Tardi será sempre Tardi, mas...
Porque,
por muitos que venham depois dele, que continuem o seu trabalho, o
copiem ou o homenageiem, Tardi será sempre o primeiro e o único e
(a sua) Paris será sempre Paris.
Mas
isso não invalida que outros a possam retratar e/ou continuar aquilo
em que ele foi pioneiro. E fazê-lo de forma competente e conseguida,
como acontece neste quarto volume do Nestor
Burma
pós-Tardi.
E fê-lo, até, de forma mais competente e conseguida que Moynot, que Tardi designou para seu sucessor na adaptação dos romances policiais de Léo Malet.
É óbvio que a referência gráfica - a que foi criada e desenvolvida por Tardi a preto, branco e cinza nas (suas) quatro primeiras adaptações - é a mesma, mas Barral, ao contrário do que até aqui fizera Emmanuel Moynot, revela um traço mais solto, menos rígido - menos preso até à referência base - conseguindo dessa forma propor uma leitura mais fluída e agradável, com as personagens centrais mais vivas e emotivas e melhor integradas na paisagem urbana parisiense e mais credíveis e dinâmicas aos olhos do leitor.
Inevitavelmente em Malet, o que começa de forma simples - no caso um pedido de informações sobre uma determinada personagem chinesa - acabará por sofrer um efeito de bola de neve e de diamantes roubados à luta pelo poder na Rússia bolchevique e estalinista, haverá de tudo em mais este romance desenhado, sem esquecer os cadáveres que se vão sucedendo à esquerda e à direita.
E porque o romance base o propiciava, porque já interiorizei as personagens de Malet ou porque Barral se saiu melhor das sua tarefa, este pareceu-me do duplo ponto de vista de explanação do argumento e do seu respectivo enquadramento gráfico, o mais legível dos quatro volumes que a Gradiva já propôs aos leitores portugueses.
Nestor
Bruma #4
Boulevard…
Ossada
Nicolas
Barral
Baseado no romance de Leo Malet e no universo gráfico de Jacques
Tardi
Gradiva
Portugal,
Abril de 2023
225
x 297 mm, 88
p., cor, capa dura
16,50
€
(imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar no texto a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
O meu problema com estas edições é o Moynot estar a imitar o estilo de Tardi e eu detesto isto, assimo como detesto quando fazem o mesmo com o Pratt naquela espécie de pastiche do novo Corto Maltese, podiam mudar de estilo de desenho, é irritante, sem prejuízo para as excelentes estórias policiais de Malet, que eram romances antes da adaptação para BD.
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