15/08/2017

Elogio da continuidade (II)

  
Também continuam...

A introdução é (quase) a mesma da primeira vez que abordei desta forma o tema, para focar “a importância da continuidade das séries em publicação. Durante anos - décadas - um dos grandes problemas de quem comprava álbuns de BD no nosso país era a incerteza quanto ao futuro de uma série. São dezenas os exemplos que se podem apontar de colecções que se ficaram pelos volumes 1 e/ou 2 - ou, pior ainda, pelo 5 e o 12 ou o 3 e o 8… Os anos recentes têm trazido alguma mudança, também - inevitavelmente? - neste aspecto e vou citar aqui três exemplos - e felizmente há bastantes mais”.

Lucky Luke #16
O Tesouro dos Dalton
Vicq (argumento)
Morris (desenho)
A par das Novas Aventuras de Lucky Luke e das histórias curtas do jovem Kid Lucky, a ASA propõe-se “gradualmente completar a colecção do lendário cowboy que disparar mais rápido do que a própria sombra!”, uma das poucas que mantém no seu catálogo.
Este ‘regresso’ acontece com uma das melhores (ou menos más?) histórias do período pós-Goscinny - por cá já baptizada como O Esconderijo dos Dalton, na edição da Meribérica - centrada na enésima fuga dos Dalton - e na consequente perseguição de Lucky Luke - que, num argumento com alguma originalidade, explora a maldade e a imbecilidade dos quatro irmãos, e a sua vontade de, ao contrário do habitual, quererem invadir uma penitenciária, em vez de se evadirem dela, conseguindo alguns momentos bem-humorados.
ASA
Portugal, Junho de 2017
225 x 300 mm, 48 p., cor, capa dura
11,90 €


Princípe Valiente (1963-1964)
La Hora de Arn
Harold R. Foster
Não é edição portuguesa, pelo menos na sua completa acepção, mas penso que merece igualmente um ‘elogio pela continuidade’.
Há 12 anos, Manuel Caldas começou a cumprir um sonho: uma edição cronológica cuidadosamente restaurada do Príncipe Valente na sua língua natal, o português.
Razões - razões? - que agora não vêm ao caso, obrigaram-no a pará-la ao fim de poucos volumes, mas Caldas continuou a sonhar - primeiro em espanhol, agora em uruguaio...! - e a obra da vida de Foster, transformada também em obra da sua vida - continua a surgir aos olhos de algumas centenas de leitores fiéis em todo o seu esplendor gráfico - porque a sua qualidade literária, a sua coerência, a aventura em que ela se baseia, a par do humor, do suspense, da vida familiar, da variedade temática nunca se tinham perdido.
Na sequência do volume anterior - mas com maior proeminência neste, realçando também assim o humanismo dos intervenientes ao obedecerem à lei natural da vida, Val cede (parte d)o (seu) protagonismo a Arn que desta forma, tal como o pai no início da série, começa a traçar o seu próprio caminho.
La Imprenta
Uruguai, Maio de 2017
260 x 340 mm, 112 p., pb, brochado
US $35,00 / 25, 00 €


Southern Bastards #3 - Regressos
Jason Aaron (argumento)
Jason Latour (desenho)
Esta é, possivelmente, a melhor serie da G. Floy - e há muito por onde escolher no seu catálogo.
Narrativa dura - ajuste de contas? - do argumentista com o seu sul natal, com a sua violência, intolerância e auto-flagelação, continua a acompanhar o quotidiano do condado de Craw, desta vez centrado no incontornável futebol e na chegada da filha do malogrado Earl Tubb.
Entre os (muitos) fantasmas do passado e o presente que para os leitores parece nunca mais chegar, Southern Bastards, muito bem escrita e igualmente bem desenhada, de forma dura e agressiva, só apresenta um senão: em breve vamos apanhar a edição norte-americana e depois os ‘elogios’ à sua ‘continuidade’ vão ser mais espaçados…
G. Floy
Portugal, Junho de 2017
175 x 260, 160 p., pb, capa dura
11,99 €

(imagens cedidas pelas editoras; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

8 comentários:

  1. Dário Duarte15/8/17 14:14

    Certo, mas o Valente não está editado em Português. O que aconteceu a essa colecção e porque não se fala nisso?

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    1. Tens razão, Dario, o Príncipe Valente não está editado em português, como o texto diz e também explica o porquê da sua inclusão aqui.
      Quanto à edição portuguesa, de forma sintética, pode dizer-se que alguém achou que tinha descoberto a galinha dos ovos de ouro - algo que não existe no que diz respeito à edição de BD em Portugal - e decidiu apoderar-se do que era uma edição a dois. Como ambos tinham razões, a questão acabou em tribunal que, muitos anos depois, como é normal neste país, tomou uma decisão. Possivelmente tarde demais para voltarmos a ver o PV em português... Infelizmente.
      Boas leituras!

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    2. Dário Duarte16/8/17 08:24

      Obrigado pela resposta. Ainda assim gostava de ver esse caso divulgado com mais detalhe, uma vez que até há decisão de tribunal e tal. É que houve pessoas que investiram nessa colecção e que de repente ficaram com a mesma incompleta e sem informação alguma sobre se a mesma seria retomada algum dia e a razão destes problemas.
      E Boas leituras para ti também!...

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  2. "vamos apanhar a edição norte-americana e depois os ‘elogios’ à sua ‘continuidade’ vão ser mais espaçados…"

    Isso nao e problema pior e a desfazem de Star Wars e Darth Vader da Planeta curiosamente em Espanha editam tambem os Southern Bastards..

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    1. Podes explicar melhor isso da planeta? Não percebi nada...

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  3. Que os hc estao muito atrasados Star Wars acabou de Sair o volume 5,e Darth Vader já iniciou a 2a serie nos usa tendo a 1a completada em 4 volumes,e Southern Bastards vai no volume 3 de 3,em Espanha.

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  4. Pedro, podes indicar qual foi a decisão do tribunal? Ou se souberes, um link para essa decisaõ?

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  5. A primeira coisa que li do Jason Aaron foi Scalped e este Southern Bastards consegue ser melhor que essoutro título. A manter a qualidade, espero que tenha tantas trades como Scalped.
    Eu posso esperar algum tempo pelo volume seguinte.

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