Adaptações (I)
A adaptação de uma obra a outro suporte narrativo, para ser
conseguida, implica -incontornavelmente - dois aspectos: fidelidade ao espírito
do original e a sua adequação ao novo meio.
O Diário de Anne Frank
(ontem) e Serviço Secreto: Kingsman (hoje)
são dois exemplos recentes, embora díspares.
O Diário de Anne Frank
é uma daquelas obras incontornáveis no panorama da literatura mundial, não só
pelo seu lado emocional - Anne foi uma refugiada judia que viveu escondida
durante cerca de 2 anos na Holanda, com a sua família e mais algumas pessoas,
até ser descoberta pelos nazis e enviada para um campo de concentração, onde
viria a falecer - mas também pela maturidade narrativa que ostenta - e que
impressiona se tivermos em conta que a autora era uma adolescente de 13, 14
anos ao tempo da sua escrita.
Isso só dificultava a sua adaptação a um novo suporte, a
banda desenhada. A agravá-la, ser uma iniciativa institucional e,
principalmente, o registo de diário pessoal íntimo, que condicionava o
dinamismo que uma banda desenhada exige.
O trabalho desenvolvido por Ari Folman e David Polonsky
denota esses factores, com algum desequilíbrio no todo. Quando o desejo de
manter o (rico) texto original prevaleceu - e há páginas que são só ilustradas,
a leitura torna-se mais pesada e afasta-se do objectivo original de adaptar a
BD O Diário de Anne Frank: aceder a
leitores com poucos hábitos de leitura – embora esta premissa seja (altamente) questionável
e a sua discussão nos pudesse levar muito longe…
Em claro contraste com aquela situação, quando se deixou prevalecer
o lado gráfico, foram conseguidas páginas que chegam a ser brilhantes pelas
soluções encontradas para traduzir em imagens pensamentos, alusões e os
momentos em que Anne dá curso à sua imaginação.
Se me parece que a esta edição falta uma introdução que
situe o leitor (hoje menos informado e conhecedor da realidade do que no tempo
da publicação original do Diário…) no
contexto narrativo da II Guerra Mundial em geral e da perseguição aos judeus
levada a acaba pelos nazis em particular, a adaptação - fiel ao espírito
original, mas com as condicionantes apontadas - tem de ser considerada
conseguida e a leitura - fundamentalmente para quem desconhece o original - é
claramente aconselhada.
O Diário de Anne Frank
Ari Folman (argumento)
David Polonsky (desenho)
Porto Editora
Portugal, Setembro de 2017
203 x 280 mm, 160 p., cor, capa dura
ISBN:978-972-0-04044-2
18,80 €
Estive hoje com ele na mão.... Decidi não comprar. Não pela obra, nem pela sua temática, mas simplesmente por ter muito para ler (não só bd) e...
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