23/09/2011

Manuel Caldas

“Seduzido pela BD”
Chama-se Manuel Caldas, é português, mora na Póvoa de Varzim e dedica-se a reeditar bandas desenhadas clássicas norte-americanas como o Príncipe Valente, Lance, Krazy Kat ou, em breve, Cisco Kid, restauradas com paixão e minúcia.
A paixão pela BD nasceu “antes dos seis anos quando guardava o suplemento “Pim-Pam-Pum” de “O Século”. Ninguém me chamou a atenção para a BD, foi ela que me seduziu”, afirma.
Mais tarde, aos 11 anos o pai mostrou-lhe “o Príncipe Valente, de Harold Foster, publicado no Primeiro de Janeiro, que tinha uns desenhos muito bem feitos”. “Fulminado”, com o tempo constatou “que a história era também magistral e que havia na série uma unidade sublime” pelo que não descansou enquanto não a conheceu toda.
Nasceria aí a vontade de editar essa saga medieval – analisada no seu estudo “Foster e Val” - sonho que começou a concretizar em 2005, sob o selo “Livros de Papel”, entretanto transformado em “Libri Impressi”. E “quando o “Príncipe Valente” se revelou um êxito de vendas”, fez as contas e verificou “que se fizesse dois volumes por ano ganhava mais do que na escola onde era um simples (e insignificante) auxiliar de acção educativa. Assim, como não cair na tentação de deixar um emprego onde era impossível qualquer realização pessoal para fazer exclusivamente o que mais gostava?”
Aos primeiros volumes do Príncipe Valente, sucederam-se outros títulos: “Ferd’nand”, que os leitores do Comércio do Porto seguiram durante anos, “Hagar, o horrendo”, outro clássico do humor, ou “Lance”, um western humanístico. Mais recentemente, "Os Meninos Kin-Der", “Krazy Kat”, “Dot & Dash”, “O Corvo”, “O Livro do Buraco” ou “Ele foi mau para ela”, uma novela gráfica muda de 1930. Não tanto por opção, mas devido a desentendimentos com a pessoa com quem editava o “Príncipe Valente”. Por isso, a “vida como editor tornou-se mais difícil, pois depressa constatei que nenhuma outra banda desenhada das que me interessam vendia como a de Foster”. No entanto, tem “sobrevivido e apesar de a nível económico ser mais tranquilo voltar para a escola”, onde se encontra com “licença sem vencimento” nunca se arrependeu da opção que assumiu.
A par das edições nacionais, Manuel Caldas tem editado também para o mercado espanhol. O salto foi dado “quando alguns espanhóis viram o “Príncipe Valente” em português e começaram a pedir uma edição na língua deles” Entusiasmado, decidiu avançar e as coisas acabaram por “se tornar mais fáceis quando fui contactado pela principal distribuidora espanhola de livros e revistas de BD”. Agora, afirma, “se calhar, sou o único editor português que faz edições exclusivamente para o mercado espanhol”.
Infelizmente, Espanha, onde “a venda pelo correio, através do seu site, assume proporções significativas, ao contrário de Portugal”, “não é um mercado tão grande como se pensa”, mas tem contribuído para garantir a viabilidade económica das suas edições.
Edições cuja qualidade e fidelidade aos originais tem sido amplamente elogiada, pelo que não surpreende que, só este ano, tenha colaborado com a editora norte-americana Classic Comics Press na preparação do primeiro volume das tiras diárias de “Cisco Kid” - que vai lançar em breve em edição própria no mercado espanhol –, vendido a sua versão restaurada de “Lance“ a “editores da Alemanha e da Noruega, estando já nas livrarias a edição alemã”, estando de pé a hipótese de a vender para os Estados Unidos, e esteja a preparar três volumes do Príncipe Valente encomendados por um editor do Uruguai!
O que distingue as edições de Manuel Caldas de outras similares, é a paixão, a paciência, o trabalho artesanal, as muitas horas gastas no restauro de cada página – 20 ou 30 horas, nalguns casos - , na obsessão de “devolver às imagens a pureza original, de melhorar tudo o que sou capaz de melhorar, mesmo pormenores que só se verão com lupa”. Mas, garante, “já decidi que depois de concluir o restauro do “Lance” não mais voltarei a fazer restauros tão profundos. Mas também por vezes me interrogo se conseguirei cumprir tal decisão…”
Para conseguir os seus objectivos, na impossibilidade de utilizar pranchas originais, geralmente inexistentes, recorre às páginas de jornais da época, “umas compradas pela internet, outras emprestadas por coleccionadores estrangeiros, outras obtidas digitalizadas”.
Depois, trabalha obsessivamente, limpa os defeitos de impressão, remove as cores se a edição for a preto e branco ou restaura-as quando são coloridas, utiliza o melhor de cada vinheta – chegando a utilizar quatro fontes diferentes para atingir o "traço ideal", aquele “que se vê, com precisão e sem quebras” ou seja, mostrar cada desenho tal como o autor o fez.
Com a pena de se ver obrigado “a pensar mais (ou exclusivamente) no mercado espanhol”, revela que por cumprir, tem ainda “muitos sonhos, até porque outros vão nascendo”. E sabendo que morrerá “sem os realizar todos”, não se queixa pois sente que vai passar “o resto dos dias a realizar alguns”.















