, consolida Bucky Barnes/o Soldado Invernal como
o novo Capitão América, não sem que antes ele tenha de defrontar alguém com as
mesmas aspirações, ao mesmo tempo que os planos urdidos pelo Caveira Vermelha são
finalmente derrotados.
Desenvolvimento
Este tomo é o último do tríptico que narra o assassinato do
Capitão América, no final da Guerra Civil que abalou o universo Marvel, e os
acontecimentos subsequentes que levaram a ajustes importantes no seu seio.
Por isso, não deve ser lido isolado, mas como fecho de uma
longa saga iniciada em “La muerte del Capitán América”
(Colecção Marvel Deluxe - Capitán América #5) e que prosseguiu em “El peso de los sueños”
(Colecção Marvel Deluxe - Capitán América #6), da mesma forma que este meu
texto precisa também do complemento do que escrevi atrás sobre os outros dois
tomos, até porque evitei repetir as ideias até agora expressas.
Nele, Brubaker continua a sua reconstrução do mito do Capitão
América, revisitando ou evocando diversos momentos da sua cronologia para dar
consistência à narrativa, que vai orientando entre o conflito com os seguidores
do Caveira Vermelha e as cenas dialogadas em que Bucky tenta justificar a opção
de vestir o uniforme do herói caído, num crescendo de tensão que culmina num
confronto entre dois capitães América!
E se a linha condutora de Brubaker – e a sua mestria
narrativa – se mantêm ao longo de toda a saga, bem pensada, delineada e
exposta, pena é que a participação de Steve Epting tenha passado a ser
intermitente, com a imagem gráfica a ressentir-se bastante e o traço a
tornar-se rude e até indefinido, sem o cunho hiper-realista que o caracterizava
e ajudava à ligação entre a ficção de super-heróis e a realidade, pois são
vários os aspectos quotidianos nela incluídos.
Em jeito de resumo, como ideia central, fica a forma como Ed
Brubaker destrói, justifica, releva e restaura o mito, encerrando um ciclo e
abrindo as portas para outro novo. Porque, se este é concluído de forma no
mínimo competente e, algumas vezes, mesmo brilhante, deixa também as pontas
soltas suficientes para que tudo possa continuar.
Leituras relacionadas
Brubaker,
Capitão América,
D'Armata,
Epting,
Laguna,
Magyar,
Marvel,
Panini,
Perkins,
Torre
05/10/2012
Capitán América - El peso de los sueños
Colecção Marvel Deluxe
Capitán
América #6
Ed Brubaker (argumento)
Steve Epting, Butcht Guice e Mike
Perkins (desenho)
Frank D’Armata (cor)
Panini Comics (Espanha, Maio de
2012)
175 x 265 mm, 152 p, cor, cartonado
16,00 €
Resumo
Compilação dos comics Captain America vol. 5, #31 a #36 da
edição original norte-americana, mostra quem substituiu o Capitão América ao
mesmo tempo que decorrem as investigações para saber quem esteve por detrás do
seu assassinato.
Desenvolvimento
Depois de o volume anterior – “Capitán América #5: La muertedel Capitán América”
– ter mostrado a morte do maior símbolo da América, no que aos comics diz
respeito, e como isso afectou não só os que lhe eram mais próximos mas também,
a população em geral, neste novo tomo Brubaker continua a explorar esse
conceito, a diversos níveis.
Se é óbvio que a ideia inicial foi desde sempre substituir
ou de alguma forma fazer ressuscitar o herói caído – é assim que a morte
funciona no universo Marvel – o desenrolar do argumento, consistente e bem
estruturado, com uma linha condutora forte e bem definida, leva a adiar esse
(inevitável) regresso para bem dos leitores. Na verdade, isto permite que a
intriga se desenvolva em diversos locais e em diversos contextos, tornando-a
mais densa e estimulante, pois são várias as questões em jogo: recuperar o
corpo do herói falecido, encontrar Sharon Stone a sua presumível assassina,
acompanhar a evolução de Bucky Barnes como a nova encarnação do justiceiro,
seguir a evolução da desesperada situação económica dos EUA e a ascensão
política do senador Wright, desvendar até que ponto o dr. Fausto domina muitos
dos intervenientes, impedir o seucesso dos planos orquestrados pelo Caveira
Vermelha.
