(prefácio
disponibilizado pela editora)
“A memória é a consciência inserida no tempo”
Fernando Pessoa
O tema estava por todo o lado. Nas palavras de todos, nas
preocupações de muitos, nas justificações de alguns, no sofrimento de demasiados.
O Daniel andava por cá. Conhecimento fortuito transformado
em estágio com a Turbina e a Galeria Mundo Fantasma.
A oportunidade, que a “voz populi” atribui à situação que se
vivia, criou-se.
Sempre nos pareceu interessante fazer cruzamentos de
vontades e aproveitar recursos e por isso foi tão natural propor ao Daniel a
formação deste “gabinete”.
Pedimos ao Marcos Mendes que desse uma “aula” inicial e
desafiamos uma serie de autores (uns efectivos e experientes, outros potenciais
e motivados) a pensar o tema para uma BD – curta necessariamente – que o Daniel
foi convertendo – nos tempos livres do estágio – em imagens e pranchas.
Alguns dos convidados ficaram pelo caminho, mas cinco textos
acabaram mesmo por se converter em cincos bandas desenhadas. Para quase todos
foi praticamente a primeira experiência em BD: de um lado estavam um escritor
consagrado, um jornalista experimentado, um dramaturgo/encenador vivido, uma
médica entusiasta e uma quase antropóloga empenhada; do outro um jovem e
talentoso desenhador/autor.
Passaram três anos desde o primeiro encontro. Hoje sente-se o
desejo e o empenho colectivo para que “aquela” palavra se torne apenas numa
recordação triste e longínqua. Assim sendo o “Gabinete” passaria a ser um
assunto encerrado, e revisitar aqueles dias e aquelas temáticas seria
inoportuno, despropositado, contraproducente, até. Nada mais errado.
Estas cinco crónicas relatam terramotos interiores que
abalaram rotinas e que se transformaram em novas rotinas. Cada uma destas
histórias ainda respira, está ainda nas ruas, nas casas, nos transportes, nos
serviços e por isso o sentido artístico da experiência que foi esta criação
ainda tem a mesma frescura inicial. Se não temos hoje lugar para um gabinete,
temos por força que assegurar o espaço para a memória
Os balanços finais, os saldos de deve e haver próprios
destes tempos não cabem aqui, mas precisarão de livros de assento para que se
possam fazer. Que Memória da Crise seja então o novo título deste livro, e que
ele possa contribuir para contar as estórias da nossa história.
Júlio Eme e Elisa Santos
Memória da Crise
Jorge Marmelo, Elisa Santos, Ricardo Alves, David Pontes e Margarida
Mesquita (argumentos)
Daniel Casal (desenho)
Turbina
Portugal, Maio de 2017
165 x 210 mm, 40 p., pb, capa mole
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
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