10/05/2022

À procura de Anne Frank

In memoriam




Preservar a memória é fundamental, para que acontecimentos marcantes ou trágicos não sejam esquecidos e nunca mais se repitam. Um deles é o holocausto nazi interpretado pelos nazis na II Guerra Mundial e que alguns - cada vez mais e sempre demasiados - tentam branquear ou mesmo negar.

À procura de Anne Frank, já disponível nas livrarias portuguesas, é a versão em banda desenhada do filme de animação homónimo que estreou no passado dia 5, que evoca Anne Frank, a adolescente judia que viveu longos meses escondida com a sua família num sótão na Holanda, durante a II Guerra Mundial, tentando assim escapar à matança selectiva de levado a cabo pelos nazis. Uma vez descoberta, foi enviada para um campo de concentração onde viria a falecer, e o que vivenciou só foi conhecido anos depois, quando foi encontrado o seu diário.

O ponto de partida da obra, na actualidade, é a inauguração de uma exposição dedicada à jovem, na casa onde ela viveu, onde entre outros objectos está o seu diário. Quando este desaparece, tudo aponta para Peter, um jovem carteirista que passou por lá, mas a verdade é que o livro tomou vida sob a forma da adolescente Kitty - o nome com que a jovem escritora o baptizou.

A partir desse momento, a interacção, nem sempre fácil, entre esta última e Peter, permite a Ari Folman e Lena Guberman evocarem a história original de Anne Frank e, ao mesmo tempo estabelecer paralelismos entre o que foi vivido no início da década de 1940 e alguns aspectos da actualidade: a desconfiança em relação aos estrangeiros ou diferentes, os preconceitos, a intolerância...

Com uma assinalável concisão ao nível do texto, que dão aos desenhos espaço para respirarem e assumirem o protagonismo na narrativa, o facto de À procura de Anne Frank utilizar o grafismo agradável e muito legível da animação, com um toque de manga ao nível dos olhos e das poses, torna este livro ideal para iniciar as novas gerações numa temática sempre incómoda e complexa.

Para mais, porque houve por parte de Folman - ao contrário do que aconteceu na sua adaptação de O Diário de Anne Frank, também disponível em edição portuguesa - bastante contenção na explanação dos factos históricos, para não tornarem demasiado pesada a leitura, mas deixando as pistas suficientes para os leitores mais curiosos poderem aprofundar o tema.


À procura de Anne Frank
Ari Folman (argumento)
Lena Guberman (desenho)
Porto Editora
Portugal, 21 de Abril de 2022
203 x 280 mm, 160 p., cor, capa dura
18,80€

(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias online de 29 de Abril de 2022 e na versão em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Porto Editora; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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