Mantendo um tom próximo do registo de espionagem e de
policial negro, a narrativa tem neste tomo um significativo acréscimo das cenas
de acção, depois do tom mais introspectivo do volume anterior. Assente na
indefinição de Bucky Barnes quanto a assumir o (pesado) uniforme do Capitão
América, privilegia os diversos confrontos entre ele, o Falcão, a Viúva negra e
os operacionais da SHIELD, contra os seguidores do Caveira Vermelha e do dr.
Fausto. Este último, assume um papel determinante em toda a trama, que só será
entendido em toda a sua magnitude no terceiro e último volume, “El hombre que
compró América”.
Bastante positiva é a utilização do suporte televisivo como
instrumento narrativo e o facto da estratégia do vilão para ascender ao poder
combinar o habitual lado violento com a intriga económica e política, o que
reforça o realismo e a credibilidade do argumento, assim mais alicerçado em
aspectos do nosso quotidiano.
Como última nota, a quem quiser e puder, sugiro uma
comparação entre os níveis de violência apresentados por este novo Capitão América (e pelo relato
em geral) com os que se podem ver, por exemplo, no (bem mais ingénuo) volume da colecção Heróis
Marvel dedicado ao Capitão América, como reflexo de adequação dos quadradinhos a novos tempos – e à realidade.
A reter
- De novo a superior capacidade narrativa de Ed Brubaker…
- … e o trabalho gráfico num registo hiper-realista de
Epting…
- … bem como a excelente edição, embora desta vez sem a
inclusão de quaisquer extras.
Menos conseguido
- Quando se alcança o grau de realismo que Brubaker e Epting
imprimiram ao “seu” Capitão América, uma personagem caricatural como o Caveira
Vermelha acaba por surgir algo deslocada no conjunto.
27/09/2012
La muerte del Capitán América
Colecção Marvel Deluxe - Capitán
América #5
Ed Brubaker e Brian Michael
Bendis (argumento)
Steve Epting e Mike Perkins
(desenho)
Frank D’Armata (cor)
Panini Comics (Espanha, Julho de
2011)
175 x 265 mm, 176 p, cor,
cartonado
16,95 €
Resumo
Compilação dos comics Captain America vol. 5, #25 a #30 da
edição original norte-americana, narra o assassinato do Capitão América, na
sequência dos acontecimento do final da saga Guerra Civil, e como esse
acontecimento afecta todos aqueles que de alguma forma estavam a ele ligados.
Desenvolvimento
Se é verdade que as maxi-sagas que recorrentemente abalam os
universos da Marvel ou da DC Comics têm primeiramente um vincado intuito
comercial, quer pelo impacto mediático, quer pela multiplicação de mini-séries
a ela associadas que obrigam à compra de um sem número de edições, a verdade é
que, após deixar assentar a poeira levantada, por vezes é possível encontrar
boas histórias, especialmente nessas tais séries paralelas.
A Guerra Civil que (mais uma vez) revolucionou o universo
Marvel em meados da década passada, não é excepção e o seu momento fulcral – a
morte do Capitão América – é um dos casos atrás descritos.
Líder da resistência contra o registo obrigatório dos super-heróis,
após um combate com o Homem de Ferro que encabeçava a facção oposta, o Capitão
América é preso. Ao ser levado para julgamento, é atingido mortalmente a tiro.
Começava assim, de forma marcante, o Captain America #25, ou
não fosse o seu herói titular um dos maiores (se não mesmo o maior) símbolos
dos EUA nos comics. Ultrapassando as expectativas dos próprios criadores, a
notícia foi então difundida por jornais, rádios e televisões por todos os
Estados Unidos e mesmo no estrangeiro, transformando-se num acontecimento
mediático planetário.
Deixando estes acontecimentos acessórios de lado, de volta
aos quadradinhos, Ed Brubaker, autor que passou pelo Salão de BD do Porto nos
anos 90, “responsável pelo assassinato”, constrói uma história consistente e
bem sustentada, que, iniciada praticamente com o acontecimento de maior
impacto, é desenvolvida depois num crescendo que terá, rapidamente, novo
momento marcante com o surpreendente desvendar de quem (aparentemente?) matou o
super-herói.
