Semana do Western I
Começa hoje, com Cisco
Kid, uma semana que As Leituras do Pedro vão dedicar ao
Western.
Este Cisco Kid, recuperado
em edição cuidada, como habitualmente, da Libri Impressi, de Manuel Caldas, é
uma criação clássica e impoluta, irrealista na sua genuinidade e na sua
ingenuidade, embora igualmente capaz de conquistar leitores, embora por motivos
diferentes.
Condicionado pela censura que vigorava nos anos 50 nos
Estados Unidos, sujeito ao escrutínio atento dos responsáveis da imprensa,
Cisco Kid, à imagem de muitos dos westerns ligeiros de então, é uma obra sem
segundos sentidos nem intenções, uma banda desenhada de aventuras em que tudo e
todos parecem exactamente o que são, em que os bons são mesmo bons e os maus
nunca são assim tão maus. Em que o que vemos é o que temos, e a solução linear
que nos ocorre é que previsivelmente aquela que quase sempre tem lugar. Para
além disso, apesar das muitas perseguições e tiroteios, em Cisco Kid é difícil
encontrar mortos, seja por acidente ou provocados.
Isto não invalida que não seja possível deparar com algumas
situações mais inesperadas, como o caso do ex-pistoleiro proibido de usar armas
pela esposa ou a presença recorrente do (não tão) vilão Red Riata, ‘socialite’
anacrónico sedento das luzes da imprensa, tão capaz de organizar um assalto
quanto de concorrer a umas eleições para ser subornado e enriquecer, vendo-se
depois tão ocupado com a presidência ganha, que nem tem tempo de ser desonesto.
Face à galanteria e à facilidade com que Cisco cai nas boas
graças das (muitas e belas) jovens com quem se cruza, à sua agilidade com a
pistola ou à infalibilidade com os punhos – pese alguma dose de ingenuidade
aqui e ali – Rod Reed teve de lhe dar, como contraponto, um companheiro em tudo
díspar, amante da boa mesa e da boa cama, fonte de alguns momentos de humor
burlesco, mas pouco dado a confrontos, embora sempre pronto a ajudar o amigo.
O traço com que o argentino José Luís Salinas os apresentou
aos olhos dos leitores de então – como aos de hoje – é fino e elegante,
detalhado no tratamento da figura humana e dos planos próximos mas menos
cuidado para os fundos e os cenários. Destaque para a expressividade dos rostos
e para a beleza e sensualidade das sucessivas jovens que se perdem de amores
por Cisco, na composição da imagem de marca de um western que poderíamos apodar
de romântico e tradicional.
O que não significa, longe disso, que seja um western
desinteressante ou que não mereça uma leitura atenta e dedicada.
Cisco Kid
#9 Los Bandidos y las Damas
#10 Un pistolero sin armas
Rod Reed (argumento)
José Luís Salinas (desenho)
Libri Impressi
Espanha, Maio de 2018
280 x 230 mm, 96/88 p., pb, capa mole
18,50 €
[O acaso - com uma pequena ajuda - juntou nas minhas leituras - ou mais exactamente nas minhas escritas - uma série de westerns, completamente díspares, que têm em comum, para além dessa temática genérica, a qualidade que os torna leituras aconselháveis.
Bouncer, Cisco Kid, Ken Parker, Matt Marriott, Tex Willer (não obrigatoriamente por esta ordem alfabética em que foram citados) irão ocupar este espaço por estes dias, transformando-o quase numa ‘semana do western’, onde, por exemplo, também podia ter entrado Duke.]
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
Mais uma vez uma publicação com muita qualidade, não fosse de Manuel Caldas, só um (pequeno ?) defeito, não haver uma em Português.
ResponderEliminarNão sei o porquê de agora não publicar em Português.
Boas leituras.
A razão, infelizmente, é sempre a mesma: não é financeiramente compensador (entenda-se; não vende o suficiente para pagar a edição...)
EliminarBoas leituras!
Excelente ideia e em óptima hora, Pedro. O Matt Mariott deixou-me com uma pulga atrás da orelha porque não conhecia e ao pesquisar na net li algumas coisas muito recomendáveis. Mas mesmo assim fiquei algo indeciso. Agora vou esperar pela tua critica para decidir se compro ou não.
ResponderEliminarMuito, muito recomendável, Eskorpiao77, como a crítica há-de-dizer.
EliminarBoas leituras!
Ken Parker jå merece uma edição condigna em Portugal. Talvez o melhor western realista de sempre.
ResponderEliminarMerece, sem dúvida, mas não me aprece fácil nem provável que aconteça... Infelizmente!
EliminarBoas leituras!
Curiosa a justificação de não publicar em Português por falta de compradores, quando no nosso país tem aumentado e diversificado cada vez mais a oferta de publicações pelas Editoras, o que significa que se vendem bem. Além disso as publicações anteriores de Manuel Caldas, em Português, há muito que estão todas esgotadas.
ResponderEliminarUm género aonde só gosto do Lucky Luck e dele:
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