O
interesse de uma colecção como esta, que a ASA dedicou ao Spirou de
Franquin - um pouco à boleia dos magníficos intégrales
que há uns anos a esta parte se multiplicam no panorama editorial
francófono - vai mais além das simples histórias em si ou da
possibilidade
de
(re)descoberta
das grandes aventuras do protagonista.
Dois
álbuns como estes, especificamente, valem pelo trabalho de (nalguns
casos quase) arqueologia que esteve na sua origem (francófona…)
e
permitiu recuperar as primeiras aventuras de Spirou e Fantásio
assinadas pelo seu melhor intérprete ou histórias de menor dimensão
que geralmente se ‘perdem’ como narrativas secundárias no final
de álbuns ou até nem sequer se encontram já neste formato.
A
planificação - cinco tiras por página, três vinhetas por tira,
quase sem excepções - o traço já vivo e muito dinâmico, mas
ainda incipiente, e os argumentos, claramente escritos ao correr da
publicação, sem grandes linhas mestras orientadoras de base,
divertidos
e com bastante nonsense mas igualmente com
muitos clichés - as vantagens do empreendedorismo, a herança do tio
desconhecido, as
aventuras
africanas,
o sábio louco, os autómatos em particular e as invenções em
geral, a
abordagem (inesperada) ao
western, … - espelham um autor ainda à procura (do melhor) de si
próprio, embora os alicerces já sejam reconhecíveis nestas
obras
- e mesmo um género narrativo ainda
em fase de definição. Veja-se, por exemplo - embora seja mais
perceptível num edição sem cor - a forma como Franquin já
trabalhava tão bem o uso de silhuetas negras de forma tão
contrastada, técnica
que muitos anos mais tarde estaria na base das suas fabulosas Ideias
Negras.
Para
alguns, estas leituras, hoje, revelar-se-ão desinteressantes porque
demasiado datadas. Para outros, será com horror que afastarão o
livro, ao ver a facilidade com que a violência é usada, o
tratamento dado a alguns animais ou o retrato estereotipado dado aos
negros africanos que figuram em A
Herança
ou
em Spirou
e os Pigmeus -
e que se afasta pouco dos (bem mais mediáticos) negros de Tintin
no Congo.
Para outros ainda, os que mais desfrutarão com estes álbuns, será
um prazer descobrirem - ou recordarem - os primeiros passos - melhor
teria sido escrever ‘corridas desenfreadas’
- de Spirou e Fantásio nas mãos de Franquin e perceber como a série
- sem renegar as suas origens - cresceu, se desenvolveu, se foi
afinando em termos gráficos e narrativos, até se tornar uma
referência incontornável.
Nota
1
Evidentemente,
de um simples ponto de vista cronológico, estes
dois livros deveriam
ter sido os
primeiros
da colecção. Pelo atrás exposto, teria sido um erro em termos
comerciais e, possivelmente, a garantia de fracas vendas dos
seguintes.
A
alternativa da numeração não corresponder às datas de presença
nas bancas, teria sido viável - embora fonte de alguma confusão -
apesar de, devido ao número fixo de páginas por volume, ter havido
necessidade de alguns ajustes na ordem cronológica das histórias.
Na
prática, o que realmente interessa, é que estas são (mais) duas
edições muito interessante, no seio de uma colecção bem
conseguida graficamente, que espelha mais uma vez o bom momento
editorial da BD no nosso país.
Nota
2
As
histórias contidas nestes dois volumes agora editados foram lidas
por
mim aqui
e ali, em
várias edições,
nomeadamente nos álbuns Spirou
e Fantásio #3 - Os Piratas do Silêncio e
#17: A Herança (edição
ASA/Público,
2007) Spirou
et Fantasio L’Intégrale #1 e #2
(Éditions Niffle Cohen, 2000) e Spirou
e Fantasio Intégrale #5 Mystérieuses créatures
(Dupuis, 2008) e o texto acima escrito a partir delas e
não da versão actualmente em curso.
Spirou
e Fantásio de Franquin
#10
Os
Chapéus pretos e outras aventuras
Franquin
ASA/Público
Portugal,
19 e 26 de Junho de 2019
212
x 292 mm, 120 p., pb, capa dura
11,90
€
Saíu um novo livro BD pela gradiva.
ResponderEliminarAgradeço a colaboração que tem prestado, mas este não consegui identificar... Não sabe o título ou autores, por acaso?
EliminarObrigado.
Boas leituras!
Foi um erro meu. Peço desculpa. Precipitei me e nao vi a dats de publicação. Era uma reposição "a conspiração a história secreta dos protocolos dos sábios de Sião de Will Eisner. De 2005 e 2 edição maio de 2019.
ResponderEliminarSem problema!
ResponderEliminarBoas leituras!