(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Setembro de 2011)

22/09/2011

Júlio Resende (1917-2011)

A obra aos quadradinhos
Júlio Resende, um dos grandes pintores portugueses contemporâneos, de obra (re)conhecida, faleceu ontem e vai ser muito falado por estes dias. Aqui, nas minhas Leituras, quero evocar uma faceta menos conhecida da sua obra, as histórias aos quadradinhos que fizeram parte do seu percurso artístico durante quase duas décadas.
A sua estreia no género deu-se nas páginas do Jornal de Notícias, a 26 de Fevereiro de 1933, no suplemento infantil “Para os Pequeninos”, contava o futuro mestre 17 anos. No mesmo espaço, aliás, fizera a sua estreia impressa, dois anos antes, em 25 de Dezembro.
Nos anos seguintes, a sua criação nesta área, já para jornais diários e semanários infantis, a par da produção de desenhos publicitários, intensificou-se, em boa parte pela necessidade de fazer dinheiro para ajudar a pagar o seu curso na Escola de Belas-Artes do Porto.
Tendo passado, de forma breve pelo “Tic-tac”, estreou-se nas páginas de “O Papagaio” no final de 1935 com “Coisas que Acontecem”, BD humorística que foi também a primeira colaboração com o irmão, António Resende Dias, que escreveria muitos dos argumentos que desenhou. Naquela revista, onde Tintin se estreou em Portugal e em cujos programas radiofónicos participou como animador, tanto assinou Júlio Resende como Júlio Rezende, só Resende, J.R. ou Dyas, tendo publicado mais de três de dezenas de histórias aos quadradinhos, curtas ou em continuação. Entre elas uma adaptação de Robinson Crusoé, num estilo semi-realista, e a história completa publicada numa separata no número especial de Natal de 1938, que faz dele um dos mais raros do papagaio.
É no entanto o humor que marca a maior parte das suas criações, que na maior parte dos casos continuam a ler-se com bastante agrado nos nossos dias, destacando-se as diversas aventuras de Freitas e Arrepiado, protagonistas, nos mais diversos géneros, de títulos como “Volta ao Mundo numa banheira”, “Arrepiado e Freitas cow-boys” ou “À Procura da Goma Arábica”.
Outra das suas criações mais celebradas aos quadradinhos é a dupla Matulinho e Matulão, protagonistas de peripécias e desgraças nas páginas de O Primeiro de Janeiro, entre 1942 e 1952.
Na sua base estão as birras do miúdo, mimado e caprichoso, que faz a vida negra ao seu paciente padrinho até ele lhe satisfazer as mínimas vontades. O grafismo de Júlio Resende nesta fase é bem mais depurado, como bem ilustra a figura do miúdo, cuja “cabeça e o chapéu à marujo” formam “progressivamente uma unidade indissociável, que lembra uma paleta de pintor”, como escrevem João Paulo Paiva Boléo e Carlos Bandeiras Pinheiro no catálogo “Das Conferências do Casino à Filosofia de Ponta”.
Naquele jornal, Júlio Resende colaborou também com desenhos infantis, cartoons e construções de armar e ilustrou os célebres calendários de Matulinho e Matulão, que sobreviveram às bandas desenhadas e duraram até aos anos 70.