Depois, o relato adopta um tom de espionagem e policial que
lhe serve para explorar a forma como as diversas pessoas e organizações
receberam a notícia e qual o impacto que o acontecimento teve nelas e no “povo”
norte-americano em geral, acentuado pela utilização de flashbacks cirúrgicos
que ajudam a compreender acções e reacções e explicar o que o Capitão América
representava, transformando esta história também numa sentida homenagem.
Tudo isto enquanto Tony Stark tenta pôr ordem na SHIELD,
Nick Fury orquestra na clandestinidade, o Caveira Vermelha, auxiliado pela sua
filha Pecado, se revela como o vilão por detrás da morte, Sharon Carter, a
braços com perturbantes segredos, tenta recompor-se do abalo e o Falcão, por um
lado, e o Soldado Invernal (Bucky Barnes), por outro, com intuitos diversos – a
justiça, um, a vingança, o outro – tentam descobrir o responsável pelo
assassinato.
O traço seguro, dinâmico e de grande realismo de Epting,
ajuda a realçar a ambiência que Brubaker lhe imprimiu, mas revela-se igualmente
apto para as cenas e confrontos em que prevalece a faceta super-heróica.
A continuação da história, que passará pela perseguição do
assassino mas,também – inevitavelmente – pelo regresso do herói, em moldes a
desvendar, pode ser lida em “Capitán América – El peso de los sueños”, em breve
aqui no blog.
A reter
- A mestria narrativa demonstrada por Brubaker que faz de um
acontecimento de grande impacto mas curta duração e final expectável, uma bela
história negra em tom policial e de espionagem enquanto também homenageia o
herói tombado.
- O traço hiper-realista de Epting.
- A bela capa do volume, correspondente à do comic-book #25.
- A edição irrepreensível da Panini espanhola, com capa
dura, inclusão de capas alternativas, uma exemplar introdução de Raimón Fonseca
e entrevistas com Ed Brubaker e Steve Epting, entre outros extras.
Leituras relacionadas
Brubaker,
Capitão América,
Epting,
Panini
28/04/2010
Incognito #1 - Projet Overkill
Ed Brubaker (argumento)
Sean Phillips (desenho)
Val Staples (cor)
Delcourt (França, Abril de 2010)
173 x 264 mm, 160 p., cor, cartonado
Resumo
Zack Overkill é um ex-super-criminoso, hiperviolento e amoral, que após a morte do seu irmão gémeo, Xander, decidiu denunciar os seus chefes à polícia, em troco de imunidade total e da participação num programa de protecção de testemunhas. Para isso, teve de se sujeitar a um tomar um medicamento que o priva das suas capacidades extraordinárias (força, impulso, desprezo pela morte…) devidas a um perigoso soro, e de assumir um emprego como arquivista num escritório banal.
No entanto, uma experiência com drogas, fá-lo recuperar os seus poderes, mas desta vez direccionando-os para fazer combater pequenos criminosos, como ladrões e violadores. Só que o seu regresso não passa despercebido às autoridades nem aos seus antigos empregadores, iniciando-se então uma caçada impiedosa na qual as vitimas colaterais não são importantes nem contadas.
Desenvolvimento
Escritor de (merecido) sucesso no meio dos comics de super-heróis, Brubaker tem aqui uma história que, podendo ser incluída no género, devido a alguns dos seus pressupostos – seres com super-poderes, embora sem nenhum protagonista conhecido, sociedades secretas, conspirações, sábios loucos - apresenta algumas diferenças fundamentais que a empurram mais para os terrenos do romance negro.
Desde logo pelo tom sombrio da narrativa e de (quase) todos os cenários em que ela se desenrola, para o que contribuem sobremaneira os tons escuros utilizados por Val Staples para pintar o traço agreste e duro de Phillips, não especialmente agradável mas eficaz e muito adequado ao contexto.
Depois, pela inclusão de cenas de sexo, moderadas quando avaliadas pelos padrões da BD europeia, mas nada habituais nos comics, e também pela violência extrema de algumas sequências, como a que surge logo na segunda vinheta, quando Overkill esmaga a cabeça de um homem contra uma parede.
Mas acima de tudo, o que marca a diferença e faz deste livro uma obra aconselhável, independentemente do género em que a queiramos classificar, é a forma como Brubaker coloca questões sobre a natureza humana, sobre o que leva um homem a tornar-se um criminoso, partindo da dualidade com que Overkill se debate, dividido entre a sua nova existência e a possibilidade de regressar ao passado, hesitante em manter a sua existência anónima e anódina ou regressar às primeiras páginas dos media, dividido entre continuar subjugado às forças que o controla(ra)m ou tentado a marcar o seu próprio percurso. E fá-lo especialmente através do uso da voz-off com que o protagonista narra grande parte da história, ao mesmo tempo que revela o seu interior torturado e tortuoso e o caos que a sua vida sempre foi.
