22/05/2023

Curtas (III)


Sob o signo da morte

Desta vez sem recurso ao intróito que me serviu nas anteriores entradas sobre bandas desenhadas curtas, agrupo três das minhas mais recentes destas leituras sobre o signo da morte.

Curiosamente, uma frase que li já não sei onde há muitos anos, que me ficou na memória e que de forma recorrente, embora espaçada no tempo, vou encontrando, dizia que só podemos ter certeza de duas coisas: da morte e dos impostos. Se a estes há sempre uns quantos chicos-espertos que lhes vão escapando, aquela continua incontornável.

Pelo peso que ela tem em especial na (ainda omnipresente e omnipotente) religião católica, pela forma trágica e tantas vezes histérica como é encarada da nossa sociedade, sempre me surpreendeu como Maurício de Sousa conseguiu incluir alguém como a Dona Morte nas suas criações; com humor, sim, mas também com compreensão pela sua missão trágica, com algum carinho até pelo que ela provoca, mas sem deixar de mostrar o acto em si e as suas consequências, aceites naturalmente ou quando o alvo do momento tenta fugir-lhe a qualquer custo.

É essa Dona Morte que volta a estar presente no Almanaque da Turma da Mônica #10 (Panini Brasil, 2022) que, a par de um sumário rico em diversidade e protagonistas, mostra com toda a naturalidade a dita cuja a enviar mais um para o Além...


Isso acontece também com outro peso, outra dimensão e outro impacto - e sem humor… - na Turma da Mônica Jovem #12 (Panini Brasil, 2022) com a partida de uma personagem que teve alguma importância nos últimos registos. O relato é mais longo, mais denso e mostra mais uma vez a dor da partida, sempre inevitável, mas contrasta com a mensagem que tenta passar: incontornável, sempre dolorosa, a morte deve ser também um momento para relembrarmos o que de bom deixou quem parte e a herança, não material mas espiritual, emocional e social que deixou. A temática é importante embora possa custar a aceitar.

[Ainda nesta edição da Turma da Mônica Jovem, uma nota para o relato final, pela curiosa combinação entre referências e o universo (literalmente) que vão bem para lá do da Turma adolescente e do próprio universo expandido de Maurício de Sousa.]


Termino esta trilogia de curtas - se assim me deixam escrever - com uma descoberta recente: vários números do Almanaque do Faroeste, em que a morte, inevitavelmente numa publicação dedicada ao western, está presente com toda a sua violência e falta de humanidade, quase página após página, de forma efectiva, tentada ou apenas sublinarmente.

Nestes género, por vezes, a quantidade de falecimentos acaba por retirar impacto e importância ao momento funesto mas, curiosamente, atendendo a que falamos de uma publicação dos anos 1980, o que se destaca nela são duas séries - apaixonantes - norte-americanas, com protagonistas com um anacrónico humanismo se pensarmos no género: Wes Slade e Matt Dillon. São dois westerns diferentes, atípicos, que reencontrei aqui depois da sua leitura profusa no Mundo de Aventuras, em que o lado humano e tudo o que lhe está associado surge em primeiro plano.

Numa publicação que também deu espaço a autores brasileiros, quase sempre ainda num nível iniciante inferior, não posso fechar esta breve nota sem referir séries como o Rei da Polícia Montada, Cisco Kid, O Homem de Ricmond ou Welcome to Springville, esta última com a assinatura de Berardi e Milazzo.

É verdade que o tempo deixou marcas indeléveis no tipo de edição (formato, papel, impressão…) mas o (invulgar) conjunto de histórias presentes nos seus sumários, vale bem ultrapassar alguns preconceitos e perder algum tempo a procurar a colecção.

(capas disponibilizadas pelas editoras; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

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