(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 22 de Setembro de 2011)

21/09/2011

CBD 2011 (II)

1as Conferências de Banda Desenhada em Portugal

Programa

Dia 22 de Setembro, Quinta-Feira
9h30
Apresentação das Conferências e Convidados
Discursos dos convidados internacionais
David Kunzle, “Rodolphe Töpffer, Diletante” (em língua inglesa)
Thierry Groensteen, “Patchwork de estilos: o fim do dogma da homogeneidade gráfica” (em língua francesa)

11h30
Intervalo

11h50
1ª Parte das apresentações: O Artefacto Literário
Maria Cristina Álvares, “A figura do herói na bd franco-belga clássica”
Daniel Seabra Lopes, “Na margem da aventura: Pratt”
Alexandra Dias, “O Diário de K. e a Intertextualidade”

13h00
Pausa para almoço

14h30
2ª Parte das apresentações: Disciplina e Indisciplina
Cláudia Pinto, “Marvels e Kingdom Come: A Re-Mitificação da América”
José Marmeleira, “Vãs epifanias: rock e banda desenhada”
Helena Berardo, “Uma leitura feminista de O Vagabundo dos Limbos”

15h50
Intervalo

16h10
Mesa-redonda: Grupo de Investigação de Banda Desenhada

Dia 23 de Setembro, Sexta-Feira
10h00
3ª Parte das apresentações: Lógicas de Território
Sara Figueiredo Costa, “Castelao e o galeguismo”
Nuno Marques, “In The Shadow of No Towers e M-11 La Novela Grafica como momentos de silêncio entre o ruído da tragédia”
João Miguel Lameiras, “Era uma vez na Argentina: entre o esquecimento e a memória”

11h00
Intervalo

11h20
4ª Parte das apresentações: Ciência e Banda Desenhada
João Ramalho Santos, “Ciência e Banda Desenhada”
João Mascarenhas, “Tintin, a aventura na Lua, o conhecimento científico e a bd”

12h00
Pausa para almoço

14h00
5ª Parte das apresentações: Autores Portugueses
João Caetano, “Lugares de Fronteira: Carlos Alberto Santos”
Conceição Pereira, “Arte fragmentada (José Carlos Fernandes)”
Álvaro Matos, “Política e bd na I República”

15h00
Intervalo

15h20
6ª Parte das apresentações: Limites e Experimentação
Pedro Moura, “Elementos estéticos em The Cage, de Martin Vaughn-James”
Diniz Conefrey, “Percepção narrativa no advento da bd abstracta”
Domingos Isabelinho, “A banda desenhada portuguesa no campo alargado: do O Escritor a A História Dramática de um Ovo”

16h40
Encerramento das Conferências

A entrada é livre.

20/09/2011

Sept Personnages

Fred Duval (argumento)Florento Calvez (desenho)
Delcourt (França, 31 de Agosto de 2011)
230 x 320 mm, 56 p., cor, cartonado
14,95 €

O projecto Sept
Conceito desenvolvido pelo argumentista David Chauvel, este projecto, nascido em 2007, assentava no seguinte mote: “sete histórias, sete missões de alto risco, sete equipas de sete elementos dispostas a serem bem sucedidas!
Escritos por sete argumentistas e desenhados por sete desenhadores, nasceram assim “Sept voleurs”, “Sept Guerrières”, “Sept Missionaires”, “Sept Pirates”. “Sept Prisionniers” e “Sept Psychopates” e“Sept Yazukas”.
O sucesso da série, deu origem a nova “temporada”, que leva já três títulos publicados: “Sept Clones”, “Sept Survivants” e este “Sept Personnages”.

Resumo
Sete personagens emblemáticas criadas por Molière – Agnès, Alceste, Argan, Scapin, Harpagon, Don Juan e Tartuffe - investigação as razões da sua morte.

