Charles
Burns
Delcourt
(França, 8 de Novembro de 2006)
175 x 260 mm, 368 p., pb, cartonado com
sobrecapa
29,90 €
Resumo
Numa pequena vila
norte-americana, surge uma estranha doença, sem explicação (vírus? maldição?
ataque extraterrestre?) aparente nem causas confirmadas, que provoca horríveis
mutações exclusivamente na população adolescente/juvenil. Membranas entre os
dedos, cornos, uma segunda boca, estranhos orifícios em diferentes partes do
corpo, são algumas das suas manifestações.
Desenvolvimento
Se a base da narrativa deixa
antever um tom fantástico – que obviamente existe – não é esse o caminho
(principal) trilhado por Charles Burns que optou por um registo de terror
psicológico, que perpassa toda esta longa e densa narrativa, de tom incómodo e
inquietante, com mais perguntas do que respostas.
A par dele, de forma algo
surpreendente - pelo que atrás fica escrito – Burns traça um retrato forte e
impactante sobre os relacionamentos e os valores de uma (nova) geração que
busca na alienação proporcionada pelas drogas e pelo sexo (recém-descobertos ou
em fase exploratória) as respostas que não consegue encontrar ou aquelas que já
descobriu e quer esquecer.
Desta forma, “Black Hole”
revela-se uma enorme metáfora, um retrato distorcido – mas não tanto quanto uma
leitura apressada poderá sugerir – de uma determinada época e de uma geração
(perdida?), à deriva, com o peso das (novas) responsabilidades que o
crescimento traz agravado pelo estranho mal que os afecta e os leva, ao
auto-isolamento e/ou a uma revolta – mais ou menos violenta – contra uma
sociedade que não sendo (?) culpada, também pouco ou nada faz para os ajudar
(recuperar, integrar, guiar, direccionar…).
Burns, acentua a sensação de
estranheza e incómodo pelo forte contraste entra o seu traço limpo, bastante
realista, pormenorizado e até agradável, e o tom escuro das pranchas fruto do
predomínio do tom negro, que – numa boa utilização de técnica fotográfica -
muitas vezes assumem o aspecto de negativos e não de imagem já revelada.
O relato, feito a várias
vozes – as dos principais intervenientes – e várias interpretações – consoante
os pontos de vista de cada um - é feito de avanços e recuos, exibindo muitas
vezes o que aconteceu e só depois as causas que levaram ao efeito já
desvendado, numa narrativa elíptica, que obriga o leitor a atenção redobrada e,
por vezes, a sucessivas reinterpretações do que vê, enquanto se sente a mergulhar,
inexoravelmente, sem escapatória, num infinito “buraco negro”.