10/04/2018

I.R.$ #4: Corporate America/Guerra negra


Com a cabeça fora de água






Depois de um início prometedor, a série I.R.$, em minha opinião afundou-se.
Com este quarto tomo (duplo), Corporate America/Guerra negra, parece voltar a colocar a cabeça fora de água.

A apresentação do agente fiscal do I.R.S. norte-americano, Larry Max, até tinha corrido bem, mas nos volumes 2 e 3 da actual colecção ASA/Público, sobressaiu o que a série tem de pior. Por um lado, o traço de Vrancken que, ao libertar-se da base fotográfica que era a sua imagem de marca inicial, perdeu os seus modelos, a noção das proporções e o equilíbrio que (ainda) ostentava, chegando a ser penoso apreciar algumas das suas páginas.
Por outro lado, se os argumentos de Desberg desde logo perdem um pouco pela tentativa de enriquecimento que leva a incluir demasiada informação e a multiplicar as referências, isso nos tomos citados agravou-se pela criação de situações pouco interessantes e algo confusas.
Agora, no díptico Corporate America/Guerra negra, a continuidade da série parece dar frutos. A imagem de marca - gráfica - de I.R.$ surge mais equilibrada e definida; é esta - goste-se mais ou menos (ou nada) dela. Por outro, Desberg volta a acertar a mão numa intriga credível e suficientemente consistente, baseada na especulação em bolsa e nas guerras em torno do preço do petróleo a nível mundial. Em simultâneo, numa história multifacetada, que vai decorrendo, alternadamente, em diversas épocas e lugares, explora o passado de Larry e a sua ligação com o pai e abre completamente o jogo sobre a verdadeira identidade de Gloria, a ‘paixão’ telefónica do protagonista.
A forma como esta dupla prosseguiu as aventuras deste ‘James Bond’ do fisco, a apreciar nos volumes seguintes, definirá o interesse que, globalmente, esta série merece - ou não.

P.S. - Numa época em que se fala tanto de pouca edição franco-belga e de demasiada edição americana, séries como I.R.$, à imagem de edições actualmente existentes no nosso mercado, mostram como aqueles conceitos de ‘origem’, fazem cada vez menos sentido. Diminuam o tamanho de I.R.$ e coloquem-lhe dois nomes americanos na capa, e ela passará perfeitamente por ser originária dos EUA. Ou façam o contrário a algumas edições da G. Floy, para terem criações franco-belgas.
Menos atenção aos rótulos e mais às obras em si...

I.R.$ #4: Corporate America/Guerra negra
Desberg (argumento)
Vrancken (desenho)
ASA+Público
Portugal, 21 de Abril de 2018
240 x 320 mm, 96 p., cor, capa dura
11,90 €

(pranchas da versão original francesa; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua expansão)

3 comentários:

  1. Caro Pedro

    Relativamente ao seu PS, julgo que um dos maiores problemas da BD franco-belga que se publica actualmente é que se afastou bastante dos modelos dos anos 40-90 do século XX e "americanizou-se" e "manganizou-se" bastante, perdendo muita da sua personalidade.

    Menos mal que a Levoir vai apostar em BD italiana; vai ser certamente uma lufada de ar fresco para quem aprecia BD europeia.

    Já agora, que BDs da G. Floy se assemelham às franco-belgas?

    Cumprimentos
    GP

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    Respostas
    1. Caro GP,
      Concordo consigo, embora pense que esse problema de 'globalização' da BD, não é exclusivo da produção europeia, estende-se a todos os géneros.
      E é como fruto dessa mesma 'globalização' que penso que títulos da G. Floy, como O Cemitério dos Esquecidos (http://asleiturasdopedro.blogspot.pt/2018/02/o-cemiterio-dos-esquecidos.html), Imperatriz ou até The Wicked+The Divine (mais graficamente) poderiam 'passar' por franco-belgas.
      Acima de tudo, com o que escrevi, quis pedir aos leitores de BD - genericamente - que não se prendam a géneros ou origens, mas se deixem surpreender por propostas fora da sua zona de conforto - que às vezes não estão assim tão fora...
      A colecção Bonelli, europeia sim, mas bem diferente do 'modelo franco-belga', é um bom exemplo neste sentido.
      Acima de tudo... boas leituras!

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  2. Do meu lado, as minhas "reclamações" (note-se as aspas) não são relativamente à "origem" da BD mas sim à "temática". Ou seja, eu estou cansado da temática SuperHeróis. De resto, a origem da BD é-me indiferente. Se achar que vou gostar, compro.

    Refiro que a série IRS (que apenas tinha lido o tal album duplo anteriormente editado noutra coleção), não me atraía por aí além. Mas acho que albuns duplos de capa dura a 11.90, são uma boa compra.


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