Desenvolvimento
Este é um álbum diferente, quer considerado individualmente, quer no conjunto da colecção em que está inserido, pela abordagem original de Duval, que escolheu como protagonistas personagens de ficção criadas por Molière, incluindo mesmo um Don Juan arrancado às chamas do Inferno (ou não…), o que confere à narrativa um insuspeitado toque de fantástico. Mantendo as características de cada uma e mantendo-as no seu tempo e no seu contexto histórico, mas fazendo delas actores de um relato em que o tom oscila entre o policial e o conspirativo, para descobrirem quem envenenou o dramaturgo e porquê.
O texto, recheado de citações e referências, históricas e da literatura à pintura, mas com vida própria para além delas, é estimulante e está bem escrito, conseguindo cativar e surpreender o leitor mas também diverti-lo.
Teria ganho, sem dúvida, com um desenhador mais desenvolto que Calvez, que apresenta personagens demasiado rígidas, algumas dificuldades nas proporções e falta de dinamismo gráfico, embora seja de assinalar a planificação diversificada que serve de base ao seu traço.

A reter
- A originalidade da ideia e a forma como Duval a desenvolve.

Menos conseguido
- O traço de Calvez, a necessitar de ganhar maturidade e desenvoltura.

18/09/2011

Selos & Quadradinhos (63)

Stamps & Comics / Timbres & BD (63)
Tema/subject/sujet: Pokémon
País/country/pays: São Vicente e Granadinas
Data de Emissão/Date of issue/date d'émission: 2001

17/09/2011

Gilles Chaillet (1946-2011)

Esta foi uma semana negra para a banda desenhada. Depois de Daniel Hulet e Jean-Paul Mougin, também faleceu Gilles Chaillet, criador da série de banda desenhada “Vasco”, no passado dia 14.Nascido a 3 de Junho de 1946, em Paris, iniciou-se na banda desenhada em 1965, como colorista, tendo trabalhado para a Dargaud em séries como Tanguy e Laverdure, Achille Talon, Blueberry, Bob Morane ou Barbe-Rouge.
Depois – faceta pouco conhecida da sua carreira – trabalhou nos estúdios de Albert Uderzo, para quem ilustrou catorze mini-álbuns protagonizados por Ideaifix.
Em 1976, entrou para o estúdio de Jacques Martin, tendo assumido o desenho de Lefranc, uma outra série do pai de Alix. Lá, tornou-se a sombra de Martin, ao mesmo tempo que apreendia o seu estilo barroco, minucioso e pormenorizado e aprofundava o gosto pelo rigor histórico, que viria a pôr em prática em “Vasco”, série que desenvolveu a solo, em 23 álbuns, a partir de 1980, e que apresenta diversos pontos de contacto com Alix, embora a sua acção se passe no século XIV. O 24º tomo, “Le Village Maudit”, com desenho de Frédéric Toublanc, que assina assim o seu segundo álbum da série, está anunciado para 2012.
O primeiro episódio de Vasco foi publicado no Tintin português em 1982, sendo depois retomado pela Edinter, que editou as primeiras quatro aventuras em álbum, e pela ASA, que republicou os dois primeiros tomos num volume duplo da colecção Clássicos da Revista Tintin.
“Les Voyages d’Alix”, “Les Voyages d’Orion” (nos dois casos de novo com Martin), “Le Triangle secret”, “Loge Noir”, “Tombelaine” ou “Intox”, são outros títulos marcantes da sua bibliografia, como único autor, só desenhador ou só argumentista, onde avulta ainda “La Rome des Césars”, uma obra-prima ilustrada onde se revelou um conhecedor apaixonado pela época romana.

