Franjinha: Contato

Crescimento(s)

Depois de uma tímida - e inconsequente - experiência (?) há alguns anos, há nova tentativa de distribuir em Portugal as Graphic MSP, o selo editorial dedicado a publicar versões de autor das personagens criadas por Maurício de Sousa.
Depois de Anjinho: Além, em Março último, este mês te(re)mos direito a dose dupla, com este Franjinha: Contato e com Denise: Arraso (a que conto voltar em breve).

Alguns, poderão queixar-se - nestas coisas há sempre quem se queixe… - de se tratar de versões de personagens de segunda linha ou menos até, mas a verdade é que tem sido muitas vezes com eles que este selo editorial tem proposto as obras mais interessantes e desafiadoras, pois conseguem mostrar o potencial e qualidades que eram pouco visíveis ou menos evidentes - possivelmente por isso mesmo… - nas histórias originais de Maurício de Sousa. Para além disso, falamos de títulos recentes (os volumes #32, #33 e #34 do selo que conta até hoje 36 tomos em quase 11 anos), que previsivelmente menos leitores portugueses terão obtido através de amigos ou da Casa da BD, que costuma importá-los.

Fica o desejo de que uma vez supridos pelas distribuição em Portugal os títulos mais recentes, possa haver um recuo ao passado deste selo, para o manter presente nos quiosques e bancas nacionais que recebem mensalmente as edições da Marvel e da Turma da Mônica editadas pela Panini Comics brasileira.

A queixa atrás equacionada até fará menos sentido no caso de Franjinha, possivelmente o mais significativo após o quarteto peso-pesado da Turma da Mônica - a própria, Cebolinha, Cascão e Magali - ou não fosse o inventor do grupo até o mais antigo - a par de Bidú - daquele universo.

Para além da sua importância intrínseca, em Contato foi entregue a Vítor Cafaggi, autor de alguns dos títulos mais marcantes e significativos do catálogo MSP, nomeadamente Turma da Mônica: Laços e Turma da Mônica: Lições (que até originaram filmes live-action) comprovando a sua extrema sensibilidade e ternura para representar personagens na fase de passagem da infância para a adolescência, como já tinha demonstrado de forma brilhante e feliz em Valente, a sua criação mais pessoal.

Na verdade, é também de crescimento e passagem que nos fala este Contato, em que acompanhamos Franjinha naquela fase - de duração indeterminada - em que deixamos as coisas de criança e começamos a descobrir outras que nos farão desenvolver e tornar adultos: os primeiros amores, as mudanças físicas, a necessidade de abandonar os brinquedos para descobrir o que queremos fazer e/ou seguir o que os amigos fazem…

No caso de Franjinha, a par do platonismo idealizado da primeira paixão, o hesitar entre os sonhos utópicos de pequeno inventor, mesmo que genial, em favor de realidades mais concretas - mas geralmente menos compensadoras…

Numa história centrada num velho emissor de ondas curtas de rádio amador, através do qual Franjinha recebe um enigmático pedido de ajuda, e com um desfecho brilhante pela coerência e ternura que evidencia - reforçando os elementos base que Cafaggi adopta como seus a cada nova obra - este criador brasileiro conduz-nos com sensibilidade extrema, um traço extremamente agradável e expressivo, e um afecto e empatia tocantes por mais um passeio irresistível - e com várias referências a outras abordagens - pelo universo Graphic MSP em expansão a cada novo título.

Franjinha: Contato
Vítor Cafaggi
Panini Comics
Brasil, Julho de 2022
190 x 275 mm, 96 p., cor, capa cartão
R$ 39,90 / 10,00€

(imagens disponibilizadas pela Panini Comics e o editor Sidney Gusman; clicar nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)