Ao longo do relato, que avança a uma velocidade trepidante, sem tempos mortos nem momentos de reflexão, Zack Overkill vai-se cruzar com antigos aliados e inimigos e reviver acontecimentos (alguns dolorosos…) que julgava esquecidos para sempre, e vai ser obrigado a fazer escolhas, ao mesmo tempo que descobre segredos perturbadores sobre o seu passado e a sua origem, menos “normal” do que ele pensava.
Até ao final, incómodo, com algo de redentor mas também de passo em frente para o abismo, no qual a vitória do bem (?) fica ligada à sua incapacidade de controlar os seus impulsos violentos e destrutivos…
Sean Phillips (desenho)
Val Staples (cor)
Delcourt (França, Abril de 2010)
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Resumo
Zack Overkill é um ex-super-criminoso, hiperviolento e amoral, que após a morte do seu irmão gémeo, Xander, decidiu denunciar os seus chefes à polícia, em troco de imunidade total e da participação num programa de protecção de testemunhas. Para isso, teve de se sujeitar a um tomar um medicamento que o priva das suas capacidades extraordinárias (força, impulso, desprezo pela morte…) devidas a um perigoso soro, e de assumir um emprego como arquivista num escritório banal.
No entanto, uma experiência com drogas, fá-lo recuperar os seus poderes, mas desta vez direccionando-os para fazer combater pequenos criminosos, como ladrões e violadores. Só que o seu regresso não passa despercebido às autoridades nem aos seus antigos empregadores, iniciando-se então uma caçada impiedosa na qual as vitimas colaterais não são importantes nem contadas.
Desenvolvimento
Escritor de (merecido) sucesso no meio dos comics de super-heróis, Brubaker tem aqui uma história que, podendo ser incluída no género, devido a alguns dos seus pressupostos – seres com super-poderes, embora sem nenhum protagonista conhecido, sociedades secretas, conspirações, sábios loucos - apresenta algumas diferenças fundamentais que a empurram mais para os terrenos do romance negro.
Desde logo pelo tom sombrio da narrativa e de (quase) todos os cenários em que ela se desenrola, para o que contribuem sobremaneira os tons escuros utilizados por Val Staples para pintar o traço agreste e duro de Phillips, não especialmente agradável mas eficaz e muito adequado ao contexto.
Depois, pela inclusão de cenas de sexo, moderadas quando avaliadas pelos padrões da BD europeia, mas nada habituais nos comics, e também pela violência extrema de algumas sequências, como a que surge logo na segunda vinheta, quando Overkill esmaga a cabeça de um homem contra uma parede.
Mas acima de tudo, o que marca a diferença e faz deste livro uma obra aconselhável, independentemente do género em que a queiramos classificar, é a forma como Brubaker coloca questões sobre a natureza humana, sobre o que leva um homem a tornar-se um criminoso, partindo da dualidade com que Overkill se debate, dividido entre a sua nova existência e a possibilidade de regressar ao passado, hesitante em manter a sua existência anónima e anódina ou regressar às primeiras páginas dos media, dividido entre continuar subjugado às forças que o controla(ra)m ou tentado a marcar o seu próprio percurso. E fá-lo especialmente através do uso da voz-off com que o protagonista narra grande parte da história, ao mesmo tempo que revela o seu interior torturado e tortuoso e o caos que a sua vida sempre foi.
Ao longo do relato, que avança a uma velocidade trepidante, sem tempos mortos nem momentos de reflexão, Zack Overkill vai-se cruzar com antigos aliados e inimigos e reviver acontecimentos (alguns dolorosos…) que julgava esquecidos para sempre, e vai ser obrigado a fazer escolhas, ao mesmo tempo que descobre segredos perturbadores sobre o seu passado e a sua origem, menos “normal” do que ele pensava.
Até ao final, incómodo, com algo de redentor mas também de passo em frente para o abismo, no qual a vitória do bem (?) fica ligada à sua incapacidade de controlar os seus impulsos violentos e destrutivos…
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