16/09/2011

É de noite que faço as perguntas

David Soares 8argumento)Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho, Daniel da Silva e Richard Câmara (desenho)
Saída de Emergência (Portugal, 16 de Setembro e 2011)
210 x 297 mm, 64 p., cor, brochado com badanas
18,00 €

Chega hoje às livrarias o álbum “É de noite que faço as perguntas”, numa bela edição da Saída de Emergência, na qual o (também) romancista David Soares revisita a génese da Primeira República, partindo da sua cronologia e dos factos históricos para desenvolver uma observação sobre a vida, a política e o modo como ambas se influenciam.
Jorge Coelho
Passado num tempo indefinido, em que o nosso país está sob uma ditadura asfixiante, que coarcta qualquer forma de liberdade ou de expressão, a história tem como base uma carta escrita por um pai a um filho que há muito não vê, adivinhando-se que a falta de comunicação e algumas escolhas levaram a esse afastamento. Contando a sua própria relação com o seu pai (avô do filho), o homem – creio que não involuntariamente – de alguma forma traça um paralelo entre o percurso dos dois, tentando mostrar como o filho está a repetir os erros que ele já cometera. Como tempo da acção, David Soares escolheu o período que conduziu à implantação da Primeira República em Portugal e os anos que se lhe seguiram até ao início do Estado Novo, partindo da sua cronologia e dos factos históricos para desenvolver uma observação sobre a vida, as relações, a política e o modo como se influenciam.
João Maio Pinto
Esta escolha surgiu porque este álbum é resultado “de um convite conjunto do Centro Nacional de Banda Desenhada e da Imagem da Amadora e da Comissão Nacional Para as Comemorações do Centenário da República, que tinha como objectivo criar uma banda desenhada que contasse a história da Primeira República portuguesa”. No entanto, revelou o escritor, “desde o início que foi intenção de todos os envolvidos não incorrer num registo "pedagógico", normalmente associado a trabalhos desta natureza, mas num mais contemporâneo, mais sofisticado”. Propósito plenamente conseguido, pois os factos históricos surgem como elementos coerentes da narrativa principal, que ajudam a situar e a explicar a acção.
André Coelho
Daniel da Silva
Por isso, apesar de ser uma “encomenda, trabalhar neste álbum foi maravilhoso porque tive liberdade absoluta para escrever a história que achasse mais indicada”. Dessa forma, acrescenta, este livro “não se distancia em muitos graus dos meus restantes trabalhos, sendo mais um ensaio que questiona conceitos como liberdade, democracia, autoritarismo e livre-arbítrio, do que "apenas" uma história sobre o período da nossa primeira república”.
Aos temas indicados pelo argumentista, poder-se-ão também acrescentar outros, que suscitam igualmente reflexão demorada: a inevitabilidade da guerra apesar da sua inutilidade, a importância da informação – da sua busca, da sua disponibilização, da sua partilha -, a necessidade de entendimentos – a nível pessoal tanto quanto a outros níveis mais alargados -, a omnipresença televisiva em detrimento da comunicação pessoal, a necessidade (histórica) de cortes (aparente mas enganadoramente) bruscos com o passado, apesar da linearidade da passagem do tempo.
Richard Câmara
Richard Câmara
O desenho foi entregue a “cinco desenhadores, cujo trabalho admiro”, pois “considerou-se que deveria mostrar novos grafismos e novos artistas”. Apesar disso, de já terem dado (outras) provas noutros registos gráficos, de haver claramente diferenças – em termos de segurança, à-vontade, traço, sequência… - entre eles, há uma assinalável homogeneidade gráfica entre as pranchas de Jorge Coelho, João Maio Pinto, André Coelho, Daniel da Silva e Richard Câmara. Isto acontece quer em termos cromáticos, quer em termos de estilo, o que contribui para que a leitura se faça sem quebras, que o relato, em que predomina um tom intimista, que propõe/impõe silêncios reflexivos, não pede.
Agora, com a edição finalmente disponível nas livrarias e com o distanciamento que o tempo permite, o autor de “O Evangelho do Enforcado” e “Lisboa Triunfante” considera-o “um álbum importante” pois, “ao mesmo tempo que dá a conhecer um período crucial da nossa história, muitas vezes tão mal entendido, ainda coloca questões cada vez mais pertinentes nos tempos em que vivemos”.
Depois de os seus originais terem estado expostos no AmadoraBD 2010, o álbum terá uma sessão oficial de lançamento na edição deste ano do festival, em Outubro próximo.

(Versão revista e alargada do texto publicado no Jornal de Notícias de 16 de Setembro de 2011)
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